GEMIDOS NA NOITE

Halloween liberal na Spicy Club tem ejaculação feminina e ménage no glory hole com homem misterioso

Talyta Vespa (texto) André Nery (fotos) Do UOL, em São Paulo

Gabriela tem pouco mais de 1,60m, cabelos curtos e lisos acima do ombro. A franjinha contribui para a feição ninfeta, alcunha da qual se apropria quando produz vídeos transando com o namorado. Ele é Marcelo, um pouco mais alto, com cabelos castanhos, longos e ondulados.

O corpo dela, curvilíneo, é envolto num vestido vermelho aveludado. Era Halloween na Spicy Club, casa de swing em Moema, São Paulo, e Gabriela, a coelha que saiu da cartola do mágico Marcelo.

Observados por outros tantos casais curiosos, ainda tímidos para levar a pegação à cama gigantesca, forrada em couro preto, Gabriela e Marcelo se beijam. Ele a aperta contra seu corpo, a apalpa de cima a baixo. O casal é talvez o mais jovem (ela, 25, ele, 26) entre os clientes naquela noite — e um dos que mais chamam atenção.

Logo, se direcionam de mãos dadas a uma das quatro cabines, nos arredores da sala. Gabriela se senta no pequeno estofado de couro. Marcelo se ajoelha e começa a beijar seus pés, suas pernas, e sobe até suas coxas. Uma cena de sexo oral para todos verem.

A regra é clara: se estiver aberto à visita ou a eventuais companhias, é só deixar a porta da cabine aberta. É o que fazem.

A Spicy tem dois andares, e as regras de quem pode ou não adentrar cada espaço varia de festa para festa.

Aquela era uma festa liberal, o que faz a casa ser dividida entre singles [homens desacompanhados] e casais: os singles não podem entrar na sala destinada aos casais, mas os casais não só podem entrar na área dos singles como devem. E são esperados. A putaria rola mesmo no andar de cima, onde ficam as salas e outras 15 cabines.

A pegação entre Gabriela e Marcelo acontece na sala principal, destinada aos casais. Curiosos se debruçam um sobre o outro para observar o homem fazendo sexo oral na mulher. Ela, de frente para a porta, finge não saber que há pessoas se deleitando com seu prazer. Ela não demora a gozar, é só a primeira, para abrir o apetite.

Roça-roça com gogo boys

Enquanto isso, no andar de baixo, a festa de Camila rola solta. Adepta ao swing e à não monogamia, ela criou o grupo de swing Voluptas, onde fala sobre relacionamento liberal e organiza festas unindo membros e curiosos. Ruiva, de cabelos longos até o começo das costas, Camila é a atração da noite. Seus olhos variam entre verde e azul, a depender da luz.

É na pista abarrotada de corpos que Camila comemora seus 40 anos. Não demora para ela ser chamada ao palco por gogo boys sarados. Um deles, com o abdômen definido e as coxas grossas, lhe encosta numa barra de pole dance. Ele simula uma sessão de BDSM com um chicote e arranca a tanga, deixando o pênis à mostra, roçando-se todo no corpo de Camila. O público grita.

Sobe no palco, então, uma mulher negra, alta, com faixas de gaze enroladas nos seios e nos quadris, um tipo de fantasia erótica de múmia. Um acessório piscante no bumbum, pouco acima do ânus, completa o look.

Ela é Natália Iura, criadora de conteúdo erótico. Passa a interagir com um segundo dançarino, cujo pênis também balanga sem timidez para lá e para cá. Natália não tem dúvidas: se ajoelha e engole o membro do dançarino, numa ação rápida que surpreende até o profissional.

A cena é acompanhada pelo marido, Bruno, 41, com um semblante orgulhoso, deixando claro que, ali, não há ciúme.

'Safada ela'

A noite só começou. Na pista, casais fitam seus alvos, como um jogo de caça. A regra é implícita, mas funciona: o primeiro approach é entre mulheres. Elas se olham, dançam juntas, às vezes se beijam e só depois conversam sobre como (e se) vai rolar a participação de seus respectivos companheiros.

O aniversário de Camila reuniu nichos diversos do swing: nesta noite, há os cuckolds (que têm fetiche em serem cornos), adeptos ao BDSM, fetichistas em geral, produtores de conteúdo e baunilhas (que preferem o sexo fofinho).

Natália e Bruno decidem subir já no meio da madrugada - ela com uma mulher morena, 1,60 m, voluptuosa e fogosa, como Natália a descreve. Bruno não participa.

A pegação entre as duas é tão forte que dura horas. Entre línguas e dedos, a mulher chega ao orgasmo algumas vezes. Natália é dominadora, e a mulher permite que ela a domine por completo. Ela chega ao orgasmo algumas vezes, ejacula de fato e, ao fim do ato, apelida Natália de demônio. "Safada ela", conta Nat.

Na sala principal, a chupação entre os casais começa com os meninos encostados na parede, observando a suruba generalizada na camona. O tesão cresce tanto que entram os quatro em uma das cabines. Gabriela começa um sexo oral na garota enquanto vê Marcelo e o outro cara numa pegação forte.

Gabriela senta sobre o homem, e Marcelo penetra a mulher, que se inclina, deixando os joelhos sobre o assento. Todos se olham, interagem e se derretem, até chegarem ao orgasmo. Ao fim daquela interação intensa, eles se vestem e saem da cabine. Precisam de ar.

A mulher caminha até o banheiro quando é surpreendida por uma mão desconhecida sob seu vestido. Um single a assedia na cara dura. Seguranças são acionados, e o homem, expulso. "Quando esse tipo de coisa acontece, o CPF do cara é cancelado dentro da casa. Ele é proibido de entrar de novo", explica Gabriela.

O assédio cortou a vibe do casal amigo. Já são quase quatro da manhã, e eles decidem ir embora. Mas Gabriela e Marcelo seguem firme no propósito de deixar a Spicy com o dia claro. Caminham um pouco mais pelos ambientes e decidem entrar na polêmica ala dos singles.

Pênis sem rosto

Entrar na sala dos singles pela primeira vez é um pouco assustador. É similar à sala dos casais, mas menor. A cama, uma versão mais compacta da camona do espaço vizinho, fica bem no centro do quarto. O teto é espelhado e há cabines ao redor. A sensação esquisita vem dos olhares penetrantes dos singles sempre que uma mulher, acompanhada ou não, surge no espaço deles. "A gente se sente um pedaço de carne. Mas depois acostuma", diz Gabriela.

Ela e Marcelo entram em uma cabine e abrem as portinhas dos glory holes, deixando claro que estão abertos a estímulos externos dos homens. Gabriela começa a fazer sexo oral em Marcelo, e logo um pênis surge no glory hole ao lado. A regra do buraco sagrado, ela explica, é deixar o pênis rígido antes de inseri-lo no vão. "Pau mole no glory hole é falta de respeito."

"Gosto de fazer ménage pelo glory hole pela fantasia de não saber quem está me comendo. Quem é o dono daquele pau. O que me irrita é quando o cara mete a cara no buraco; acaba com a minha graça", ela conta. Não foi o caso naquela noite.

Depois de fazer sexo oral num pênis desconhecido, ela faz um malabarismo para se encaixar no vão e conseguir ser penetrada. Encaixada, ela chupa Marcelo. O trio segue no malabarismo por alguns minutos até o namorado ter um orgasmo.

O casal deixa a cabine da sala dos singles sem olhar para o lado para não romper a fantasia. Amanhece em São Paulo, a pista da Spicy já está quase vazia e as salas seguem o mesmo destino. Entrariam em ação, então, os faxineiros para higienizar a casa até a próxima festa, que começa em poucas horas, ainda naquele dia.

SERVIÇO
Spicy Club:
Alameda dos Pamaris, 42, Moema; tel.: (11) 97846-9790. Funciona de quinta a domingo. De quinta e sexta, o horário é das 17h às 6h. De sexta e sábado, das 22h às 6h. Aos domingos, a casa funciona das 6h às 16h20. Valor do ingresso antecipado: mulher R$ 60 (consome R$ 60); casal R$ 200 (consome R$ 100); homem R$ 300 (consome R$ 100). Valor do ingresso na porta: mulher R$ 60 (consome R$ 30); casal R$ 200 (consome R$ 50); homem R$ 400 (consome R$ 100).

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