Eu comia MPB com farinha. Minha mãe me fazia ouvir de tudo.
É nas memórias da infância em Nilo Peçanha, interior da Bahia, que Tierry encontra suas principais referências, enquanto se prepara para o futuro.
"Meu avô era apaixonado pelo forró de Luiz Gonzaga e de Dominguinhos, pelo sertanejo de Zezé Di Camargo e Luciano, e de Milionário e José Rico. Minha mãe sempre cantou muito, chegou a ganhar prêmio. Gosta de Chico Buarque, Caetano, Lô Borges, Quarteto em Cy... Eu ouvi demais, Nossa Senhora!".
A inspiração para compor, no entanto, veio de figuras que Tiehit —apelido que ganhou por emplacar tantos sucessos— classifica como "rebeldes geniais". Enquanto cantarola Bezerra da Silva, o baiano cita nomes como Belchior, Cartola, Carlinhos Brown e Odair José para explicar a origem de ideias que mais tarde resultaram em sucessos como "Rita", "Cracudo" e "Hackearam-me".
Eu ouvia muito Bezerra da Silva... 'Meu vizinho jogou uma semente no seu quintal'... 'Olha que eu mandei minha nega pro inferno e o diabo não quis aceitar'... Eu gostava da ousadia de falar essas coisas, sabe? Eu gostava de ouvir isso. Esses absurdos soavam para mim como algo rebelde, diferente, à frente do seu tempo. Isso já me seduzia.
Aos 31 anos recém-completos, consagrado como um dos compositores mais bem-sucedidos do Brasil nos últimos anos, ele agora diz estar um pouco mais "egoísta", dedicando-se à carreira solo como cantor. E admite também que, pela primeira vez, vai recorrer a outros compositores para dar uma renovada nos ares dos próximos trabalhos.
Com dois álbuns prontos, previstos para os próximos anos, Tierry divide a agenda entre ensaios, lives e um projeto inspirado em contos de grandes autores da literatura brasileira.
E a gente está falando de gente importante mesmo: Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade e Nelson Rodrigues são alguns dos escritores homenageados no EP de sofrência, ainda sem nome, que o baiano lança ainda este ano. A ideia veio do amigo e jornalista Leo Dias, que colocou Tierry em contato com o professor universitário carioca André Luís Júnior.
"O Leo me apresentou a um grande amigo dele, o André Luís Júnior, que é professor e amante da literatura, poeta. Ele falou para pegar essa minha sofrência e misturar com algumas obras da literatura brasileira, que a juventude que curte o meu som não conhece. Já temos três músicas prontas, serão cinco", conta Tierry, que adianta uma das obras homenageadas [leia a letra]:
Já compus sobre 'A Dama do Lotação', de Nelson Rodrigues. Uma hora o personagem fala: 'Você pode me trair, eu mereço. Só não me traia com alguém que eu conheço'. Isso mexe muito comigo. É algo que eu gostaria de ter escrito.
Estourado com mais de 1,2 bilhão de visualizações no YouTube e 4 milhões de ouvintes mensais no Spotify, Tierry bateu um papo com Splash para contar sua história, revelar seus segredos de hitmaker, relembrar o momento mais difícil da vida, quando o filho ficou por quatro meses em uma UTI. Agora, o músico comemora o sucesso: "Eu sabia que tinha alguma coisa guardada para mim na música quando subi pela primeira vez no palco com a Ivete".