Bienal, 70 anos #6: Samba, andar vazio e 'teste' de bondade nos anos 2000
Do UOL, em São Paulo
07/08/2021 04h01
O sexto episódio do podcast "Bienal, 70 anos", fala sobre os anos 2000 e conta como a Bienal mostrou samba no pé no Carnaval de São Paulo, além dos artistas que invadiram o Pavilhão e ainda a edição que ficou conhecida como Bienal do Vazio. Com apresentação de Marina Person, o podcast -- uma coprodução do UOL e da Fundação Bienal de São Paulo-- tem dez episódios. As publicações são sempre aos sábados e você pode ouvir o sexto episódio na íntegra no arquivo acima.
A 25ª Bienal, de 2002, tinha logo de cara uma obra bem curiosa: a instalação "Vazadores", do paulistano Rubens Mano. Uma espécie de passagem secreta que permitia o acesso à mostra sem pagar ingresso. Essa foi a última edição paga e quem encontrasse essa porta não passava pela bilheteria. A obra acabou criando um problema para a Fundação Bienal, que teve que repensar medidas de segurança para evitar que algo fosse roubado e instalou mecanismos de controle do fluxo de pessoas.
Esta Bienal do novo milênio teve curadoria do alemão Alfons Hug e ficou famosa pela numerosa presença de artistas brasileiros fora do eixo São Paulo/Rio de Janeiro. Com tema "Iconografias Urbanas", a ideia era debater a estrutura das cidades.
Pensando nisso, o baiano Marepe levou para a mostra um muro de sua cidade natal, Santo Antônio de Jesus, com o anúncio da loja onde seu pai e seu avô trabalhavam. A missão de levar o muro para São Paulo não foi nada fácil. Foi preciso cortá-lo e içar a estrutura com um guindaste, o que levou 5 dias de trabalho, fora o tempo do transporte de caminhão até São Paulo, em uma viagem de mais dois dias.
Outra obra marcante foi a "Rua de Mão Dupla'', do cineasta mineiro Cao Guimarães. O artista convidou pessoas que nunca tinham se visto para trocarem de casa umas com as outras, por 24 horas. Cada participante recebeu uma câmera de vídeo para filmar o que achava significativo daquele lar e depois descrever como era o morador da casa baseado no que viu. O resultado são imagens dessas pessoas "investigando" o território do outro e relatos sobre o que pensam ser o sujeito que habita aquele lar.
Em 2004, a Bienal invadiu o Carnaval e foi parar no Sambódromo do Anhembi. A escola de samba Nenê de Vila Matilde, uma das mais tradicionais de São Paulo, homenageou as grandes obras que foram expostas durante as edições da mostra com o samba-enredo "A Águia Voa Para o Futuro, Que Legal, É a Bienal no Carnaval! São Paulo 450 anos". Na passarela, tinha um carro alegórico da Guernica, de Picasso, e os atores da minissérie "Um só Coração", da Globo, que contou a história da criação da Bienal e da vida de Ciccillo Matarazzo e Yolanda Penteado. Uma participação especial no desfile foi a dos funcionários da mostra, que desfilaram com plumas laranjas e brilhos azuis inspirados na obra "Brasiliana", do artista Antonio Henrique Amaral. Os ensaios dos funcionários eram feitos no pavilhão da Bienal.
Na Bienal de 2004, a 26ª, também com curadoria de Alfons Hug, outra operação complicada de transporte foi feita. O ateliê do artista pernambucano Paulo Bruscky, seu lugar de criação e seu grande arquivo de arte, com mais de 70 mil peças entre livros, fotografias e obras, foi levado e remontado dentro do Pavilhão. Foi a montagem mais trabalhosa da Bienal, mas o ateliê de Paulo foi reconstruído igualzinho, inclusive com o mesmo piso, lustres e janelas. As pessoas andavam em meio às obras e coisas amontoadas e, às vezes, o artista ficava pelo local disfarçado.
A edição seguinte, a 27ª, em 2006, foi a que repercutiu os impactos do ataque às Torres Gêmeas, o maior complexo empresarial de Nova York, pelo grupo islâmico Al-Qaeda. Aqui, o tema eram as tensões mundiais. A curadora geral Lisette Lagnado extraiu o conceito desta Bienal de um conjunto de seminários do escritor e filósofo Roland Barthes, chamado "Como Viver Junto", levantando a discussão sobre possibilidades e impossibilidades de convivência. Logo na entrada da mostra, havia uma instalação feita por cercas e arame farpado em referência ao regime do apartheid, na África do Sul.
Já a de 2008, a 28ª Bienal entraria para a história como a Bienal do Vazio e foi uma das mais polêmicas de todas. Nesta edição, a instituição passava por uma grave situação financeira e se questionava sobre a atualidade do modelo de exibição. Os curadores Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen decidiram, então, deixar um andar do edifício vazio como forma de simbolizar o momento, uma metáfora da crise conceitual.
O ato rendeu críticas e acabou estimulando uma intervenção própria. No final do primeiro dia de exposição, um grupo de 40 jovens entrou no Pavilhão e, revoltados com o "espaço vazio", pichou paredes, janelas e pilares do prédio. Mas essa não seria a última vez que a Bienal seria pichada. A vontade desses jovens de se manifestar ainda teria novos capítulos --como você vai saber no episódio 7 do podcast "Bienal, 70 Anos".
Nesta edição, houve também uma programação de debates, exposição de arquivos da Bienal, vídeos e performances. Entre elas, a do artista plástico Maurício Ianês. O paulista se mudou para o Pavilhão por duas semanas, dormindo, comendo e sobrevivendo apenas da "bondade de estranhos'', nome que deu para essa performance. Maurício começou a exibição nu, mas aos poucos foi ganhando presentes dos visitantes. Sua obra, além de despertar a curiosidade, criou conexões entre ele e o público.
Além de muita história e curiosidades, este episódio do podcast traz entrevistas com o cineasta Cao Guimarães, a coordenadora de design da Bienal, Aninha de Carvalho Price, o artista Paulo Bruscky, o curador Ivo Mesquita e o artista plástico Maurício Ianês.
No décimo episódio, o podcast trará respostas para perguntas do público sobre arte e o evento. Mande sua dúvida para o email Bienal70@bienal.org.br, que ela pode ser respondida. Você pode ouvir Bienal, 70 Anos, por exemplo, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts, Amazon Music no Youtube e também no site bienal.org.br/70anos.