God of War
Mas "God of War" não é exatamente original. Seu principal acerto é um raro equilíbrio entre combates e quebra-cabeças, e ser magnificamente polido, bem-acabado, em todos os aspectos, seja nos quesitos técnicos ou artísticos.
Beleza grega
Logo na tela de opções, o estúdio de Santa Monica da Sony Computer Entertainment americana já abre sua caixa de ferramentas. Com opções para progressive scan em 480P e wide screen, a beleza visual ganha ainda mais força. E há também uma curiosa opção para suavizar as bordas dos pixels, em troca de alguma perda de nitidez em termos gerais.
Feita a opção de começar o jogo, o refinamento visual que norteia toda a aventura é apresentado ao usuário, com cenas de computação gráfica até que singelas, mas de grande valor artístico. Logo, o protagonista Kratos, um ex-guerreiro espartano, volta três semanas antes no tempo, no meio de um navio rumo a Atenas.
Novamente, logo nos primeiros combates, o jogador poderá perceber o que o aguarda nas cerca de 15 horas de entretenimento puro. A visão do jogo usa o tradicional sistema de terceira pessoa, com câmera dramática, localizada em pontos estratégicos com o objetivo de obter o ângulo mais apropriado dentro do cenário. "God of War" não cai na armadilha comum a esse tipo de trabalho de câmera, que geralmente faz desorientar o jogador, ainda que em alguns poucos momentos isso aconteça. Alguns poderão sentir falta de um maior controle da visão, mas essa limitação faz parte do desafio.
Se há algum ponto negativo em todo o trabalho visual do game é que, de vez em quando, a iluminação das cenas de computação gráfica não bate com a do jogo, em tempo real. Obviamente é um defeito mínimo dentro de um excelente trabalho.
Pelo jeito, a Sony percebeu seus méritos e não se inibiu em mostrar todo o processo nos extras. Há "making of" de quase todos os processos que envolveram a produção de "God of War" e, assim como os filmes de DVD incluem cenas deletadas, o game oferece a chance de ver as fases e designs que acabaram não entrando na versão final.
A mitologia na ponta dos dedos
O enredo conta a história de um ex-guerreiro de Esparta, uma cidade-estado grega, que busca vingança contra Ares, o deus da guerra na mitologia grega e razão do título do jogo. Versados no tema reconhecerão os mais famosos personagens dessa lenda, como Zeus, Artemis e Poseidon. Naturalmente, os inimigos vêm da mesma fonte, e monstros como ciclopes, minotauros, hárpias e outras criaturas lendárias serão um obstáculo a mais para o jogador.
O jogo não esconde sua vocação de atender ao público maduro, visto o nível de violência, sangue, nudez e até algumas situações sexuais. Mas todos esses elementos são suavizados com um quê de estilização e acabam não sendo tão chocantes como se poderia supor. No quesito violência e sangue, rivaliza com "Resident Evil", por exemplo. A nudez se verifica na fartura de seios a mostra, fato até um pouco raro em videogames.
Muitos desenvolvedores reclamam que o PlayStation 2 é um hardware difícil de explorar, mas a Sony, no alto de sua condição de arquiteta do aparelho, demonstra que ele deve muito pouco aos concorrentes GameCube e Xbox. O jogo traz imagens detalhadas e com alta taxa de quadros por segundo, ainda que, em determinadas situações, a velocidade fique instável, mas, mesmo assim, o fluxo da ação não é interrompida.
Mens sana in corpore sano
Como dito, "God of War" equilibra magistralmente os elementos de ação e raciocínio. O jogador possui diversos tipos de ataque e a animação é simplesmente fantástica, com todos os movimentos fluindo de maneira natural. Os golpes, em boa parte, são fáceis de realizar: os controles perdoam quase todos os deslizes de sincronia e mesmo quem nunca jogou um título desse tipo poderá batalhar como se fosse um mestre da espada.
Isso não significa que os jogadores exigentes estejam fora do escopo de "God of War". Para eles existem modos de jogos mais difíceis, que oferecem recompensas aos vencedores. A variedade de golpes não é tão grande assim, mas há muitos movimentos úteis.
Além de sua espada básica, Kratos ainda recebe diversos tipos de poderes celestiais, além de algumas outras armas. Todos esses elementos podem ser encaixados dentro de um combo, que, obviamente, quanto maior a combinação, maior o prêmio. O que se ganha são almas, que têm diversas funções como experiência, energia e magia.
"God of War" usa a criatividade para não cair na armadilha de ser um simples jogo de "amassar botões". Todos os inimigos podem ser mortos com golpes comuns, mas muitos (os maiores principalmente) têm a opção de serem exterminados com ataques sensíveis ao contexto, como um minigame de pressionar os botões ou girar o direcional como aparece na tela. Para quem conhece, ele é bem parecido com o QTE (quick time event) de "Shenmue". Com isso, o usuário consegue escolher as almas que deseja.
As batalhas são intercaladas com a exploração do cenário, que esconde baús atrás de paredes falsas ou portas, ou em outra localidade difícil de enxergar; e quebra-cabeças inteligentes que requerem contrapartida intelectual do jogador. Nem muito complicados ou simples demais, os quebra-cabeças sempre estão dentro do contexto, e variam entre o acionamento de uma simples manivela até a solução, gradual, de enormes salas cheias de pequenos enigmas.
O design das fases também é variado e oferece desafio na medida certa, sem ser linear demais nem aberta ao extremo. Geralmente, o personagem tem duas ou três rotas a explorar, além de algumas salas secretas com recompensas proporcionais ao esforço de descobri-las.
Um lugar no Olimpo
Kratos entra para a galeria dos heróis dos videogames, protagonizando uma aventura refinada e de equilíbrio primoroso, agradando tanto jogadores novatos como os mais experientes. Um dos poucos empecilhos é seu conteúdo violento ou sexual demais para pessoas sensíveis, mas, de resto, aproveite: a qualidade de "God of War" aparece só algumas vezes em cada geração.
Nota: 10 (Imperdível)
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.