Gradius Collection
Em 1985, "Gradius" ("Nemesis", à época, nos EUA) veio para engordar a lista de jogos de tiro clássicos, trazendo muita inovação. Mas, mais que as novidades, foi o sistema de jogo, que equilibrava dificuldade e desafio, que mais atraiu os fãs, que ainda hoje consideram os jogos da série alguns dos melhores da história. Agora, após mais de 20 anos, a Konami juntou cinco games da série - um deles inédito nos EUA - e compilou uma coletânea econômica, que é uma aula de como projetar jogos bem ajustados.
Originalidade à toda prova
"Gradius Collection" reúne as versões arcade de "Gradius" (1985), "Gradius II" (1988), "Gradius III" (1989), "Gradius IV" (1998) e um jogo original para PSOne "Gradius Gaiden" (1997). O jogo mais recente da série, "Gradius V", para PlayStation 2, infelizmente não foi incluído na compilação.
Quando o primeiro game da série foi lançado, causou espanto por subverter o paradigma da época. Os jogos de tiro, geralmente, tinham visão de cima, com a tela correndo na direção vertical, mas "Gradius" optou por uma visão lateral. É verdade que outros jogos já usaram do expediente, mas não ficaram tão famosos como o clássico da Konami.
A vantagem dessa visão é poder usar o ambiente como obstáculo - não que não pudesse ser feito em títulos de "scroll" vertical, mas não combinavam tão bem. Nesse quesito, "Gradius" misturou belos cenários com terrenos acidentados, obrigando o jogador a se preocupar tanto com o ambiente como os inimigos e seus ataques.
Mas, a maior característica do game é o seu sistema de "power up", ou seja, de melhoramento da nave: geralmente, em outros jogos de nave, eles adicionam automaticamente novas armas e itens. Em "Gradius", existem cápsulas especiais que fazem avançar um medidor especial com diversos compartimentos. Em cada um deles, há um "power up" correspondente.
Ou seja, para pegar o primeiro melhoramento, que geralmente é o "Speed" - ele aumenta a velocidade da nave -, basta pegar uma cápsula e apertar o botão correspondente. Nesse instante, a barra volta a ficar vazia. É possível, então, pegar mais uma cápsula para ativar outro aumento de velocidade ou fazer avançar a barra para opções mais interessantes.
As posições seguintes - a barra tem seis ou sete seções - são ocupadas por mísseis, tiro amplo, lasers, "options" e um escudo. Esse penúltimo item é outra característica da série. Com ele, sua nave ganha uma espécie de sombra, que segue sua nave, e faz os mesmos ataques. Como eles são indestrutíveis e atravessam os cenários, podem ser usados de forma estratégica, e acertar os inimigos que se escondem em locais de difícil acesso. O jogador pode ter até quatro "options".
Ou seja, com esse sistema de "power up", o game ganha um componente estratégico, cabendo ao jogador estabelecer prioridades. Você pode querer aumentar o poder ofensivo ou aguardar mais um pouco para pegar um escudo para se proteger melhor. O sistema foi tão marcante que poucos jogos tentaram copiá-lo. Mas, para quem não consegue lidar com a escolha dos "power ups" no meio de um tiroteio intenso, o game traz um recurso que escolhe automaticamente os melhoramentos.
Cinco em um
Naturalmente, o primeiro jogo, sendo um título de mais de 20 anos, é bastante simples para os padrões atuais. O som também denuncia sua idade, com aqueles "instrumentos" bem eletrônicos, típicos de consoles como o NES. Mas as músicas são uma das mais marcantes, como eram muitos dos clássicos da época.
Mas o jogo já dava uma amostra da mecânica de jogo e muitas das características que marcariam a série. Os perigos são muitos: naves espaciais, artilharias e robôs terrestres, além de perigos naturais, como vulcões, e artefatos artificiais, como estátuas que imitam as da Ilha da Páscoa, um tipo de fase recorrente na série.
O avanço para o segundo jogo, um dos melhores da coletânea, é estupendo, e mesmo pelos padrões de hoje possui gráficos bem detalhados e com cores vibrantes, ajudados pela excelente qualidade da tela do PSP. A trilha sonora, além de marcante, também tinha uma tecnologia muito melhor, incluindo vozes, um recurso e tanto para a época (1988).
Mas, além de tudo, traz fases muito bem planejadas, com uma variedade muito grande de situações. A primeira fase, que traz uma porção de pequenos sóis, e deles saindo dragões de fogo, é uma perfeita combinação de visual de grande impacto e equilíbrio de jogo, com ambientes bem projetados e colocação de inimigos em locais estratégicos. E cada fase é fechada com chefes impressionantes, como a fênix de fogo da primeira fase ou o olho gigante da segunda. Agora, há opção para escolher configurações de "power up".
O terceiro da série veio originalmente no final de 1989, sem a mesma evolução vista entre o primeiro e segundo jogos. Apesar de homônimo, esse "Gradius III" é da edição para arcade, muito diferente da versão que foi lançada nos primeiros meses do Super Nintendo. A qualidade do jogo ainda é consistente, mas já não se vê a mesma genialidade dos dois primeiros títulos. A música, porém, continua excelente e é um dos mais difíceis.
O próximo da franquia sairia apenas 1997, com "Gradius Gaiden", um capítulo exclusivo para o PSOne japonês. Agora, essa preciosidade - uma das melhores da série - está ao alcance dos americanos. Mais uma vez, o jogo combina cenários e inimigos variados, além de uma série de naves para escolher. No original, o jogo tinha opção para dois jogadores simultaneamente, mas na edição para PSP, esse recurso foi retirado.
O mais recente é "Gradius IV", que já traz sinais de modernidade, como gráficos em 3D - apesar de a mecânica de jogo continuar em 2D -, porém bem rústico. A troca de grafismo não foi boa idéia, pois perdeu muitos dos belos detalhes que a franquia costumava ter. Alguns efeitos são interessantes, mas a impressão é mesmo que perdeu um pouco da magia e o próprio jogo não está tão inspirado como os antecessores. Esse parece ter sido o episódio do "um passo para trás", pois a série voltou em todo o esplendor em "Gradius V", que, mais uma vez, não está nesta compilação.
Igual, mas adaptado
A complicação para PSP é basicamente igual aos jogos originais, mas traz alguns recursos extras. Um deles é um modo que amplia o campo de visão da tela, tornando os jogos mais "espaçosos" para os lados. Isso, naturalmente, muda o equilíbrio do jogo - em geral, fica mais fácil - e os puristas não deverão gostar nem um pouco. Nesse modo, ainda, há alguns erros de programação, como objetos que somem e aparecem de repente em outro lugar.
O jogador pode escolher usar toda tela, "esticando" os pixels, deixando uma impressão de estar "embaçado". Se estiver usando o aspecto de tela original (chamado de 4:3), o modo de tela cheia deixa os gráficos mais "achatados". Há uma modalidade que usa uma parte menor da tela, mas com definição é perfeita. Porém, assim é mais difícil ver os objetos, principalmente os que movem rapidamente e são menores, pois a tela do PSP - assim como todos os monitores com tecnologia LCD - tem um tempo de resposta mais lento que as TVs tradicionais, de tubo, e isso cria alguns fantasmas. Cada um dos modos de tela possui altos e baixos e cabe ao jogador escolher como quer ver o jogo.
O jogador pode também mudar o número de vidas ou mudar a área de colisão da nave. No "small", os tiros precisam pegar no meio da nave para seja considerado um acerto. É possível também decidir se o jogo terá "slowdown", ou seja, a câmera lenta não-intencional que acontecia nos games originais. A configuração do jogo vem ajustada para ser mais fácil que o arcade, mas o jogador pode optar pela configuração padrão do original, que deixa o jogo bem mais difícil.
Os games são naturalmente difíceis, pois basta apenas um tiro para que sua nave seja destruída. Quando isso acontece, você é obrigado a voltar para um dos "checkpoints" das fases e jogar tudo de novo, perdendo todos os melhoramentos. Mas a edição para PSP traz um recurso que permite salvar a qualquer hora e retomar o jogo quantas vezes quiser. Mesmo que morra, você pode recuperar o "save" e recomeçar com todos os melhoramentos.
O game também traz uma galeria com três vídeos, que foram produzidas para a coletânea de PlayStation 2, além de todas as músicas dos cinco games, um dos pontos fortes da série.
Imortal dos games
Nota: 10 (Imperdível)
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