"BioShock Infinite" tem história profunda e bom tiroteio
"BioShock Infinite" é um jogo especial. Ele se propõe a fazer muitas coisas diferentes e realiza tudo com muita qualidade, sendo competente em várias camadas.
Quem encarar apenas como um jogo de tiro, vai encontrar um game mais refinado do que o "BioShock" original, com equilíbrio entre armas de fogo, poderes especiais e estratégia, graças aos trilhos pelos cenários e os elementos que Elizabeth pode conjurar.
O visual é lindo - especialmente em um PC top de linha -, criando uma metrópole voadora crível e envolvente, que serve de pano de fundo perfeito para a história. Vale o mesmo capricho para a trilha sonora, que ajuda a criar um efeito de imersão sem igual, e a garota Elizabeth, uma das heroínas mais charmosas e marcantes dos games.
Mais adiante, "Infinite" alimenta também discussões sobre racismo, política americana, economia e outros temas de forma mais profunda e contundente do que seu predecessor.
Por fim, as reviravoltas fantásticas na trama e o final chocante exploram dimensões paralelas, viagens temporais e até uma reflexão sobre o próprio ato de jogar e a natureza do jogo em si.
É um jogo que vai ser tema de discussões mil por muito tempo e, a exemplo do primeiro "BioShock", certamente vai influenciar diversos títulos nos anos por vir.
Introdução
Tudo começa com um farol. Assim como no clássico "BioShock" original, de 2007, "Infinite" dá continuidade ao legado da franquia em uma nova e ousada empreitada.
O ano da história é 1912 e, em vez de explorar o fundo do mar, o jogador agora é levado a Columbia, uma impressionante cidade que flutua entre as nuvens.
No comando de Booker DeWitt, um ex-soldado e agente do governo dos Estados Unidos, o objetivo é resgatar a garota aprisionada Elizabeth para quitar dívidas.
Amarrando toda a trama há um sistema de tiro e poderes especiais muito parecido com os "BioShock" anteriores, mas com a empolgante adição de trilhos que permitem viajar pelos cenários em alta velocidade.
Pontos Positivos
Cenário envolvente
O elenco de "BioShock Infinite" é memorável, mas o grande personagem é mesmo Columbia. A incrível cidade voadora baseia-se na sociedade americana do início do século passado, tanto em arquitetura quanto organização social e econômica.
Os cenários são detalhados, elaborados e envolventes, criando um senso de imersão raramente visto. Columbia dá também combustível para diversos debates e interpretações de "Infinite", como críticas a racismo, à Revolução Industrial, ao modo de vida americano e outros.
Difícil dizer se algum deles é o grande tema central, o principal, o "correto", mas fato é que há material aqui para longos e variados papos.
Columbia também propicia uma experiência totalmente distinta em relação à prima mais velha, Rapture. Enquanto a cidade submersa mostrava resquícios da metrópole gloriosa e vibrante que um dia foi, um fóssil, por assim dizer, Columbia permite vê-la em atividade.
Eventualmente, a trama nos leva a ver o auge, o início da derrocada e o fim de Columbia. Contudo, devo avisar, de maneiras nada convencionais.
Tiroteio de qualidade
Roteiro à parte, "BioShock" apresentou um game de tiro em primeira pessoa intenso e gratificante. "Infinite" segue na mesma linha, apresentando um vasto arsenal de pistolas, metralhadoras, escopetas, lançadores de foguetes e outros tantos armamentos.
No lugar dos poderes especiais Plasmids aparecem os Vigors, que exercem praticamente a mesma função: Booker pode arremessar bolas de fogo, corvos, raios elétricos, criar armadilhas, puxar inimigos com tentáculos de água e até possuir máquinas e inimigos para lutarem a seu favor.
A dupla de atrações vira trinca com a adição do Sky-Hook, um ganho que serve para atacar e, principalmente, engatar em trilhos que cortam as paisagens de Columbia. Assim, as cenas de batalha ganham uma dimensão vertical, permitindo planejar ataques vindos do alto ou de baixo.
Por fim, a garota Elizabeth também colabora, adicionando estratégia aos combates: ela pode criar elementos no cenário, como coberturas, caixas de munição e metralhadoras. Porém, só um objeto pode ser materializado por vez.
A companhia de Elizabeth
Columbia é a presença mais constante do game, mas o charme e carisma de Elizabeth também deixarão saudades em quem jogar "Infinite".
Muito além de uma donzela em perigo, a garota de olhos azuis é um belo auxílio na jornada por Columbia. Além de ajudar nos combates, ela acha itens pelos cenários, como dinheiro e munição, e também consegue abrir fechaduras.
Em termos de história, ela ajuda a encarar certos personagens e eventos por perspectivas diferentes. Sua personalidade forte cativa, enternece e apaixona. Logo você se apega e começa a se preocupar com ela.
Com as revelações ao final da trama, então, é impossível deixar de compará-la a outra heroína que cativou tantos jogadores nos últimos meses: a nova Lara Croft, de "Tomb Raider".
Eficiente no jogo em si, ajudando em vez de atrapalhar, Elizabeth concilia também uma grande importância no enredo e uma personalidade absolutamente marcante.
Final arrasador
Em meio a tantas sequências com finais insossos e pouco recompensadores, é de abrir um belo sorriso no rosto a ousadia e competência de Ken Levine e sua equipe no estúdio Irrational Games.
"BioShock Infinite" se lança a explorar temas complicados e polêmicos, como racismo, religião e herança genética, colocando ainda no caldo uma boa dose de ficção científica, com dimensões paralelas e viagens no tempo, mas ao final amarra tudo de forma incrível e chocante.
O roteiro é tão engenhoso que dá pano pra manga para qualquer um dos temas abordados no game e ainda possibilita continuações, spin-offs e outras oportunidades de voltar a Columbia e conhecer mais do que foi sua história - ou do sua história poderia ter sido. Acredite, mesmo potenciais furos de roteiro podem fazer sentido com o final de "Infinite".
Felizmente, tudo é acompanhado de excelentes legendas em português, que ajudam a compreender em detalhes o que acontece em Columbia.
Vale notar, ousadia e criatividade não são garantia de unanimidade: muitos podem se frustrar com o final pouco convencional do game. De qualquer maneira, ele só reafirma o que eu disse antes: "BioShock Infinite" vai render assunto entre jogadores por anos a fio.
Pontos Negativos
Navegação
Columbia é uma cidade deliciosa de explorar. Seus ambientes são muito bem feitos e cada cantinho pode esconder um item de energia, munição ou mesmo um Voxofone (arquivos de áudio que, assim como no primeiro "BioShock", revelam um pouco mais do universo do game).
Ainda assim, às vezes você só quer saber para onde ir e o jogo não é sempre muito competente nisso. Ao toque de um botão é possível fazer brotar uma seta que indica o caminho, mas o sistema tem suas falhas. Às vezes a seta não aparece. Outras ocasiões ela indica percursos que dão voltas até chegar ao objetivo. Pior ainda: há momentos em que a seta não aparece no seu campo de visão, obrigando Booker a girar no lugar até encontrar a bendita flecha.
Eventualmente, você se acostuma com o comportamento temperamental do recurso e consegue utilizá-lo sem maiores problemas, mas não faltam bons exemplos no mercado sobre como fazer isso de forma mais eficiente - a exemplo do que vemos na série "Dead Space" ou no recente "Tomb Raider".
Pouca interação com Columbia
Um dos principais atrativos de "Infinite" é a possibilidade de testemunhar Columbia durante seu auge, com feiras rolando, habitantes felizes na praia, lojinhas e tudo mais.
Contudo, fica a impressão de potencial desperdiçado. Muitos cidadãos ficam apenas olhando para você, sem falar nada. Poucas lojas permitem comprar itens - a função fica mais relegada mesmo às máquinas que aparecem por toda a jornada. Em um bairro mais pobre de Columbia, uma criança estende a mão pedindo dinheiro, mas você nada pode fazer a não ser observar.
De maneira geral, Columbia é muito mais uma galeria a ser observada do que um ambiente para interagir.
Sem contar que há momentos estranhos: por vezes, Booker e Elizabeth apenas exploram a cidade normalmente, transitando entre os habitantes. Claro, há o pequeno detalhe de que Booker está com uma metralhadora ou escopeta na mão, mas as pessoas não ligam. Ainda assim, basta xeretar um armário ou caixa registradora - não precisa nem pegar nada dentro - para que todos ao redor fiquem assustados e os guardas venham atacá-lo.
Faço questão de deixar claro que tudo isso não é erro ou algo que prejudica o desenrolar da aventura. Mas, em minha opinião, acaba sendo um baita potencial desperdiçado.
Nota: 10 (Imperdível)
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