Conheça The Ultimate Ink Trash, o mago das capas de jogos retrô
Se você ainda assopra cartucho e gosta de consumir conteúdo relacionado ao universo dos jogos antigos, certamente já topou com o trabalho do The Ultimate Ink Trash por aí.
Em seus trabalhos de maior repercussão vemos títulos de jogos atuais representados em um estilo retrô, com conceitos próximos à ilustração promocional de jogos dos anos 80 e 90. Toda sua estética é diretamente relacionada com o período em que a representação visual de um jogo, mesmo quando inverossímil ao produto, atraía atenção e convertia vendas.
Entre suas mais recentes representações retrô, ou "trash" segundo a descrição do próprio artista, encontramos jogos de imenso sucesso recente como Among Us, Fall Guys, Rocket League, Ghost of Tsushima, Apex Legends e Cyberpunk 2077.
As capas de The Ultimate Ink Trash
O trabalho é etiquetado para gringa, mas o conteúdo é nacional, ou, pelo menos, o ilustrador arrisca um bom português regionalizado que você confere abaixo em um bate-papo exclusivo da nossa coluna no START.
Então, o que você pode nos dizer sobre o artista por trás de The Ultimate Ink Trash?
É um sujeito meio chato e mau-humorado chamado Matheus, 27 anos e paulistano da gema. Formei em Design Gráfico na Unesp-Bauru, e desde então venho trabalhando em agências e equipes de marketing.
Fora isso, sempre fui ilustrador, e durante uma breve passagem da faculdade, me meti a fazer games com uma equipe de designers e programadores formidáveis chamada Dead Battery Studio. Chegamos a fazer alguns games, e até atraímos uma certa atenção do meio dos devs BR. Mas acabamos deixando o projeto de lado por questões da vida (concluir o curso, pegar o diploma e arrumar algum trampo na capital do estado).
De lá pra cá, minha veia artística deu uma apagada, conforme os empregos e os desafios do dia a dia foram se aglomerando e tomando maior parte do meu tempo. Até que com a pandemia de covid, o home office virou lei em boa parte dos escritórios.
Agora, passando mais tempo em casa e não perdendo tempo com condução e filas de restaurantes por quilo, começou a sobrar mais tempo no meu dia, mesmo com o trabalho do escritório sendo feito de casa. Resolvi gastar esse tempo me dedicando mais a desenhar e ilustrar, retomando um hábito que sempre tive na minha vida. Foi aí que o Ultimate Ink Trash nasceu.
Acredito que essa ideia não tenha surgido da noite pro dia. Como foi a gestação do projeto?
Bom, como disse antes, comecei a voltar a ilustrar aos poucos. Mas seguindo o conselho de alguns artistas famosos, eu parti pra começar a pensar em uma coleção de ilustrações para que eu pudesse ser mais facilmente reconhecido e associado com algo.
No começo, eu fazia muita arte voltada pra música, e pensei em fazer uma série de cartas Tarot do punk rock brincando com estereótipos do rock e com um traço bem tosco, de fanzine (ou MTV). Mas eu tinha sacado que o público de música era muito disperso no instagram e twitter, e pensei em outra coisa.
Um amigo então sugeriu fazer algo com jogos, que é um público mais apaixonado e que engaja com mais força nas redes sociais. E então acabei lembrando de uma arte de capa retrô que eu tinha feito para o Punhos de Urna, jogo de beat'em up que eu tinha feito, no esquema 16 bits. Achei que a ideia seria boa se eu a aplicasse a jogos atuais, e acabei embarcando com tudo. Foi aí que uni duas paixões: ilustração e jogos (principalmente os jogos véios, hahaha).
Conte um pouco pra gente sobre seu processo criativo. Como faz a seleção do jogo a ser representado, a escolha da paleta de cores e dos elementos que decide destacar na arte, o tempo que leva para terminar etc.
Existe uma lista que engloba jogos que eu quero fazer (por ser fã do jogo ou por achar que ele teria uma releitura retrô interessante) e jogos que a galera gosta de pedir. A lista não é fixa, então alguns jogos acabam entrando mais cedo ou mais tarde.
Em seguida, tento escolher cores que eu acredito que representam bem o jogo. No Cyberpunk, tentei pegar uma paleta meio "chiclete", com contraste de azul com violeta/magenta. No GOT, tentei usar toda uma paleta em cima de tons de laranja e vermelho para destacar o pôr do sol do jogo.
Também é importante saber se a arte se passa em lugar aberto, lugar fechado, quantos personagens ficam em tela e qual o clima que quero passar. Também tento estudar um pouco sobre o jogo e achar alguns elementos que a galera que joga gostaria que eu destacasse, como personagens, lugares, itens especiais etc
Você nos deu o privilégio de exibir sua mais recente obra em primeira mão por aqui. Conte um pouco pra gente sobre o processo de criação específico dela.
Bom, pra celebrar a minha primeira entrevista e por ser um veículo BR, tentei escolher um jogo igualmente brasileiro para homenagear. No caso, escolhi Horizon Chase, jogo BR feito sob medida para todos nós, brasileiros e viúvas de Top Gear.
Apesar da influência óbvia de Top Gear, pra arte de capa resolvi buscar referência na capa do Outrunner, jogo de Mega Drive que tinha uma capa mais dentro do meu estilo.
Para as cores, optei por escolher cores mais saturadas e claras, que transmitem mais a emoção do jogo. Também quis fazer algo mais descontraído e exagerado (estilo a capa do Outrunner), o que eu acho que transmite mais a vibe do jogo do que as capas mais "coxinhas" dos jogos de corrida daquela época.
E quanto aos jogos mais solicitados pelos fãs, quais são eles? A propósito, pode nos dar algum spoiler exclusivo sobre algum dos jogos que pretende fazer em breve?
Ai depende um pouco, hahaha. Tem fãs de diversas vertentes de games, e cada um pede uma coisa. Mas já me pediram muito God of War, Persona, Fallout (esse sempre aparece um cara pedindo toda semana hahaha) e algum jogo da série Star Wars.
Mas spoiler por spoiler, digamos que tá vindo um certo jogo de mundo aberto "loucura total" e também um jogo de terror caipira alla "Massacre da Serra Elétrica" vindo por aí, hehe.
Quando você expõe sua arte para um grande público na internet, é comum se deparar com pessoas que não entendem o conceito ou a proposta. Já se deparou com comentários de pessoas que criticaram o estilo simples, com formas e expressões deliberadamente exacerbadas das suas representações?
Normalmente, quem para pra comentar é sempre a galera que curte bastante. Quem não entende ou não gosta normalmente "passa reto". Já aconteceu de algumas vezes um cara criticar algum elemento da ilustração ou falar que o estilo tá mais capa de livro dos anos 80 (tipo a série Goosebumps ou Contos da Cripta) do que de jogo dos anos 80, o que eu acabo levando como elogio do mesmo jeito.
Mas normalmente não é em tom de crítica, e a galera acaba gostando da arte de alguma forma, mesmo que expressando isso de uma forma meio brusca/rude bem comum no ambiente tuiteiro.
Imagino que existam alguns pré-requisitos para que o público consiga de fato compreender e até mesmo apreciar por completo este magnífico trabalho que você desenvolve. Você conseguiria traçar o perfil de quem mais tem se interessado pelo que você faz?
Posso dizer que o grosso da galera é quem viveu a época dos anos 80 e 90 (galera entre 25 e 45 anos) e que tem uma enorme nostalgia de qualquer coisa que remeta ao tempo de assoprar fita.
Tem também uma pequena parcela da galera jovem que curte por gostar de coisa retrô ou por achar engraçado (e de alguma forma, "memístico") o tom exagerado e nonsense dessas artes. No geral, o retrô faz sucesso tanto com os "véio" quanto com os jovens.
Considerando uma arte bem nichada, como você avalia a quantidade das oportunidades de trabalho que chegam até você?
Apesar da arte em si ser nichada, as propostas de trabalho que chegam nem sempre envolvem games ou capas de games. Muitos dos que me procuram me pedem coisas diversas, como pôster para um filme que está sendo feito, uma capa para um disco em gravação, uma ilustração pra usar em vídeos de podcasts gravados etc.
No geral, todos estão interessados mais no meu estilo de arte do que em uma capa de fato. Mas, de qualquer forma, a maioria dos que me abordaram são desenvolvedores pequenos/médios que precisam de uma arte pro jogo que desenvolveram.
Falando de sonhos ou aspirações. Existe algum jogo em desenvolvimento que você adoraria poder fazer a arte promocional oficial dele?
Com certeza. Adoro jogos indies no geral, e sempre fico feliz quando um estúdio vem atrás de mim pra fazer uma arte pro jogo deles. No momento, não estou antenado com jogos em desenvolvimento, mas ficaria feliz de fazer algo envolvendo uma possível sequência de Guacamelee.
Também ficaria feliz de fazer algo com o pessoal BR, como a galera da Joy Masher, Beholder e Mother Gaia. Mas sabe o que seria foda mesmo? Fazer algo com a Sega. Pode ser um Sonic qualquer ou um título distribuído por eles, tanto faz. Fazer algo com a capa do Mega Drive, com aval dos caras do Mega Drive, seria foda. E quem sabe, né? Um Streets of Rage 5?
Assim como tem sido um grande prazer contemplar seu trabalho em meio a bons sentimentos nostálgicos, também foi um prazer bater este papo contigo. Não deixe de nos contar em quais redes sociais poderemos seguir seu trabalho e qual e-mail de contato para comissões e propostas relacionadas.
Agradeço pela atenção e pelo carinho. Espero que 2021 seja um que eu deixo pra trás uns trampos bem fodas pra galera que me acompanha. E que venham ótimas oportunidades também. Tenho algumas ideias para testar ao longo do ano, e quem sabe, uma loja virtual para criar. Vamos esperar e ver!
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