Jogos, baratas...

... e outras histórias fumegantes do conserto de videogames

Bruno Izidro Do START, em São Paulo

"Cuidado com esse videogame!"

Que atire o primeiro controle na parede quem nunca quebrou um videogame. Podia ser aquele Master System que você ganhou de Natal, e meses depois apareceu com mau contato. Ou um Phantom System que ficou esquecido no armário acumulando poeira? Quem sabe até um console do futuro que virou um tijolo quando o HD parou de funcionar.

Seja qual for o problema, as assistências técnicas estão aí para salvar o meu, o seu, o nosso console ou joystick. O START visitou algumas oficinas especializadas, na cidade de São Paulo, e trouxe o relato de consertos inusitados, panes misteriosas e até tentativas desesperadas de resolver os problemas com soluções caseiras.

Videogame com insetos dentro? Para os técnicos, é só mais um dia de trabalho. Substâncias suspeitas escondidas no console? Eles batem o olho e já imaginam um diagnóstico.

As histórias a seguir aconteceram na Dash Controles, uma loja e assistência dedicada a reparos e personalização de controles, e na Gameteczone, uma loja e assistência especializada em videogames no geral. Os nomes dos clientes não foram divulgados para preservar a identidade deles.

Baratas infiltradas

Rafael Lima, 31 anos, passou metade da vida consertando videogames na Gameteczone e já viu de tudo um pouco, incluindo baratas saindo de um PlayStation 4.

"O videogame chegou funcionando, mas estava com mal cheiro e acelerando a ventoinha, um barulho mais alto que o normal", conta.

O mau cheiro foi o que mais chamou atenção. Técnicos mais experientes como ele já reconhecem quando o problema é odor: são grandes as chances de encontrar o ninho de algum inseto dentro.

O cliente ficou na defensiva. A casa em que morava tinha sido reformada, não poderia ter nada estranho ali dentro.

Quando eu tirei a primeira tampa do PS4, saiu barata pra tudo quanto é lado. Vieram uns quatro caras me ajudar a matar

Rafael explica que baratas e formigas adoram ficar perto das fontes dos videogames e criar ninhos por lá devido ao calor. Isso pode acontecer com mais frequência em aparelhos que têm alimentação de energia interna, como o PS4 e o Xbox One S.

A solução foi limpar o PlayStation 4 e trocar a pasta térmica da placa para melhorar o equilíbrio de temperatura.

Se beber, não jogue!

A história a seguir é um relato de Edson Cana, o "caninha", proprietário da Dash Controles:

"Um cliente nosso fez uma festa na casa dele e preparou uma caipirinha, só que deixou cair a bebida no controle de PlayStation 4 enquanto jogava. Ele limpou só por cima, e continuou funcionando. Até aí tudo bem, só que na manhã seguinte o controle nem ligava.

Alguns dias depois ele contou o que aconteceu: o resto de açúcar da caipirinha havia caído no controle, o que atraiu formigas. Quando ele viu as formigas, não pensou duas vezes: aplicou inseticida dentro do controle. As formigas morreram, mas o controle parou de funcionar.

Quando ele trouxe o controle e nós abrimos, o inseticida tinha oxidado tudo por dentro e derretido os contatos dos botões. Nessa hora, o cara não sabia se chorava pelo controle, ou se dava risada da situação, porque derreteu tudo!

E nós, ainda assim, conseguimos consertar. Limpamos e trocamos todas as peças. Demorou uns cinco dias até ficar pronto".

O presente que virou castigo

Um pai chegou com o PlayStation 4 com defeito. Ele queria consertar o videogame como presente de aniversário para o filho.

Alex Montenegro, um dos sócios da Gameteczone, conta que o problema era no encaixe do HD. "Era um PS4 do primeiro modelo, e não precisa desmontar tudo para trocar o HD. É só abrir uma portinhola lateral, que mostra a gaveta de correr em que fica o HD encaixado".

O técnico que atendeu o pedido percebeu logo que o HD não estava completamente encaixado porque algum corpo estranho obstruía o caminho.

A primeira coisa que o técnico tirou foi um isqueiro, depois um dichavador, e depois uma erva. O pai não acreditou no que estava vendo: o filho escondia maconha dentro do videogame.

Depois da surpresa, Alex diz que o pai ficou tão decepcionado que desistiu de consertar o PS4. Pediu para fechar o console e foi embora.

Controle que faz miau

Caninha, da Dash Controles, lembra que um bom técnico também precisa ter conhecimentos veterinários. Diz ele:

"Depois que customizamos o controle de Xbox One de um cliente, o controle era do filho, ele voltou aqui 'jururu' (porque o controle parou de funcionar), falando um monte. Quando a gente abriu o controle...

Na boa, não tinha pelo dentro, TINHA UM GATO INTEIRO de pelos, que estavam enroscados nos analógicos.

Aí ele começou a falar que brigava mesmo com o filho para não deixar o gato dormir em cima do videogame. Ele tinha um gato angorá, que solta muito pelo. Na época, era período de frio, então o gato dormia abraçado no controle, em cima do console, que era onde fazia calor. No fim, a gente não precisou fazer reparo nenhum, só precisou de uma limpeza e ele ficou novinho.

Depois até dei uma sugestão para ele trazer também o console, porque se o controle estava assim... Cara, parece até que roguei praga, porque uma semana depois ele trouxe o videogame queimado, porque o pelo do gato tampou a saída de ventilação do Xbox One, não tinha mais por onde o console 'respirar'".

Todo dia um curto-circuito

Lançado em 2006, o Nintendo Wii foi um fenômeno de vendas, no Brasil e no mundo. Ele não só mudou a maneira de jogar, com seu Wiimote e jogos de esportes, mas também trouxe alguns problemas novos para as assistências técnicas resolverem. Alex, dono da Gameteczone, lembra um caso curioso:

"Vieram o pai, a mãe e o filho comprar um Nintendo Wii. No dia seguinte eles voltaram, dizendo que o Wiimote tinha parado de funcionar. E realmente não estava funcionando. Aí trocamos o videogame para o cliente.

No dia seguinte, voltaram de novo. O mesmo defeito: Wiimote não estava funcionando. Muita coincidência, mas trocamos o aparelho mais uma vez. No outro dia, mais uma vez eles voltaram. Dessa vez com pai, mãe, filho, avô, avó...

Eles reclamando que pagaram por algo caro e que ficava dando defeito. Já queriam devolver o aparelho. A gente ficou espantado, porque era a terceira vez seguida com o mesmo problema.

Bem, pegamos um novo Wii e, dessa vez, deixamos o filho jogando na loja. Ele ficou jogando Wii Sports, que vinha com o console.

Não deu 10 minutos de jogo, e o Wiimote parou de funcionar, simplesmente. A mãozinha que fica na tela desapareceu, e o controle não ligava mais.

Quando eu peguei o Wiimote da mão do garoto, o controle estava encharcado de suor. O garoto tinha um problema com sudorese (suor excessivo) extrema, de jorrar suor da mão.

O suor entrava no controle e criava um curto-circuito no Wiimote. A solução que dei foi: passar a jogar de luvas.

Depois disso, eles não voltaram mais".

Dicas para salvar seu videogame

  • Mantenha longe do alcance dos pets

    Seus pets podem se sentir atraídos pelo calor do videogame, principalmente no inverno. Ok, é fofo e fica legal no Instagram, mas não vale a dor de cabeça que vem depois: além de bloquearem a ventilação do aparelho, seus gatinhos podem soltar muitos pelos, que vão direto para as entranhas do videogame.

  • Controle não é brinquedo

    Seu cachorro pode achar que o joystick é muito mais legal que os brinquedos que você trouxe do pet shop, mas o resultado pode ser um controle destruído e uma consulta ao veterinário para descobrir se alguém engoliu botões, gatilhos e alavancas.

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  • Líquidos são um veneno

    Derramou refrigerante, cerveja ou caipirinha no controle ou em um portátil? Nem tente ligar para saber se ainda está funcionando, porque o líquido pode causar facilmente um curto-circuito no aparelho. O ideal é levar logo para a assistência e realizar uma limpeza com os produtos adequados.

  • Um paninho já ajuda

    Para a limpeza externa de controles, principalmente nas frestas e nos botões, os técnicos recomendam o básico: use um pano umedecido com água, mas não encharcado. Já o álcool isopropílico é indicado somente para a limpeza de componentes eletrônicos.

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