Free Fire: 3 anos de sucesso

Como o battle royale nascido na Ásia conquistou milhões de brasileiros

Gabriel Oliveira e Thaime Lopes Colaboração para o START

Tá dominado

Free Fire completou 3 anos de sucesso meteórico em 22 de agosto de 2020. Já são mais de 100 milhões de jogadores ativos espalhados pelo mundo, o que o consolida como fenômeno do mundo digital. Produzido pela Garena, uma empresa do sudeste asiático, o jogo explodiu principalmente no Brasil, catapultando o mercado de games competitivos para celular.

Nessa trajetória, Free Fire mostrou como um "joguinho" que funciona nos até nos smartphones mais simples pode conquistar multidões, criar novas carreiras e movimentar um cenário competitivo que já está entre os maiores no Brasil.

FREE FIRE E O BRASIL

Um "joguinho de celular" com números gigantescos

Lançado no Vietnã em 2017 e depois espalhado por diversos países, Free Fire começou a ser desenvolvido por uma pequena equipe cujo principal objetivo era criar "uma experiência de battle royale que todos os jogadores de celular pudessem aproveitar", explica a produtora Garena ao START. "Nós agora temos centenas de desenvolvedores, com mais da metade deles inteiramente focada em manter uma experiência nova e empolgante para nossos jogadores".

Por poder ser jogado em praticamente qualquer smartphone —até os menos potentes— e ser gratuito, Free Fire caiu nas graças do público.

Em 2019 já eram 50 milhões de jogadores ativos diariamente pelo mundo. Em maio deste ano, o número chegou a 80 milhões. Em agosto, prestes a completar 3 anos, o game alcançou a marca de 100 milhões de usuários entrando no jogo todos os dias. A Garena não revela quantos desses são brasileiros.

Com as atualizações para melhorias e lançamento de novidades, o peso do game nos celulares é uma preocupação constante da desenvolvedora, já que o objetivo é mantê-lo acessível ao maior número de pessoas.

"Nós sabíamos, por experiência própria que, nos mercados em que o celular é a plataforma principal, os jogos com menor poder de processamento de dados e menor espaço [ocupado] —sem comprometer a qualidade da experiência— seriam mais atrativos. Não é fácil alcançar esse balanceamento corretamente, mas isso é algo que nos propusemos a fazer com o Free Fire", explica a Garena.

Segundo a empresa, praticamente não houve mudança entre os requerimentos de três anos atrás e hoje. "O telefone que usamos para testar o jogo há três anos continua sendo usado para testá-lo atualmente. Quase qualquer celular com espaço suficiente para instalar o Free Fire e 1 GB de RAM será capaz de rodá-lo".

OS PRINCÍPIOS DO JOGO

Cesar Galeão/Garena

Mobile

Free Fire é pensado e desenvolvido exclusivamente para ser jogado no celular, inclusive nos modelos mais simples. "O celular que usávamos para testar o jogo três anos atrás ainda está sendo usado até hoje", diz a Garena.

Divulgação/Garena

Localização

"Frifas", como é chamado pelos fãs, e seus conteúdos são localizados para os mercados regionais. Os nomes de skins, pets e eventos devem combinar com gostos e preferências dos jogadores de cada país ou região.

Divulgação/Garena

Comunidade

Os jogadores são engajados e constroem comunidades sólidas. Isso ocorre por meio de eventos no jogo, ativações e influenciadores. Feedbacks dos usuários também são levados em consideração para as atualizações.

CURIOSIDADES NO BRASIL

Reprodução

Referências

Alok, famoso DJ brasileiro de música eletrônica, tornou-se personagem do jogo e até lançou uma música; Luqueta é um personagem inspirado nos jogadores de futebol brasileiros; Brasília é um dos locais do mapa Purgatório.

Divulgação

Eventos temáticos

Dentre os eventos realizados no jogo estão Festa Junina e o Carnaval, tradicionais festas brasileiras. É quando os jogadores têm acesso a itens e skins especiais, geralmente cumprindo missões específicas ou testando novos modos de jogo.

Renato Bueno/UOL

Concorrência

O head de operações da Garena no Brasil, Fernando Mazza, trabalhou por cinco anos na Riot Games Brasil. Além disso, dezenas de funcionários deixaram a desenvolvedora do League of Legends para trabalhar com o Free Fire por aqui.

ONDE ROLA A FESTA

Divulgação/Garena

COMUNIDADE: A FORÇA DOS JOGADORES

Das guildas até o exército de fãs online

"O Free Fire muda vidas". É assim que Camila "CamilotaXP" Silveira, apresentadora, define o jogo, e também é assim que o battle royale da Garena é visto por seus milhões de fãs.

Os números falam por si só: 2 milhões de pessoas assistiram à transmissão da final do Mundial 2019, que aconteceu no Rio de Janeiro, e de onde o Corinthians saiu como campeão. No Youtube, o Frifas foi o quarto jogo mais assistido em 2019. E tudo isso veio pelas mãos dos mais de 100 milhões de jogadores diários, que têm no jogo não só uma diversão com propósito de unir amigos, mas também uma possibilidade de carreira como streamer ou jogador profissional.

Para Raphael "Phoenix" Ferreira, capitão da Black Dragons, a melhor parte do sucesso do Free Fire é justamente o impacto que o jogo tem na vida de todos que se envolvem com ele. "É muito lindo ver a quantidade de pessoas felizes e realizadas. Espero que a comunidade continue bonita desse jeito, com cada vez mais pessoas podendo viver disso. Sei o poder que o Free Fire tem de tirar pessoas de momentos ruins, pois eu sou prova viva disso", explicou o atual campeão da C.O.P.A.

Outro exemplo de extremo sucesso da comunidade é a LOUD. Um dos times mais queridos do público, a equipe criada por Bruno "Playhard" se tornou a primeira organização de eSports a bater a marca de 1 bilhão de visualizações no YouTube, onde ela tem 9 milhões de inscritos. Outras 7 milhões de pessoas seguem a LOUD no Instagram, provando que não há limite quando o assunto é conquistar fãs.

Os investimentos cresceram em 2020, com nomes como Flamengo, Cruzeiro e Santos entrando para o universo competitivo do jogo. Organizações tradicionais de outros esportes eletrônicos, como Team Liquid e FURIA, também perceberam a oportunidade e já marcam presença na Série A da Liga Brasileira (LBFF).

Para entender a dimensão do público, basta olhar para a C.O.P.A., campeonato que ocupou o lugar da 2ª Etapa da Liga Brasileira, cancelada devido à pandemia de Covid-19. Mesmo sendo um torneio "de última hora" e totalmente online, 662 mil pessoas assistiram à final no YouTube, BOOYAH! e SporTV.

Ao START, a Garena disse que uma das maiores qualidades da companhia é conseguir engajar as comunidades dos jogos, e olhando para a voz que os fãs conquistaram nesses três anos, conseguimos ter um panorama do quanto eles estão dispostos a fazer o Free Fire crescer nos próximos aniversários.

Divulgação/Garena

O jogo com a cara do Brasil

Edson "HUNTER GODBR" Silva, o fundador da GOD eSports, e conhecido na comunidade como Edson God, viu sua vida ter uma reviravolta com o sucesso de Free Fire no Brasil.

GOD nasceu em Quipapá (PE) e começou a trabalhar aos 12 anos —vendendo sorvetes, e depois como servente de pedreiro. Após reunir economias e começar a faculdade de Engenharia Civil, abriu um canal no YouTube sem pretensões. A virada veio em 2017, quando ele resolveu deixar os estudos e se dedicar integralmente ao Free Fire.

Depois de seis meses jogando cerca de 20 horas por dia, ele se tornou o top global três vezes, e sente orgulho em dizer que fez parte da história do jogo por aqui: "O jogo é extraordinário e vem ajudando muitas pessoas. Graças a Deus e aos meus esforços, eu mudei de vida por causa dele. Só tenho a agradecer, porque o Free Fire é uma família e está sendo inspiração de muita gente", comenta o streamer.

Na visão da Camilota, essa possibilidade de mudar de vida com o jogo se dá devido à acessibilidade que ele oferece, já que ele roda em quase qualquer celular e acaba abrindo as portas para pessoas que, sem ele, não entrariam no mundo dos games. "Milhões de pessoas têm um histórico humilde e foram transformando suas vidas porque o jogo deu essa possibilidade. Por isso, a comunidade só aumenta —todo mundo tem a mesma chance de crescer."

E, para a Garena, entender o mercado brasileiro é uma parte significativa do sucesso do jogo por aqui. "O Brasil, assim como os outros países da América Latina onde temos o Free Fire, é muito importante para nós e estamos sempre procurando formas de entregar conteúdos novos para nossos jogadores. Uma boa parte do que fazemos é por meio de localização, onde integramos elementos da cultura local dentro do jogo para que isso ressoa com os usuários", explicou a companhia ao START.

Divulgação/Garena

FREE FIRE EM NÚMEROS

  • 450 milhões de usuários registrados
  • 500 milhões de downloads no Android (abril/2020)
  • 100 milhões de usuários ativos diariamente (agosto/2020)
  • 30 bilhões de visualizações no YouTube em 2019
  • Mais de US$ 1 bilhão em receita (novembro/2019)
Divulgação/Garena

PROFISSIONALIZANDO OS ESPORTS

De torneios pequenos ao título mundial

O Free Fire é o mais popular esporte eletrônico do Brasil, com circuito competitivo estruturado e empolgante, jogadores profissionais como astros, participação de grandes clubes e sucessivos recordes de audiência. Tudo isso conquistado em só 3 anos.

Foi uma evolução relâmpago desde os primeiros campeonatos de comunidade até a Liga Brasileira de Free Fire de hoje.

O competitivo teve início pelas mãos dos próprios jogadores, em competições amadoras, lá por 2017 e 2018. No Brasil, a Garena entrou na jogada no início de 2019, quando promoveu a 1ª temporada da Pro League, que começou com uma fase online.

Nas finais presenciais, que contaram com pico de mais de 250 mil espectadores simultâneos na transmissão, em março, a TROPA M3C conquistou a primeira Pro League e se classificou para o campeonato mundial, assim como a GPS VETERANOS, a vice-campeã.

A TROPA M3C disputou a Free Fire World Cup 2019, na Tailândia, em abril, contratada pela RED Canids Kalunga e ficou na 10ª colocação. Já a GPS Veteranos chegou ao 6º lugar e teve Ariano "Kronos" Ferreira eleito o melhor jogador da competição. A EVOS Capital, da Indonésia, conquistou o título.

"Foi um sonho realizado ser consagrado como o melhor do mundo. Desde pequeno sempre sonhei em jogar profissionalmente e, no Free Fire, deu certo", exalta Kronos, recentemente contratado pela LOUD, em declaração ao START.

Ele aponta que o cenário competitivo tem se desenvolvido rapidamente, com os jogadores se redescobrindo e buscando maneiras de melhorar cada vez mais. "Todo mundo se dedica, e muitos jogadores têm destaque na jogabilidade, mas hoje em dia os diferenciais são a noção de jogo e a mente preparada".

Divulgação/Garena

A 2ª temporada da Pro League, em julho de 2019, consolidou o Free Fire como eSports. Foram mais de 800 mil espectadores simultâneos assistindo à transmissão, cujas finais contaram com 12 times participantes nas finais presenciais. A New X levou a melhor, superando equipes como a LOUD, a RED Canids e a Vivo Keyd de Kronos.

"A gente deitou e rolou na Pro League 2", relembra o influenciador Ramon "GGEasy" Ramalho, dono da New, em contato com o START. "Fiz um investimento muito alto: saí da Paraíba, vim morar em São Paulo, aluguei gaming house, comprei equipamentos e paguei salários. Na época nenhum time tinha gaming house. Eles treinaram juntos e isso deu um 'up' do caramba".

Depois da competição, GGEasy e a New foram contratados pela paiN Gaming. Em abril, o influenciador deixou o clube para reativar a marca que criou, desejando voltar a dirigir uma equipe e apostando na expansão dos eSports.

"Eu tenho uma experiência absurda e sei como fazer. Sei quem joga ou não, e isso me facilita a montar o time e bater de frente com qualquer time", sustenta GGEasy, que joga Free Fire desde novembro de 2017 e sempre participou de competições com sua guilda, mesmo quando nem havia ainda o sistema de guildas no jogo.

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RECORDE ATRÁS DE RECORDE

A audiência crescente em 2019

O cenário competitivo de Free Fire seguiu batendo recordes em 2019. Nas finais da 3ª temporada da Pro League, em novembro, mais de 1 milhão de pessoas assistiram simultaneamente, pela internet, à vitória do Corinthians. Campeão nacional, o Timão se sagrou ainda o campeão do mundo ao conquistar a Free Fire World Series, que rolou no Rio de Janeiro e teve pico de 2 milhões de espectadores online.

Grandes clubes, de eSports e de futebol, entraram de cabeça no Free Fire. Hoje, a LBFF tem nomes como Corinthians, Flamengo, Cruzeiro, Santos, FURIA Esports, LOUD, paiN Gaming, INTZ, Team Liquid e Vivo Keyd.

O investimento da Garena no competitivo, a audiência dos torneios e a enorme base de usuários em razão da acessibilidade do jogo no celular são os atrativos para as organizações, de acordo com o head de Inovação & Mobile Esports da INTZ, João Borges.

"Mobile esport é uma tendência", atesta o diretor, em entrevista ao START. "Todo mundo tem celular e, como há uma massa muito grande de jogadores casuais, vemos o potencial de torná-los fãs dos nossos atletas. Isso é interessante para nós, além dos gigantes números de audiência. Os números já nasceram grandes e estão em uma curva de crescimento muito acima de qualquer outro esporte eletrônico".

A INTZ identificou esse potencial logo no início de 2019, ao se tornar o primeiro clube de eSports do Brasil a contratar uma equipe de Free Fire. Hoje, apesar de o time ainda não ter conquistado títulos, João diz que o retorno é positivo.

"Houve o primeiro momento, de desbravar tudo em relação a profissionalismo, relacionamento com a publisher e novas iniciativas. Agora, o momento é de crescer de uma maneira sustentável", avalia o head da INTZ.

Divulgação/Garena

Uma Liga com casa própria

Para 2020, a Garena lançou a LBFF, uma liga com rodadas semanais presenciais em estúdio, transmitidas inclusive na televisão. A 1ª Etapa teve a Team Liquid como campeã dentre 12 participantes. A Série A da 3ª Etapa começou no sábado (22), pela internet, com 18 concorrentes.

Sim, não houve 2ª Etapa, em razão da pandemia de covid-19. Para que o cenário não ficasse parado, a Garena promoveu a C.O.P.A. Free Fire, também online, vencida pela Black Dragons.

"Construir comunidades no mundo todo, especialmente por meio dos eventos de esports, é importante para nós, porque une pessoas com a paixão em comum pelos games", diz a Garena. "A recepção dos nossos eventos tem sido incrível. Nós continuaremos a pensar em como podemos elevar, de forma criativa, a experiência competitiva para jogadores de todo o mundo".

Seja nos eSports, na produção de conteúdo ou nos jogos casuais, o Free Fire demonstrou ser capaz de transformar vidas. Tudo muito rápido, em apenas 3 anos. E vem muito mais pela frente!

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