Review: PlayStation 5

O novo integrante da família Sony chama atenção pelo design e promete um futuro brilhante

Kika Martini Colaboração para o START Mariana Pekin/UOL

Primeiras impressões do PS5 com a Kika Martini

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O PlayStation 5 foi lançado em 12 novembro de 2020 (19 no Brasil) com um desafio para o próprio videogame: superar o sucesso do antecessor PS4 e suas mais de 110 milhões de unidades vendidas.

Para conseguir isso, a Sony pensou grande, quebrando suas tradições de design, inventando um controle novo e produzindo um aparelho que já impressiona pelo tamanho. A empresa não estava mentindo quando disse que o PS5 seria um "real salto de geração".

E não estamos falando apenas de fidelidade gráfica. As qualidades da quinta geração do PlayStation estão nos detalhes, espalhados pelos vários aspectos do aparelho:

  • Controle com novos recursos? Check!
  • Nova dashboard? Check!
  • Retrocompatibilidade? Check (já era hora, Sony).
  • Lançamentos feitos para aproveitar o poder do novo hardware? Check!

Você deve estar pensando que agora eu vou dizer para quebrar o seu cofrinho e ir direto comprar o PlayStation 5, certo? Errado.

Nada é tão simples, e a escolha de comprar ou não um produto de quase R$ 5 mil depende de vários fatores, mas posso ajudar a fazer essa decisão.

A unidade do PS5 para análise foi enviada pela Sony Brasil ao START.

DESIGN

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A revelação do design do PlayStation 5, em junho, gerou mais discussão que a polêmica "biscoito x bolacha". Afinal, o PS5 é bonito ou feio?

Independentemente de qual seja o seu time (sou do time que acha lindo!), uma coisa todo mundo precisa reconhecer: a Sony foi ousada e fez um dos videogames mais "diferentões" dos últimos anos, fugindo bastante do padrão "tijolo" do PS4 e dos novos Xbox.

Outro fato inegável é que o console é um trambolho. E eu nem digo trambolho apenas pelo tamanho (são 40cm de altura quando na vertical) e peso (4,5 kg), mas por ser desengonçado mesmo.

Sempre que eu pegava o PS5 parecia que estava segurando uma peça de arte abstrata muito cara (talvez eu esteja) que vai cair a qualquer momento.

Levar o console para o outro lado da estante era sempre uma emoção.

Se no visual ele é escandaloso, no som ele é muito discreto. Nada de jogar com uma turbina de avião na sala —mal dá para perceber que o PlayStation 5 está ligado. Quando precisei conferir isso, fui pelo tato (ele vibra um pouquinho), porque eu não conseguia ouvir nada.

Apesar de o videogame poder ficar em pé ou deitado, eu recomendo a primeira opção: é a forma mais estável. Quando deitado, sua base não dá tanta segurança, e movimentos mínimos podem fazer o videogame de mais R$ 4 mil se espatifar no chão —eu quase fiz isso no vídeo de apresentação do console.

CONTROLE DUALSENSE

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O PlayStation 5 inaugura também uma nova geração de controles com o DualSense.

O acessório tem novidades bem significativas que, apesar de em alguns pontos não terem me impressionado tanto quanto eu imaginava, foram um acerto da Sony para deixar a nova geração com mais cara de nova geração.

Para quem já está acostumado há anos com o controle do PlayStation, a transição dele para o novo controle do PS5 é muito tranquila.

Todas as mudanças no novo controle são positivas, e o DualSense é melhor que o DualShock 4

As melhorias vão dos botões e direcionais mais "macios" até a sensibilidade dos analógicos. Mas tudo isso são upgrades pequenos e até esperados.

O que queria saber mesmo, e acredito que você também, é se as novidades dos gatilhos adaptáveis e o tal do feedback háptico fazem tanta diferença.

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Reprodução/START

Os gatilhos adaptáveis do DualSense foram os que mais me impressionaram. A resistência existe mesmo, e é impressionante como pequenos ajustes criam sensações completamente diferentes.

Em Astro's Playroom, jogo que já vem instalado no PS5 e foi feito para demonstrar o potencial do DualSense, os desenvolvedores abusaram da tecnologia. Você vai notar uma resistência extra no meio do trajeto do gatilho para simular a sensação de puxar uma alavanca, uma resistência constante ao apertar uma bola de metal e que some quando ela quebra, e até o "creck creck" de estar com as duas mãos em um apoio passando rapidamente por um trilho dentado.

Em Devil May Cry 5 Special Edition, o gatilho simula o efeito de "acelerar" da espada de Nero, igual ao acelerador de uma moto. Não sei que tipo de magia tecnológica eles usaram, mas a sensação é idêntica!

Outro recurso que a Sony usou exaustivamente no marketing do DualSense foi a "resposta tátil" ou feedback háptico, como também ficou conhecido.

Eu tinha altas expectativas com o feedback háptico, mas apesar das boas experiências não foi exatamente o que eu imaginava.

Muito se falava sobre as sensações —andar pela areia em Astro's Playroom pareceria areia de verdade, assim como andar pelo gelo também daria uma sensação "escorregadia". Não posso dizer que isso é mentira, mas a sensação não é tão realista como se imagina.

Existem, sim, diferenças claras entre todas essas superfícies, e se você jogar de olhos fechados vai saber dizer apenas pelo tato quando o personagem mudou de terreno, por exemplo. Mas é difícil saber dizer exatamente qual terreno é aquele.

Ainda assim, é possível criar efeitos bem surpreendentes. Andar na lama e passar por obstáculos em uma corrida em Astro's Playroom foram os que mais me impressionaram.

No final, o feedback háptico é uma bela evolução do sistema de "rumble" que já conhecemos, com vibrações mais refinadas e localizadas. Pelo menos eles acertaram mais do que o "HD Rumble" dos Joy-Cons do Nintendo Switch.

Só é uma pena que não chega a te fazer sentir a bioeletricidade do Miles Morales na ponta dos dedos como eu imaginava.

E se você leu tudo isso e achou todos esses efeitos uma grande bobagem, um desperdício de bateria ou tem mãos muito sensíveis, tudo pode ser ajustado ou até mesmo desligado pelo próprio menu do console.

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CRIAR PARA COMPARTILHAR

Já uma antiga função dos controles do PS4 ganhou um upgrade no PS5: o botão de compartilhar, antigo "share", mudou de nome para "criar". Ao mesmo tempo, a função teve uma melhoria tremenda, com um processo mais fácil e claro do que era no PS4.

Na captura de vídeo, uma novidade simples, mas que faz muita diferença, é um timer na tela mostrando o tempo de gravação. Assim você não fica mais na dúvida se está ou não gravando, nem por quanto tempo.

O PlayStation 5 pode gravar até uma hora de vídeo, seja em resolução Full HD ou 4k.

A parte de compartilhamento e edição de imagem também está mais prática. Do próprio botão de criar, é possível visualizar uma prévia das 15 últimas capturas, compartilhá-las e editá-las, tudo sem precisar sair do jogo. Isso, sim, é o que chamo de funcionalidades de nova geração.

DASHBOARD

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Cheirinho de carro novo: essa é a sensação de ligar o PlayStation 5 pela primeira vez.

Carro é sempre carro, mas entrar em um novo, com outro desenho de painel, rádio com botões diferentes e compartimentos que o seu veículo antigo não tinha é sempre uma experiência empolgante. Melhor ainda quando o novo é melhor que o antigo!

Em linhas gerais, o sistema do PlayStation 5 está mais organizado que o anterior: os menus são mais objetivos, o visual é mais limpo. Gostei das abas separadas para Jogos e Mídia (que reúne os aplicativos como YouTube, Netflix, etc) das configurações e opção de perfil, que não ficam misturados.

Reprodução/START Reprodução/START

A interface também está muito mais conectada com os jogos. Na tela inicial, que eu gosto de chamar de vitrine, aparecem informações como a missão que você está jogando e quanto falta para completá-la.

O problema é que isso só vale para os jogos de PS5 —nos games de PS4 aparece apenas a lista de troféus.

Já a maior dificuldade de adaptação dos jogadores de PlayStation 4 vai ser o uso do botão "principal", o logotipo PlayStation. Agora ele funciona com um clique simples, abrindo o menu de controles, no qual é possível fechar aplicativos e jogos, desligar o console e basicamente tudo que o menu do "direcional para cima" faz no PS4.

Mesmo depois de duas semanas com o console, eu ainda me pego segurando o botão PS para fechar um jogo ou tentar desligar o PlayStation 5 —malditos hábitos!

GAMES

Reprodução/START
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Para a análise do PS5, a Sony disponibilizou os jogos Marvel's Spider Man: Miles Morales e Devil May Cry 5 Special Edition.

Minha primeira experiência de jogo no PlayStation 5 começou com uma decepção, já que Marvel's Spider Man: Miles Morales me fez escolher entre 4k com ray tracing ou melhor taxa de quadros.

Devil May Cry 5 Special Edition oferece algo parecido: é possível ligar ou desligar o ray tracing. Com o recurso desligado, é nítido o aumento da taxa de quadros.

Essas opções que adicionam vantagens em um aspecto do jogo para sacrificar outro, como se a vida fosse um RPG, devem marcar a nova geração. Eu esperava mais do PS5 para não ter que fazer esse tipo de decisão, mas vamos aprender a lidar com isso.

De qualquer forma, tenho que ser justa: até mesmo computadores de ponta têm problemas para sustentar uma taxa de quadros de 60fps com ray tracing e tudo rodando em 4k sem nenhum tipo de 'upscaling'.

A questão é que consoles são "caixas-preta" que entregam os jogos sem que o usuário tenha que se preocupar ou até mesmo entender essas questões. Quem compra um PlayStation 5 depois de ouvir incansavelmente "ray tracing, 4k, FPS alto, sem loading, fast travel de verdade" espera que tudo isso realmente seja atendido. E é, mas não ao mesmo tempo.

Imagino que a minha decepção possa ser também a de muitas outras pessoas —principalmente em relação ao ray tracing, que é incrível, mas muito custoso para o hardware. Pelo jeito, ele só vai poder ser usado com o sacrifício de outros recursos.

Ray quem!?

O ray tracing é o tipo de melhoria visual que você observa nas pequenas coisas, como o reflexo do Homem-Aranha e da cidade em um prédio, em uma porta de vidro e similares.

Quando colocamos imagens com e sem ray tracing lado a lado, a diferença é enorme. O efeito é aquele detalhe que, no começo, você acha que não vai ser grande coisa, mas quanto mais joga, mais gosta dele.

O que torna a escolha entre ray tracing e 60 quadros por segundo mais difícil é que ambos são incríveis, cada um a sua maneira. A suavidade do jogo a 60 fps é algo indescritível, e depois que você vê o jogo desse jeito fica muito difícil voltar para os 30 fps.

Já uma promessa que o console cumpriu sem nenhum problema foi tempo de loading —ou a falta dele, cortesia do SSD.

Marvel's Spider Man: Miles Morales não tem nenhuma tela de loading. Abrir o jogo, escolher seu save e começar a jogar: tudo isso gera uma "espera" de, no máximo, 4 segundos. O fast travel é uma piscada de tela —é muito louco comparar isso com as viagens de metrô de Marvel's Spider-Man de 2018.

Nesse ponto já podemos comemorar: jogo (quase) sem loading é uma realidade!

Porém, é bom reforçar que os jogos testados ainda não podem ser considerados realmente "de nova geração": Devil May Cry 5 Special Edition é uma atualização do jogo de 2019 e Marvel's Spider-Man: Miles Morales, além de ser claramente construído em cima da base de Marvel's Spider-Man, de 2018, também foi lançado para PlayStation 4.

Hora do teste: comparando games no PS4 e no PS5

RETROCOMPATIBILIDADE

Finalmente, depois de duas gerações perdendo a nossa biblioteca de jogos, a Sony nos deu uma geração com retrocompatibilidade. Jogos de PS4 são (quase) todos jogáveis no PlayStation 5, e é possível transferir seus saves e continuar o jogo exatamente de onde parou.

A pergunta que não quer calar é: os jogos rodam melhor no console mais recente? A melhor resposta para essa pergunta é: depende.

Se a Microsoft optou por criar ferramentas e recursos que melhoram os jogos sem precisar de atualizações das desenvolvedoras, a Sony foi pelo outro caminho e deixou a decisão na mão de quem faz os jogos.

The Last of Us Parte II e Final Fantasy 7 Remake, por exemplo, não tiveram nenhum update até a publicação desta análise e se comportaram de forma idêntica no PlayStation 5 e no PlayStation 4 Pro.

Já com Ghost of Tsushima aconteceu uma situação, no mínimo, bizarra.

Jefferson Kayo/Reprodução Jefferson Kayo/Reprodução

O game sobre samurais até inicia super rápido no PS5, e em pouco mais de 10 segundos e já estamos no menu principal.

Porém, na hora de carregar um jogo salvo, o loading no PS5 demora mais do que o PS4 Pro! E não é pouca coisa, são dez segundos de diferença (como podem ver no vídeo mais acima). Isso porque o jogo recebeu uma atualização que, supostamente, traria melhorias para o novo console.

Isso só mostra que a retrocompatibilidade ainda não está totalmente perfeita, mesmo em jogos exclusivos de PlayStation. Nesse quesito, a Sony ainda tem muito a melhorar.

VALE A PENA COMPRAR UM PS5?

Mariana Pekin/UOL

Por mais que a experiência do PlayStation 5 seja claramente superior à do PlayStation 4 em vários aspectos, eu ainda reluto em recomendar que qualquer um quebre seu cofrinho e tenha um console de nova geração para chamar de seu no momento.

Sim, o cheirinho de carro novo é muito tentador, mas não a ponto dos R$ 4.799.

Eu não tinha intenção de comprar o PlayStation 5 no lançamento, e passar pouco mais de duas semanas com o console não me fez mudar de ideia.

Passar duas semanas com o PS5 não me fez querer comprar um agora no lançamento

A única coisa que me faria comprá-lo agora seria um lançamento exclusivo de meu interesse, e o remake de Demon's Souls não se encaixa no quesito. Agora, se esse é o seu caso, vai fundo: o console é bom e tem um futuro brilhante pela frente.

Mariana Pekin/UOL Mariana Pekin/UOL

O DualSense é legal demais, o ray tracing também, jogos sem espera de loading são uma maravilha. Mas na hora em que coloco tudo isso ao lado dos mais de quatro mil reais, o preço fala mais alto.

Além disso, muitos jogos ainda serão lançados também para PS4, como Marvel's Spider Man: Miles Morales foi, e nem as melhorias gráficas das versões de PS5, pra mim, justificam o custo.

Por enquanto, não vejo motivo para trocar meu PS4 Pro e entrar na nova geração de PlayStation. Ainda assim, estou empolgada para ver como serão os jogos feitos apenas para o novo console —serão eles que me farão comprar o PS5.

A nova geração será vista e sentida nos detalhes muito mais do que em pura fidelidade gráfica.

Já para quem não tem um console da geração anterior, pode ser vantagem gastar um tanto a mais e já ficar pronto para o futuro. Afinal, ele acabou de chegar com o PlayStation 5.

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