Topo

SBGames 2010 termina celebrando exportação em alta e desenvolvedores independentes

<b>THÉO AZEVEDO*<br> Enviado a Florianópolis<

10/11/2010 18h26

Após três anos de trabalho duro e US$ 200 mil bancados do próprio bolso, o programador norte-americano Jonathan Blow conseguiu, praticamente sozinho, produzir o seu próprio jogo: "Braid" chegou ao Xbox 360 em 2008 e virou um sucesso instantâneo de vendas e crítica.

Jonathan foi um dos principais palestrantes do SBGames 2010, que reuniu cerca de 800 estudantes, empresários e entusiastas da área de jogos em Florianópolis, entre os dias 8 e 10 de novembro. A maioria dos participantes era formada por estudantes de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e vários outros estados brasileiros. Em comum, todos têm o sonho de produzir jogos, seja de forma independente, como Jonathan, seja trabalhando em empresas (ou mesmo fundando-as).

Os ventos sopram a favor em ambos os casos: na faceta "indie", nunca foi tão fácil criar e publicar um jogo, graças às plataformas de "self-publishing" como AppStore, Steam e Facebook, que levam jogos às massas e dividem o lucro com o produtor; quem prefere trilhar carreira em empresas, encontra oportunidades em produtoras que nunca lucraram tanto quanto nos dias atuais - em 2009, segundo a Softex, exportaram US$ 2,75 milhões, quantia cinco vezes superior se comparada a 2005.

Ainda assim, a verdadeira vocação do SBGames é a integração acadêmica, já que o evento é provavelmente o principal ponto de encontro daqueles que, além da diversão, encaram o jogo como objeto de estudo - atualmente, há mais de 50 instituições de ensino com cursos de game no país. No SBGames, temas como jogos na TV Digital e na educação ("edutainment") figuraram entre os mais populares dentre os trabalhos acadêmicos apresentados.

Qualidade "Made in Brazil"

No evento também acontece o Festival de Jogos Independentes, oportunidade para pessoas e empresas mostrarem suas criações. Dentre os 34 títulos participantes, destacaram-se "Krimson", game 3D no qual o jogador controla um dragão; "Painting Rage", um puzzle que brinca com cores, e "Star Triad", um típico game de nave. São jogos de qualidade e feitos por pessoas que acreditam e apostam as suas fichas no sonho de construir uma indústria de games forte no Brasil.

Há a oportunidade de, com o networking, candidatar-se a vagas de empregos disponíveis em produtoras tupiniquins. Uma delas é a Hoplon, com cerca de 110 funcionários, cujo jogo principal, o MMO "Taikodom", custou US$ 15 milhões. No estande da empresa, os estudantes podiam deixar seus currículos e até mesmo conversar com funcionários do departamento de RH.

Divulgação
Estande da Hoplon no SBGames 2010


A indústria local, aliás, atrai olhares estrangeiros: a Sony, que marca presença no evento desde 2007, implantou um programa para apoiar universidades e produtoras de jogos no Brasil. "É um trabalho que caminha em ritmo lento", admite Bruno Matzdorf, gerente de grupo de suporte a desenvolvedores da empresa. Ainda assim, a companhia espera, até a próxima edição do evento, que acontecerá em 2011 na cidade de Salvador, colocar kits de desenvolvimento de jogos para PSP, PS2 e até mesmo PS3 nas mãos de 20 empresas brasileiras.

O SBGames 2010 recebeu ainda a visita de empresas e instituições francesas de games, iniciativa que integrou o 1° Encontro Franco-Brasileiro sobre Videogames. Foi discutido o desenvolvimento de parcerias comerciais e co-produções, além de colaborações entre universidades e laboratórios de pesquisa e pólos de competência.

Entretanto, mesmo em um cenário tão favorável, com empresas, instituições de ensino e vários jovens talentos, o apoio do Governo ao setor é escasso - hoje praticamente limitado a editais que são alvo de disputas acirradas entre os interessados. Em outras cidades do mundo, como Atlanta e Montreal, o suporte dos governos locais foi fundamental para transformá-las em referências mundiais para quem anseia trabalhar na área.

Embora ainda falte muito para que o Brasil comece a figurar entre os principais pólos de desenvolvimento de jogos, o SBGames mostra que, ao menos no que depender dos maiores interessados, os próprios participantes desta indústria, o jogo está apenas começando.

* O jornalista viajou a convite da Hoplon Infotainment.