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Jogo brasileiro "Goumi" busca ensinar economia para crianças e adolescentes; leia entrevista

DOUGLAS VIEIRA<br> Colaboração para o UOL

03/02/2011 14h48

Um brinquedo bacana geralmente custa caro e às vezes a quantia necessária não está disponível, mas para muitas crianças isso pode ser resolvido facilmente utilizando o cartão de crédito ou indo até uma máquina de auto-atendimento, onde basta apertar alguns botões e o dinheiro "magicamente" aparece. Porém, os pais sabem que as coisas não acontecem dessa forma, e é exatamente isso que o game online sem limite de jogadores "Goumi" pretende ensinar.

Em desenvolvimento há dois anos pela Cedro Games, uma divisão da empresa mineira Cedro Finances, o "Goumi" está em fase de testes desde o dia 1 de janeiro, conta com mais de 2000 jogadores cadastrados e aproximadamente 160 acessos por dia. A média de idade varia entre seis e 14 anos e todos os habitantes deste universo buscam compreender um pouco mais o mundo "complicado" dos adultos.

No "Goumi", assim como em qualquer outro game online sem limite de jogadores, é preciso criar um avatar, definir algumas de suas características físicas e depois ingressar no mundo do jogo. Quando isso acontece, o personagem aparece em uma casa vazia, sem mobílias e com áreas para plantar. A partir da pequena quantia recebida inicialmente é preciso prosperar e, mais do que isso, aprender a administrar cada centavo.

Do dinheiro obtido ao vender itens produzidos (que podem ser suco, algodão e outros materiais) a personagens controlados pelo computador (também conhecidos como "NPCs"), é preciso reservar uma parte para pagar as contas de água e luz, mobiliar a casa, comer, comprar remédio, abrir uma conta no banco e realizar outras atividades cotidianas.

Para entender um pouco mais sobre esse universo, UOL Jogos conversou com Clauton Pugas, executivo de negócios da Cedro Games, que nos explicou a origem do projeto, os planos para o futuro e outras coisas relacionadas ao "Goumi".

UOL Jogos: Como surgiu a ideia de criar o "Goumi"?
Clauton Pugas: Tivemos a oportunidade de desenvolver o "Goumi" com o apoio da FAPEMIG [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais]. A partir dessa ajuda, pensamos em como seria interessante desenvolver um game de educação financeira para crianças.

A FAPEMIG investiu R$ 414 mil no início do desenvolvimento do "Goumi". Parte desse dinheiro vem do governo de Minas Gerais e outra parte do Governo Federal.

UOL: Vocês pensam em buscar parcerias com empresas privadas?
Clauton: Há algumas companhias com as quais estamos em contato para incluir conteúdo no jogo. Empresas de produtos de limpeza, turismo e algumas outras. Por ora não há nada certo, mas pretendemos concretizar tais ideias num futuro próximo.

UOL: E como essas empresas atuariam dentro do universo do "Goumi"?
Clauton: O que temos bem claro é que não queremos ser um Second Life. Neste, por exemplo, você tem o prédio de um banco e o usuário interage com o personagem de um funcionário para obter informações.

Caso firmemos parceria com uma empresa que vende eletrodomésticos, queremos que exista uma loja [dentro do game] para onde o jogador possa se deslocar e adquirir um item para sua casa. Antes de assinarmos qualquer contrato, avaliaremos se é possível uma relação direta com o jogo - até porque se fizermos o contrário certamente vocês da mídia vão criticar muito (risos).

Uma coisa que queremos é incluir uma empresa de animais de estimação. Muitos pais nos pedem isso, e é importante que a criança saiba, desde pequena, que um bichinho gera custos. Como a nossa ideia é educar financeiramente, é importante que ela entenda que é preciso levar o bicho ao veterinário e comprar ração. Com isso, pretendemos ensinar que uma mascote não serve apenas para passear, que há obrigações e gastos por trás de tudo isso.

Veja trailer de divulgação de "Goumi"


UOL: Há planos de cobrar, com moeda real, por algum conteúdo distribuído dentro do "Goumi"?
Clauton: Num primeiro momento, não. O "Goumi" foi projetado para ser um jogo gratuito. Essa estratégia pode mudar no futuro? Pode, mas acreditamos que as parcerias firmadas com as empresas cobrirão os gastos que tivermos no decorrer do processo.

UOL: Tendo em vista o público alvo do "Goumi", alguma escola, pública ou particular, já demonstrou interesse em utilizar o game em alguma disciplina?
Clauton:Atualmente temos uma parceria com a prefeitura de Uberlândia, e a ideia é começar a utilizar o "Goumi" em duas escolas da rede municipal da cidade a partir de fevereiro como matéria extracurricular. Redes de ensino particular também demonstraram interesse, e algumas destas inclusive querem adicionar sua marca no game, mas como disse anteriormente, nada disso será feito se não houver um propósito maior para com o game.

UOL: Sendo o "Goumi" um game online sem limite de jogadores, vocês já têm ideias para expansões?
Clauton: Pretendíamos deixar uma versão e atualizá-la anualmente, mas percebemos que isso será um pouco complicado. O maior problema de desenvolver um game é que ele, ao contrário de um programa desenvolvido para uma empresa, precisa de novidades constantes, senão o jogador fecha o programa e vai fazer outra coisa. Temos o intuito de colocar coisas temáticas, como Páscoa, Natal e Ano Novo.

UOL: Mas isso está relacionado apenas a itens ou também há planos de incluir novas localidades?
Clauton: Essa área destinada à aquisição de animais de estimação, por exemplo, é algo que queremos adicionar o quanto antes. Outra coisa que temos em mente é que é necessário colocar um filtro de palavras para que a criança/adolescente seja punida ao falar um palavrão, bem como um sistema de controle de pais para que eles recebam um relatório, talvez via e-mail, de tudo que o filho fez e disse no jogo - apesar de que, na minha opinião, dependendo da idade do jogador é essencial que os pais estejam ao lado acompanhando o que seus filhos fazem no ambiente virtual.

Também pensamos em incluir NPCs que ofereçam valores diferentes quando a criança for vender um item para ele. Isso ajudará o jogador a desenvolver o senso de que, na vida real, não se deve negociar com a primeira pessoa ou loja que você entra; é preciso procurar por outras ofertas.

UOL: Com a experiência adquirida no desenvolvimento do "Goumi", vocês pensam em criar novos jogos?
Clauton: Nosso foco principal é "Goumi". Vamos oferecer suporte contínuo a ele, mas também podemos seguir para a área de advergames (nome dado aos games para divulgar marcas). No momento queremos nos tornar uma empresa reconhecida nacionalmente e internacionalmente, e mostrar que estúdios brasileiros também podem desenvolver bons trabalhos.