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Só no Japão: o que está acontecendo com os jogos nipônicos?

Akira Suzuki

Do UOL, em São Paulo

16/03/2012 21h27

  • Reprodução

    Criador de "Mega Man", Keiji Inafune foi um dos principais produtores da Capcom e agora tem sua própria empresa.

Um dos assuntos mais comentados da GDC, o principal evento para desenvolvedores de games, realizada na semana passada, foi a decadência dos jogos japoneses nos últimos tempos.

Primeiro foi Phil Fish, um dos mais celebrados desenvolvedores independentes da atualidade (está trabalhando no aguardado "Fez"), que respondeu a um programador e designer japonês que os jogos nipônicos de hoje "simplesmente fedem".

Fish não detalhou sua resposta e depois até se desculpou pelo modo rude de suas palavras, mas disse ao site Kotaku que não mudou sua opinião de que os games da Terra do Sol Nascente estão "terrivelmente ruins".

Depois, foi a vez de um próprio japonês, o ex-Capcom Keiji Inaba, dizer que o Japão deveria "assumir a derrota" para o Ocidente. Ele é "reincidente" no assunto: na Tokyo Game Show de 2009 ele já havia dito que a indústria local estava "morta". Para Inaba, é necessário "voltar às raízes" e "ter desejo de vencer novamente".

De fato, não dá para negar o declínio dos jogos japoneses. Pegue-se, por exemplo, a lista dos 30 melhores jogos de 2011 para PlayStation 3 do site Metacritic, que agrega resenhas das principais publicações do mundo: apenas cinco foram feitos no Japão, sendo que três são ou compilações ("Metal Gear Solid HD Collection") ou relançamentos ("Radiant Silvergun" e "Street Fighter III: Third Strike Online Edition"). Sobrou só "Dark Souls" e "Marvel vs. Capcom 3" para salvar a lavoura.

Aliás, vendo em fóruns japoneses sobre as declarações de Fish, a maioria concorda com ele e poupa poucos títulos (como o próprio "Dark Souls") e empresas (Capcom e Nintendo).

O fato tem mais a ver que a produção ocidental, principalmente a dos Estados Unidos, cresceu muito nos últimos anos. Os norte-americanos, particularmente, possuem uma escala industrial quase incomparável, da mesma forma que Hollywood domina a produção mundial de filmes. Basta ver os créditos de um game como "Call of Duty: Modern Warfare 3" e contar quantos nomes aparecem ali. É um tipo de jogo que nenhuma companhia japonesa conseguiria fazer.

Gigantismo

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    Um dos jogos preferidos dos produtores japoneses, "The Elder Scrolls V: Skyrim" é daqueles títulos cuja escala seria impossível de realizar por empresas nipônicas

Vejo que essa virada do Ocidente aconteceu na era do PlayStation 2, Xbox e GameCube, quando a tecnologia, principalmente a gráfica, passou a falar mais alto - e a importância da parte tecnológica aumentou ainda mais alta na atual geração. Os japoneses sempre trataram a produção de jogos como algo artesanal, muitas vezes desenvolvendo um motor gráfico por jogo, enquanto no Ocidente se investia no melhor "engine" possível para ser usado em diversos games (ou até usar tecnologias de outras empresas).

Os japoneses se orgulham de ser um "shokunin", ou seja, ter o "espírito do artesão", e isso lhes foi especialmente útil na era dos jogos em 2D e em obras como "Okami" e títulos da Vanillaware ("Odin Sphere" e "Muramasa: The Demon Blade"). Também ajudou a ter sucesso no Nintendo DS e no PSP, mas, por outro lado, fez com que ficasse ainda mais defasado nos consoles de ponta.

Será complicado para os japoneses competirem em escala com os Estados Unidos - quem mais pode lhes fazer frente parece ser a Capcom, que tem 600 pessoas trabalhando em "Resident Evil 6" -, mas que encontrem inspiração para seguir o exemplo de games como "Dark Souls", "Street Fighter X Tekken", "El Shaddai", "Catherine", "Rhythm Heaven Fever", "Super Mario 3D Land" e "Xenoblade Chronicles".