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Jogamos: "Remember Me" traz quebra-cabeça inovador em ótimo jogo de luta e aventura

Claudio Prandoni

Do UOL, em Paris*

06/02/2013 16h55

Enquanto "Dishonored" brilhou como uma das principais novidades de 2012, "Remember Me" chega com potencial para ser uma das grandes surpresas desta temporada ao mesclar exploração ao estilo "Uncharted" com lutas que lembram "Batman: Arkham City" e apresentar o ousado quebra-cabeça Memory Remix.

Essa foi a impressão deixada pelos dois capítulos testados por UOL Jogos em visita à equipe da produtora Dontnod, em Paris, na França. Com opção de legendas em português do Brasil, o game sai no dia 30 de maio para PlayStation 3 e Xbox 360 e sai depois também para PC.

Com fortes influências de "Blade Runner" e outros clássicos do gênero cyberpunk, "Remember M" acontece no ano de 2084 na cidade de Neo-Paris, versão reconstruída da capital francesa após uma terrível guerra civil na Europa. Privacidade é coisa do passado, memórias podem ser manuseadas e comercializadas como bens físicos e um governo autoritário controla o que todos sentem e lembram.

Neste cenário surge Nilin, uma guerreira intrépida capaz de acessar e alterar memórias de indivíduos. "Remixar memórias mudam o mundo. Eu escrevi estas cinco palavras em uma das primeiras reuniões de desenvolvimento e elas são um guia consistente do que é o jogo", explica Jean Maxine, diretor criativo de "Remember Me".

Jogo da memória

Na prática, o Memory Remix é um puzzle em formato de vídeo. Apenas em momentos determinados da aventura é possível usar o poder e isso leva a uma animação. Após assistir ao vídeo, o jogador recebe um objetivo e pode rebobinar ou avançar a sequência e interagir com certos elementos para realizar a missão.

Por exemplo, o trecho testado mostrava uma moça fazendo transfusão de memórias para o marido doente. O objetivo é alterar a memória de maneira que ela acredite que o marido não aguentou o processo e morreu.

Assim, após ver o vídeo, ele começa de novo, mas com a opção de interagir com alguns objetos conforme eles surgem em cena, como uma bandeja com instrumentos médicos, as travas que prendem o homem doente à maca e - bingo - a máquina que aplica remédios ao enfermo. Basta interagir com o equipamento para trocar o medicamento usado e fazer o homem morrer.

Há muitos elementos para mexer, levando inclusive a finais diferentes para o Memory Remix. Contudo, apenas um é o correto, o que cumpre a missão e faz a história progredir.

Para simplificar, funciona como um quebra-cabeça nos clássicos adventures de aponte-e-clique: você possui uma situação e deve resolver utilizando itens em uma ordem correta. A diferença é que aqui tudo se desenrola em um vídeo e todos os Memory Remix possuem uma forte carga narrativa, fazendo a trama do game avançar.

TESTAMOS O JOGO EM PARIS; VEJA AS IMPRESSÕES

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Drake vs. Batman

Além de ser uma poderosa hacker de memórias, Nilin é também uma exímia atleta e lutadora. A maior parte do jogo se resume a explorar Neo-Paris, correndo, escalando e pulando pelas ruas e prédios da cidade.

A ação toda se desenrola tal qual na série "Uncharted": o caminho é linear, com poucas margens para exploração - os mais curiosos encontrarão itens para aumentar barras de vida e golpes especiais.

Felizmente, tudo é feito com qualidade de dar orgulho a Nathan Drake, já que desde os becos mais sujos até as vielas e bistrôs da Paris futuristas contam com diversos detalhes que enriquecem a paisagem, como placas de publicidade, entulhos, cabos e máscaras pendurados e pedestres que falam e se movem.

A experiência não é livre de problemas: setinhas laranjas indicam o caminho que Nilin devem seguir, mas nem sempre é fácil encontrá-las - sem contar que os próprios trajetos nem sempre são tão intuitivos como "Uncharted". Em algums momentos é possível apertar um botão para centralizar a câmera nas setinhas, mas ainda assim a confusão permanece.

Quem sabe, até o lançamento do jogo no final de maio isso possa ser corrigido ou, ao menos, as fases posteriores tenham percursos mais intuitivos.

GUIA DE VIAGENS

  • Divulgação

    "Remember Me" é salpicado de referências à cultura francesa. Os habitantes marginais de Neo-Paris, que vivem nos entulhos e possuem sensen defeituosos, são chamados de Os Miseráveis e alguns dos mais fortes deles possuem corcundas e rostos deformados que lembram uma certa figura lendária da catedral de Notre Dame.

    Por fim, além dos diversos monumentos que aparecem nos cenários do jogo - a exemplo da Torre Eiffel e o Arco do Triunfo -, a própria protagonista Nilin é uma guerreira de cabelos ruivos que luta em prol da justiça, o que lembra muito a heroína histórica Joana d'Arc.

    Segundo o codiretor de arte, Michel Koch, nada disso foi intencional, mas o fato de serem elementos tão fortes no imaginário coletivo do povo francês possa ter colaborado para aparecerem no jogo.

CLUBE DA LUTA

Em "Remember Me" é possível atribuir quatro atributos diferentes aos golpes dos combos de Nilin. São eles:
RegenCausa pouco dano, mas recupera a vida de Nilin
PowerCausa grandes danos e leva a golpes de finalização
CooldownCausa pouco dano, mas reduz o tempo de espera para usar golpes especiais
ChainDobra o poder do Pressen anterior

Com relação aos combates, a experiência não é tão polida como nos títulos da série "Batman: Arkham", mas é muito parecida. Nilin enfrenta grupos de vários inimigos com socos e chutes, podendo esquivar facilmente ao toque do botão de pulo.

A inovação aqui fica por conta do Combo Lab, um engenhoso sistema de combos: você aprende apenas algumas sequências de golpes, mas pode atribuir efeitos diferentes a cada um. Assim, é possível personalizar as combinações com golpes de maior impacto, outros que recuperam energia vital e alguns que reduzem o tempo para desferir golpes especiais.

O sistema funciona bem para quem prefere só esmagar botões, mas aqueles que mergulharem no mecanismo encontrarão um divertido e intricado sistema que permite adaptar a heroína para várias situações e níveis de habilidade.

Enfim, ao menos no par de capítulos iniciais os combates pecavam um pouco por muita repetição, com pencas de inimigos fáceis de abater. Seria interessante se Nilin tivesse uma variedade maior de golpes e equipamentos para usar e tornar as lutas mais variadas.

Anote na agenda

"Remember Me" enfrentará fortíssima concorrência ao chegar às lojas em 30 de maio: o game aparece depois de títulos muito promissores como "God of War: Ascension", "Gears of War Judgment", "BioShock Infinite" e "Tomb Raider" - ao menos "GTA V", que chegaria até o final de junho, foi adiado para setembro.

Infelizmente, por bater de frente com tantas franquias consagradas, "Remember Me" deve acabar passando batido por muitos jogadores e, pelo que pudemos testar em Paris, isso seria uma grande injustiça. A nova aposta da Capcom realiza com muita qualidade e competência as melhores partes de clássicos dos últimos anos e ainda apresenta o intrigante e inovador quebra-cabeça Memory Remix. É um jogo agradável, com desafio e variedade na medida, bonitos gráficos e uma direção de arte marcante.

Para quem procura por ótimos games de ação ou algo diferente depois de jogar à exaustão os títulos que você tanto espera desde o ano passado, vale lembrar de "Remember Me".

OS SONS DE NEO-PARIS

  • Divulgação

    Composta por Olivier Deriviere, a trilha sonora de "Remember Me" foi toda gravada pela Philharmonia Orchestra de Londres com cerca de 65 instrumento. No game, os trechos orquestrados foram processador por sintetizadores para ganharem características de música eletrônica e assim combinar melhor com a temática futurista do jogo.

    Durante as lutas, as músicas são dinâmicas: há um punhado de temas de combate, mas as canções mudam conforme o que acontece e um combo bem sucedido dá vez a arranjos diferentes do que usar um golpe especial ou ser acertado pelos adversários.

* O jornalista viajou a convite da Capcom