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Da paixão ao trabalho, brasileiro transforma 'overclocking' em carreira

Théo Azevedo

Do UOL, em Las Vegas*

09/01/2014 15h02

Se você tem o hábito de jogar no PC certamente já ouviu por aí o termo "overclocking", que basicamente consiste em forçar um componente do computador - processador, placa de vídeo, memória RAM - a rodar numa frequência mais alta do que aquela especificada pelo fabricante, o que pode ser feito através de resfriamento com ar, água ou até mesmo nitrogênio líquido ou gelo seco.

No Brasil há pelo menos 600 "overclockers", como são chamados os praticantes, cadastrados na liga mundial da modalidade, o que coloca o país praticamente entre os dez com maior número de adeptos.

Sim, é comum começar a fazer overclocking com o simples e nobre objetivo de aumentar a performance dos componentes e, com o tempo, participar de competições profissionais. Foi exatamente essa a trajetória de Iuri Santos, 28 anos, um dos principais overclockers do Brasil.

Iuri começou a fazer overclocking aos 17 anos em seu primeiro PC, que não rodava mais os jogos que saíam na época. “Descobri que era possível melhorar o desempenho do processador e da placa de vídeo aumentando a frequência em hertz, e realmente funcionou”, conta. “A partir dali comecei a pesquisar mais sobre o assunto e, desde então, todos meus PCs foram pensados já com o overclocking em mente”.

Para Iuri e os praticantes de overclocking, não há dúvida: trata-se de uma arte, com todas as suas nuances e especificidades. “Todos os componentes precisam ‘conversar’ entre si em perfeita harmonia e estabilidade, da fonte capaz de suportar as variações ao gabinete ventilado”. No meio do caminho, claro, perder componentes é bastante comum, pelo menos até pegar o jeito da coisa.

Dali até começar a participar de campeonatos internacionais, para Iuri foi um pulo: ele já esteve em quatro mundiais, em locais como Taiwan e Las Vegas, chegando a ficar em 8º num deles. “O overclocking ainda não tem as premiações que merece, principalmente quando comparado ao eSport e seus torneios milionários”, explica Iuri, quando comenta sobre o alto custo que envolver manter a prática do esporte – afinal, é preciso treinar com componentes caros, nem sempre fornecidos pelas empresas. “Geralmente quem ganha os campeonatos não recebe de volta tudo que gastou para estar lá, mas vale pelas amizades que você faz, o conhecimento que você adquire e o prazer de mexer na máquina, que é algo que não tem preço”.

Segundo Iuri, as empresas estão voltando cada vez mais suas atenções ao overclocking – especialmente, claro, as fabricantes de componentes. “O overclocker é o cara que mais entende de hardware, além de ser um formador de opinião. Ele testa equipamentos e, se conseguem bons resultados, é quase como um laudo que atesta a qualidade dos componentes”.

Embora seja formado em Engenharia de Petróleo, a paixão de Iuri pela tecnologia falou mais alto. Tão alto que ele uniu o útil ao agradável ao aceitar um emprego na Kingston, fabricante de dispositivos de memórias. Como especialista em tecnologia da empresa, ele precisa entender sobre todos os produtos, aplicações e especificações, além de fazer palestras e, claro exibições de overclocking.

Para quem quer começar a praticar overclocking, Iuri recomenda pesquisa e proatividade: “O Brasil é rico em sites, fóruns, blogs e canais no Youtube. O ideal é começar a frequentá-los e fazer perguntas. Felizmente, a comunidade de overclocking é muito receptiva e está sempre disposta a ajudar quem está querendo aprender”.

*O jornalista viajou a convite da Kingston.