Da má fase do Wii U às franquias desgastadas, entenda a crise da Nintendo
Na última sexta-feira (17), a Nintendo anunciou que reduziu em quase 70% a expectativa de vendas do Wii U e que caminha para o terceiro ano de prejuízo nas contas. Na hora, o pânico tomou conta e as ações caíram, tanto no Japão com nos Estados Unidos, mas parte do valor já foi recuperado.
O que está acontecendo com a maior companhia de videogames do mundo? A crise tem várias explicações a começar pelo fraco desempenho do Wii U nas vendas (não por acaso, os prejuízos da Nintendo coincidem com a derrocada do Wii e o lançamento do sucessor).
Com a má fase, já tem acionista e investidor querendo a cabeça de Satoru Iwata, presidente mundial da companhia, que está há quase 12 anos no cargo. Mesmo assim, o executivo diz não ter intenção de deixar o posto.
Mas, mesmo com toda essa crise, não espere ver os jogos da Nintendo em plataformas que não sejam da casa, mesmo com a proliferação dos celulares. "Não significa que nós devemos colocar Mario em smartphones", diz Iwata. Por enquanto, a companhia descarta fazer o que a Sega fez quando falhou com o Dreamcast.
A seguir, UOL Jogos lista as razões para o mau desempenho da Nintendo:
1 - Fracas vendas do Wii U
Se passaram 14 meses desde o lançamento do Wii U e está difícil para o videogame decolar. Para o presente ano fiscal, que se encerra em março, a Nintendo previa vender 9 milhões de unidades do videogame, mas agora está se contentando com 2,8 milhões, uma redução de quase 70%.
Na berlinda
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Visto que não havia mudado a previsão em outubro, a Nintendo apostava todas as suas fichas nas vendas de final de ano. De fato, o Wii U teve seu melhor mês nos EUA em dezembro, segundo a consultoria NPD, e as vendas no Japão também foram altas. Mas, não foi o suficiente para manter a previsão inicial que já soava irrealista no ano passado.
O Nintendo 3DS viveu uma realidade parecida no passado, que precisou de um significativo corte de preço - e o lançamento de bons jogos - para conseguir se tornar um sucesso. Mas mesmo o portátil teve suas previsões reduzidas, de 18 milhões de 13,5 milhões, mesmo tendo sido o console mais vendido nos EUA em 2013.
O Wii U já tem um catálogo de jogos respeitável, a começar pelo consagrado "Super Mario 3D World". Então, qual o próximo passo? É baixar o preço, para alguns analistas, e até mesmo abandonar o console, segundo radicais, mantendo apenas o 3DS.
2 - Péssima estrutura online
Compre novamente
Perdeu ou trocou o 3DS ou o Wii U? Vai ter que comprar o jogo digital de novo
A Nintendo é a companhia mais atrasada, entre as concorrentes, (também) quando o assunto são os recursos online de seus videogames.
Vejamos: a empresa negligencia o multiplayer online. As ofertas de games por download são muito pequenas. Você tem que comprar os games em cada aparelho (mesmo que seja do mesmo modelo). A integração com redes sociais populares é quase nula.
Se é ruim lá fora, aqui no Brasil é ainda pior: o eShop do 3DS não está aceitando cartões de crédito de vários bancos, por conta de mudança de política com relação a compras feitas no exterior, e o Wii U foi lançado sem loja online. OK, isso não é culpa só da Nintendo, mas a companhia está demorando para resolver o problema.
Segundo contou um desenvolvedor anônimo ao Eurogamer, ninguém do time de rede da Nintendo tinha usado o Xbox Live ou a PSN para saber como eles operam. Se isso é verdade, ajuda a explicar por que a companhia tem tanta dificuldade em prover uma estrutura online decente para seus videogames.
3 - Franquias cansadas
É verdade que a Nintendo tem algumas das séries mais poderosas do mundo, como "Mario" e "The Legend of Zelda", mas nem elas estão imunes a lançamentos um atrás do outro. Só no ano passado, foram nove games com o bigodudo ou com o seu irmão, Luigi.
Até quando?
A série "Mario Bros." pode até ser sinônimo de qualidade, mas os lançamentos contínuos estão desgastando a franquia
O resultado é que, mesmo com um lançamento de peso, caso de "Super Mario 3D World", para Wii U, as vendas caem. No Japão, foi o pior lançamento para um game da linha principal de "Mario". Nos Estados Unidos, não apareceu entre os dez primeiros.
Some-se a isso, de viver do passado, está a incapacidade da companhia de Kyoto em lançar novas franquias. A linha de jogos casuais fez muito sucesso no Wii, mas não está tendo o mesmo vigor no Wii U.
Além de novas franquias, a Nintendo também deve para seus usuários um game que use realmente com criatividade a segunda tela do Wii U, afinal é a principal característica do console.
4 - Falta de apoio às 'third parties'
Biblioteca magra
O Wii U tem menos jogos multiplataforma que os concorrentes
Convenhamos: desde o Nintendo 64, os consoles da Nintendo praticamente viraram videogames para se jogar games da Nintendo (e de suas protegidas, como a Rare foi um dia).
No mais, os consoles da Big N são plataformas ingratas para as 'third parties' (publicadoras que lançam jogos para vários sistemas): é muito raro um título dessas empresas emplacarem.
Enfim, por várias razões, incluindo o fato de a empresa de Kyoto estar uma geração atrasada no que diz respeito à tecnologia de seus videogames, as 'thirds' não se sentem atraídas em lançar games para os videogames de mesa da Nintendo.
Isso não é problema para o 3DS, pois o PS Vita não lhe faz sombra, mas para o Wii U, a decisão das publicadoras é lançar games ou para esse console ou para o PlayStation 4 e Xbox One (assim como na época do Wii era entre esse e a dupla PlayStation 3 + Xbox 360).
5 - Concorrência mais feroz
Desde que a Sony entrou no negócio de videogames, a Nintendo enfrenta uma concorrência cada vez mais acirrada. A gigante dos eletrônicos venceu duas gerações de consoles, com o PlayStation original e seu sucessor.
Mais um desafiante
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Mesmo a vitória do Wii, na era do PlayStation 3, não pode ser vista como incontestável, pois o console da Sony ainda está na ativa e seu 'attach rate' (número de jogos vendidos por console) é maior.
Até mesmo no terreno dos portáteis, onde reinava absoluta, a Nintendo está enfrentando dificuldades com a popularização dos smartphones. Os celulares contam com uma enorme quantidade de jogos, muitos deles gratuitos, e a qualidade está aumentando a cada dia.
Para a Chris Kohler, da Wired, a Nintendo não deve fazer games para smartphones, mas tem o que aprender com eles, revendo sua política de preços e abrindo suas portas para desenvolvedores independentes.
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