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E3: Com público de 1 bi, jogos para celulares ficam em 2º plano na feira

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do Gamehall, em Los Angeles

13/06/2014 17h25

Quem passou pela E3 nunca poderia imaginar que o setor de games para celulares e tablets é o que mais cresce ano após ano na indústria: apesar de serem jogados por 1 bilhão de pessoas, segundo dados do IDC, estes títulos ficam marginalizados numa feira que é claramente voltada aos revendedores de games. Na E3, via de regra, os jogos mobile são relegados a pequenos espaços ou ficam escondidos nos cantos dos estandes.

“Pode parecer que estamos escondidos aqui, mas a verdade é que tivemos muito mais espaço este ano que no anterior”, explicou Dan Tausney, executivo marketing da Chillingo, enquanto sentava-se no espaço da EA Mobile - uma pequena sala no estande da gigante dos games, sem enfeites ou firulas, acessível apenas àqueles com horário marcado.

Para apresentar seus dois jogos em exibição, “Mech” e “Street Kart”, Tausney não preparou nenhum trailer cinematográfico. Ele simplesmente me passou seu iPad e pediu para que eu jogasse e desse minha opinião. “Meus colegas lá na Inglaterra me orientaram a pedir feedback do público. Pessoalmente, acho que o robô podia se mover mais rapidamente”, opinou humildemente enquanto eu testava o primeiro dos títulos.

  • A Chilingo ficou conhecida principalmente por distribuir jogos como "Cut The Rope" para smartphones e tablets

Diferenças

“Ainda existe uma diferenciação muito grande entre o que é uma megaprodução tradicional e uma para dispositivos portáteis”, prosseguiu o representante da Chillingo. “Querendo ou não, as pessoas vêm para a feira querendo ver ‘Battlefield’, ‘FIFA’ - as maiores séries. E quando chega a hora de tratar dos jogos mobile, elas perguntam, ‘Por que vocês não fazem um ‘Battlefield’ para celulares?’, como se devêssemos apenas lançar o mesmo jogo em um tamanho menor. Mas não é isso que fazemos”.

De fato: tanto “Mech” quanto “Street Kart” são planejados como jogos gratuitos que serão monetizados através da venda de conteúdo opcional - e esse é o padrão seguido pela maioria esmagadora dos games mobile exibidos na E3 2014. Enquanto isso, as empresas que anunciam preços para seus títulos de consoles apenas repetem: “60 dólares”.

Da Square Enix, os destaques “Final Fantasy Agito” e “Hitman: Sniper” também seguirão o modelo ‘free-to-play’, mesmo funcionando a partir de mecânicas tradicionais dos gêneros RPG e shooter, respectivamente. E o mesmo vale para outros anúncios da feira, como “Dungeon Gems” e “Asphalt Overdrive”, da Gameloft, e “Sonic Jump Fever”, da Sega.

Detalhe: os jogos estavam disponíveis para testes, mas encontrar seus produtores para fazer perguntas era difícil. Em geral, representantes terceirizados assumiam esse papel. Pela fala de uma assessora da EA, interromper o trabalho dos desenvolvedores por causa da E3 não faria sentido – embora isso seja exatamente o que acontece em todo o restante da feira.

  • "Sempre nos perguntam, ‘Por que vocês não fazem um ‘Battlefield’ para celulares?’, como se devêssemos apenas lançar o mesmo jogo em um tamanho menor. Mas não é isso que fazemos” - Dan Tausney, executivo marketing da Chillingo

Crescimento

Após tecer um comentário igualmente honesto sobre “Street Kart” durante meu test drive, Dan Tausney continuou: “Em breve, ficaremos grandes demais para sermos ignorados. Bom, na verdade, o mercado mobile já é grande demais para ser ignorado. Mas nós estamos crescendo, e rápido. Há uns quatro anos, pensar que nós da Chillingo estaríamos com espaço em uma E3 era uma ideia surreal, de outro mundo. E hoje estamos aqui, em uma sala maior que em 2013”.

“A feira também serve a varejistas, a quem jogos para tablets não interessam - mas o público tem os olhos voltados para cá, e eles não discriminam por plataforma ou formato. Por isso, temos cada vez mais espaço”, disse.

Bem de frente para a principal entrada da ala sul do Los Angeles Convention Center, o estande da Electronic Arts tinha grandes cartazes destacando “Battlefield: Hardline”, “FIFA”, “Titanfall” e “Dragon Age: Inquisition”. Segundo Tausney, no ritmo das coisas, um jogo de celular pode estar em evidência entre essas megaproduções já em 2015.

“É claro que isso é um desejo pessoal, mas acho que é inevitável. Mobile vai crescer e aparecer na E3 em breve”.