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De brasileiros, "Aritana e a Pena da Harpia" é baseado na cultura indígena

Théo Azevedo

Do UOL, em São Paulo

22/07/2014 14h57

Fruto do trabalho de quatro pessoas durante três anos, “Aritana e a Pena da Harpia” contraria a “sabedoria convencional” quando o assunto é produção de jogos indie no Brasil: é inspirado na cultura nacional, tema considerado de difícil viabilidade comercial, e está à venda em versão em caixinha, numa época em que predomina a distribuição digital – o jogo também pode ser adquirido por download, só pra constar.

“Aritana e a Pena da Harpia” é um típico jogo de plataforma que tem como protagonista o índio tupi-guarani Aritana em uma jornada pela cura do pajé de sua aldeia. “Queríamos algo simples, com uma história fácil de ser contada e que mostrasse as capacidades da equipe para, no futuro, sair em busca de investimento”, conta Pérsis Duaik, que junto com o irmão, Ricardo, forma a Duaik, empresa que nasceu como uma produtora de serviços e em animações e ilustrações.

Só que a vontade de fazer jogos sempre foi maior: eventualmente os irmãos encerraram as demais atividades da empresa para dedicarem-se exclusivamente à sua paixão. “Não tínhamos nenhum conhecimento em programação de jogos mais complexos, tampouco havia a possibilidade de contratar um programador”, lembra. “A solução foi pegar o conhecimento básico que tínhamos e estudar”.

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Os irmãos contaram com a ajuda de Rafael Morais, que atuou na modelagem 3D e na animação de “Aritana”, e de Vitor Ottoni, encarregado da trilha sonora. “Apesar da divisão de funções, no final todo mundo fez um pouco de tudo, o que acaba sendo positivo em equipes pequenas, onde é possível participar de todas as etapas e trazer um pouco de seu conhecimento para outras áreas”, opina Pérsis.

ÍNDIO QUER BGS

A Duaik será um dos expositores independentes presentes no Brasil Game Show 2014, que acontece em outubro, na cidade de São Paulo. “Estaremos lá com o jogo completo e abertos para qualquer dúvida, crítica ou ideia”, ressalta Pérsis. Aliás, este ano a feira terá um pavilhão inteiro dedicado às produtoras indies.

A escolha pela cultura indígena veio com o projeto já em andamento, e cercada de cuidados para evitar que “Aritana” ganhasse um caráter educativo ou coisa do gênero: “Não queríamos um jogo cultural, mas sim criar algo novo em que mostrasse nossas inspirações e ficamos muito orgulhosos com o resultado”.

Por se tratar da primeira empreitada do grupo, todo o projeto foi bancado do próprio bolso, mas Pérsis não fala em números: “Posso dizer que o jogo custou três anos de trabalho de cada um”. Pelo menos o esforço deu resultado: “Aritana e a Pena da Hárpia” começou a ser vendido na Splitplay, loja online dedicada a jogos independentes brasileiros, e em breve deve integrar o catálogo do Steam – por sinal, a cópia física inclui uma chave para o Steam.

No Big Festival, evento de jogos independentes que aconteceu em maio, na cidade de São Paulo, “Aritana” venceu a categoria Voto Popular. Foi o suficiente para chamar a atenção da distribuidora Techdealer, que resolveu bancar “Aritana” em versão física, a ser vendida nas prateleiras de revendas brasileiras. “Estamos muito animados com isso, uma vez que ter seu jogo em grandes lojas aqui do país parecia ser um sonho impossível”

A Duaik trabalhou em uma arte para a capa e para o disco com o objetivo de atrair os consumidores, ainda mais numa época em que comprar games para PC em caixinha parece tão fora de moda.

Para o futuro a Duaik pensa em levar o jogo aos consoles de Sony e Microsoft, mas tudo ainda não passa de planos – o jogo é tão recente que a empresa nem tem ainda números consolidados de vendas para divulgar. Por ora o time dedica esforços à missão de levar o jogo ao Steam, o que envolve implementar um sistema de conquista e de cartas.

  • Divulgação

    Pérsis Duaik, Vitor Ottoni, Rafael Morais e Ricardo Duaik, os criadores de "Aritana"

Em termos de sequências, tudo depende de como o original se sair: “Temos ideias até para ‘Aritana 5’, mas por enquanto estamos dando uma atenção especial para o jogo original. Ainda somos uma equipe pequena, portanto todos nós estamos cuidando do marketing agora”.

Otimista, Pérsis aposta que apenas as vendas no mercado brasileiro serão suficientes para bancar o investimento em torno de “Aritana”. Lançamento no exterior? Só depois que o jogo vingar por aqui – e, consequentemente, ajudar a indústria local: “Tem muita gente competente e com vontade de produzir [no Brasil], mas há pouca informação existente sobre o melhor caminho a se seguir. Vamos dar a cara para bater e no futuro ter a experiência para dizer onde erramos e acertamos”.

“Aritana e a Pena da Harpia” sai por R$ 24,90 na SplitPlay e R$ 34,90 na versão em caixa.