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Nintendistas: fãs abrem mão de "Call of Duty" e "FIFA" e ficam com "Mario"

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

28/01/2015 18h58

No final de 2014, enquanto os donos de PCs modernos, PlayStation 4 e Xbox One falavam sobre os novos "Assassin's Creed" e "Call of Duty", os "nintendistas", como se autointitulam os fãs da empresa, aceleravam nas coloridas pistas de "Mario Kart 8".

No mundo dos maiores fãs da Nintendo, pouco importa se é "FIFA" ou "PES" que é melhor. Em posse de seus Wii U e 3DS, eles se satisfazem com jogos como "Super Smash Bros.", "Zelda" e "Pokémon", sem precisar olhar para o jardim do vizinho.

"Eu me identifico demais com os jogos e as apostas da Nintendo. Não sou um fanático que renega as concorrentes por amor à empresa - é uma questão de pura identificação mesmo", explica o gerente de projetos Lucas Heitmann, 28, que se considera nintendista.

Diversão suficiente

Pouco ajudada por produtoras third-parties desde os tempos do Nintendo 64, quando EA, Ubisoft e outras debandaram para o lado do PlayStation, a empresa japonesa criou o hábito de ser autossuficiente na manutenção de suas plataformas.

  • Das grandes produções presentes em consoles concorrentes, Lucas menciona "The Last of Us" como exemplo de um jogo que ele gostaria de terminar.

Nos últimos anos, as baixas vendas do Wii U e a grande discrepância entre o poderio técnico do console e os dos seus concorrentes agravaram esse cenário. Até o final de 2014, 9,4 milhões de unidades do console tinham sido vendidas, contra 18,5 milhões do PlayStation 4, que foi lançado um ano depois.

Mesmo assim, a Nintendo consegue satisfazer os fãs. A empresa produziu três dos cinco jogos avaliados como imperdíveis pelo UOL Jogos em 2014, e foi eleita melhor produtora do ano pelo site de notas agregadas Metacritic.

"Tem tanto jogo bom que estou jogando ou que quero jogar que não sinto falta dos títulos que chegam às outras plataformas", conta o estudante Rafael Igayara, 23. "Meu Wii U nunca fica ocioso".

Em tempos em que jogos originais chegam às lojas custanto até R$ 230, focar-se em uma única plataforma é uma ideia com uma boa relação de custo-benefício. "Com dinheiro e tempo limitados, prefiro investir só em Nintendo", diz Rafael, que compra em média seis jogos por ano.

Lucas, que costuma investir em cerca de 15 jogos anualmente, concorda: "Tenho mais jogos do que tempo para jogá-los.

"SUPER SMASH BROS." É REUNIÃO DE HERÓIS DA NINTENDO

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Mundos únicos

Para os fãs da Nintendo, são vários os fatores que fazem games com a marca da empresa se destacarem.

  • "O único jogo que eu fiquei meio triste que não veio para o Wii U foi 'Assassin's Creed Unity'", diz Rafael.

"O valor sentimental dos jogos tem um impacto. Eu cresci alucinado por Mario e companhia", lembra Lucas. "Mas a Nintendo tem um estilo lúdico e uma qualidade que eu não vejo nas outras gigantes. É impossível não identificar um jogo da Nintendo na hora".

Rafael ecoa esse discurso, listando os diferenciais que ele vê em jogos da empresa: "Acabamento, originalidade nas reinterpretações de séries consolidades, senso de humor, nostalgia e jogabilidade sempre acessível".

A empresa costuma ser criticada por sempre repetir franquias, mas a lista de personagens em "Smash Bros." mostra que poucas desenvolvedoras têm tantas marcas queridas por seus fãs quanto a Nintendo.

"Sempre há um 'Zelda' novo, um 'Kirby' novo. Mas, apesar de manterem as essências de seus originais, esses jogos sempre inovam e surpreendem", explica o estudante Guilherme Rafael, 20. "Para quem não vai atrás, os jogos podem parecer iguais. Mas quem joga sabe que não é bem assim".

Abandonados pela Nintendo

Com a saída da Nintendo do mercado brasileiro, os maiores fãs da empresa perceberam que precisarão lidar com novas inconveniências.

"Agora a disponibilidade de alguns produtos vai ficar dependendo da boa vontade de vendedores fora do circuito tradicional", diz Lucas. "E isso abalou um pouco a moral. É triste ver a empresa batendo em retirada. Mesmo com o Brasil sendo um território um pouco hostil para essas empresas, é chato. A base de fãs aqui é muito grande, e sentimos o impacto".

"Quando a Nintendo veio para cá pela primeira vez depois do fim da parceria com a Gradiente, foi uma vitória. Logo, ela sair do Brasil foi uma derrota", desabafa Guilherme, que mesmo assim não sente sua paixão pela empresa diminuir. "Vou ter que viajar para comprar os jogos, ou encontrar algum jeito. Não tem como ficar sem".