"Disgaea 5" não inova, mas sistema profundo e replay infinito cativam
Já se passou mais de uma década desde que o primeiro jogo da franquia "Disgaea" chegou ao PlayStation 2. Para sermos mais exatos, "Disgaea: Hour of Darkness" fez sua estreia em 2003 e, de lá para cá, rendeu uma série de seis jogos canônicos e outros três com histórias paralelas, além de produtos como mangá e anime. É difícil dizer, portanto, que a franquia criada pela Nippon Ichi Software (e distribuída fora do Japão por companhias como Atlus, Ubisoft, Square Enix, além das filiais norte-americana e europeia da própria Nippon Ichi) não alcançou um determinado sucesso.
Fato é que, desde o primeiro jogo, a série "Disgaea" passou longe de ser um jogo para as massas. E essa questão pouco tem a ver com uma possível dificuldade elevada, mas por ser um dos poucos representantes de um estilo de game: um rpg estratégico com combates baseados em turnos. É um gênero que teve seu grande momento nos consoles durante os anos 1990 - entre os exemplos, há "Tactics Ogre: Let Us Cling Together" (SNES), "Final Fantasy Tactics" e "Vandal Hearts" (ambos para Playstation), entre outros. Uma segunda onda teve início na primeira metade dos anos 2000, com títulos japoneses desenvolvidos pela Nippon Ichi sendo trazidos para o Ocidente. "Disgaea", sem dúvida, foi o mais bem-sucedido dessa leva.
Chegamos então a "Disgaea 5: Alliance of Vengeance", sexto jogo da série principal e que desembarcou nos PlayStation 4 ocidentais em outubro de 2015. Se traçarmos um comparativo entre este game e o primeiro jogo da franquia, teremos poucas mudanças notáveis. Há, claro, um apuro técnico maior, porém o campo de batalha quadriculado com visão isométrica, os personagens animados por meio de sprites e os diálogos recheados de humor escrachado (este, um pouco desgastado se considerarmos os primórdios da série) ainda estão presentes. Os fãs da franquia se sentirão em casa.
História superficial, jogabilidade profunda
Como todo RPG que se preze, "Disgaea 5" tem uma história por trás de suas batalhas e sistemas. Em um resumo breve, tudo começa quando um lunático chamado Lord Void Dark está destruindo todos os planetas da dimensão dos demônios. Cada um destes reinos, chamados de "Netherworlds", possui um "overlord", espécie de rei, que normalmente atingiu o posto por ser o mais forte (ou rico) do pedaço. O jogador começa controlando Seraphina, que fugiu do seu Netherworld justamente porque seu pai fez um acordo com Void Dark para salvar o planeta. Em troca, ofereceu a mão da filha do casamento - coisa que não deixou a moça nada contente! Em suas viagens, Seraphina encontra Killia, um andarilho que, logo de cara a salva de um grupo ligado ao exército de Void Dark.
A partir daí, o grupo se reúne com outros personagens para tentar derrotar o vilão. Um belo clichê, certamente. A lista de personagens não é tão cativante quanto à vista em outras edições da franquia. E isso acaba afetando o humor, uma das marcas da série: em vários momentos, a impressão que sobra é que o jogo ficou sério demais.
O lado bom disso é que todos os mapas da história, em termos de jogabilidade, acabam tendo a função de prelúdio de luxo para o game. Assim como o visto em outros jogos da série, em "Disgaea 5" a grande graça é evoluir os personagens até níveis absurdos. Basicamente, todo e qualquer membro da sua equipe pode chegar até o nível 9.999. Uma vez lá, é possível utilizar a reencarnação para retornar ao nível 1 e começar tudo de novo. A razão para isso é um tanto maluca, mas simples: a cada reencarnação, seu personagem chegará ao último nível com status como força, defesa, inteligência etc, maiores. Para se ter uma ideia, o número máximo de cada um desses atributos é de 9,999 milhões.
É uma tarefa insana, mas há atalhos para ela ser atingida - ainda assim, mediante o investimento de algumas centenas de horas, considerando que há dezenas de classes diferentes de personagens "genéricos". Uma vez terminado o game, o jogador tem acesso a uma dimensão paralela, na qual estão versões dos mapas originais, porém com inimigos extremamente mais poderosos. O próprio jogo incentiva o "grind" (ato de repetir ações a fim de ficar mais forte), oferecendo quatro mapas com multiplicadores de experiência e também o chamado "Cheat Shop", no qual é possível mudar configurações como a quantidade de experiência recebida e o nível dos inimigos.
Também é possível evoluir itens por meio do "Item World", um mundo interno diferente para cada item do jogo e com centenas de mapas gerados aleatoriamente. Ou seja: o conteúdo do game é praticamente infinito. Um ponto no qual "Disgaea 5" peca é, justamente, a falta de explicação de todas essas mecânicas complexas. Prepare-se, portanto, para gastar um bom tempo lendo os diversos guias presentes na Internet.
Visual datado
A força de "Disgaea 5" não está nos gráficos. A impressão que fica é que a Nippon Ichi preferiu focar nas mecânicas de jogo ao invés de reformular o visual da série, que pouco difere dos títulos anteriores. Determinadas habilidades nas batalhas têm efeitos bonitos, mas ainda assim, o visual não condiz com o poderio gráfico do PlayStation 4. Não é algo que compromete a experiência, mas certamente merecerá mais atenção em futuras edições da franquia.
Tanto os diálogos falados quanto os menus estão em inglês - não há qualquer tipo de localização para o português brasileiro. Somado à jogabilidade complexa, esse é mais um fator que tende a limitar a quantidade de potenciais jogadores de "Disgaea 5" por aqui. Quem decidir se aventurar pelo game, contudo, encontrará uma aventura capaz de consumir centenas de horas. Trata-se de um jogo longevo, com infinitas possibilidades para o desenvolvimento dos personagens e desafio que, às vezes, beira o insano. Em suma, é um típico "Disgaea".
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