Produtora de "Angry Birds" aposta no cinema para repetir sucesso do celular
É quase meio dia e o sol brilha tímido no céu da Finlândia, iluminando a orla congelada do mar Báltico. O inverno rigoroso deixa a paisagem um tanto monocromática e não é nada convidativo para caminhadas ao ar livre, mas pode ser quase esquecido no interior do escritório super-colorido onde fica a sede da Rovio, produtora de "Angry Birds", na pequena Espoo, cidade a poucos minutos de Helsinki.
"No verão, a vista é muito bonita e costumamos fazer churrascos na sacada do escritório", confidencia Joseph Knowles, escritor sênior da produtora finlandesa à reportagem de UOL Jogos. A churrasqueira está lá como prova, embora esteja coberta de neve e não deverá ser utilizada até meados de junho.
A Rovio ocupa vários andares do prédio mas deve se mudar em breve para outro edifício na região, onde terá mais espaço para todos os funcionários. Durante minha visita, notei alguns deles tomando café e se divertindo jogando nos seus celulares. Perguntei a uma programadora o que estava jogando e ela disse que não sabia o nome do game, "mas é um desses 'Kingdom alguma coisa', tenho que dominar o mundo e gerenciar recursos".
Estar por dentro das últimas novidades no mundo dos games é importante para qualquer produtora, ainda mais no volátil mercado de jogos mobile. "Quando 'Angry Birds' estourou, em 2009, o mercado de games para celular era completamente diferente do que temos hoje", explica Knowles. "Na época em que a Rovio lançou 'Angry Birds', o iPhone estava deixando de ser um brinquedo caro para poucos, já começava a se popularizar".
Para o executivo, esse é um dos motivos para o sucesso do game. "Existia uma base grande de usuários e todos queriam saber o que fazer com aqueles novos celulares, com a tela de toque e tudo mais. Já existiam outros games de física e de estilingue, mas 'Angry Birds' tinha os personagens certos. Os pássaros raivosos e os porcos verdes eram diferentes de tudo o que existia e ainda são nossos pontos fortes".
Knowles reconhece que houveram muitas mudanças de 2009 para cá. Os jogos gratuitos e as microtransações surgiram e dominaram a indústria mobile, por exemplo. Ainda assim, "Angry Birds" continua sendo um sucesso: "O jogo foi o aplicativo mais baixado na época do lançamento e continua entre os 30 apps mais baixados até hoje. Nós continuamos dando suporte para o jogo, publicamos fases novas no mês passado! Nada mal para um game lançado seis anos atrás!".
"Nós demoramos para adotar o modelo 'gratuito para jogar', pois fomos muito bem sucedidos com o modelo 'premium'", aponta Knowles. "Eventualmente nós vimos que precisávamos mudar e deixar 'Angry Birds' evoluir".
"Nossos jogos mais recentes foram planejados desde o início com o modelo 'gratuito' em mente, mas não queremos fazer games que cutucam a carteira do jogador o tempo todo", brinca o executivo. "Queremos entregar jogos divertidos, que tenham um valor real".
Além do "Angry Birds" original, a Rovio expandiu a franquia com 16 novos jogos, entre eles uma parceria com "Star Wars", um RPG e um game de corrida. A Rovio também licenciou a marca para diversos brinquedos e produtos de todos os tipos - até mesmo parques temáticos! Para levar a marca "Angry Birds" ainda mais longe, a Rovio aposta agora no cinema. O longa-metragem estrelado pelos pássaros raivosos das telinhas chegará à tela grande em 12 de maio.
O longa-metragem "Angry Birds: O Filme" é distribuído pela Sony Pictures, mas é completamente produzido dentro da Rovio. No filme, um bando de pássaros incapaz de voar vive alegremente numa ilha paradisíaca, onde todos são muito felizes - com exceção do rabugento Red, um pássaro vermelho com sérios problemas para controlar sua raiva.
"Jogos mobile e o cinema são mídias diferentes, são formas de arte muito distintas", pondera o executivo. "Parece ser uma pergunta difícil: Como fazer um filme a partir de um app?".
"Em primeiro lugar, os filmes são feitos a partir de muitas coisas. As histórias estão em todos os lugares, estão ao nosso redor. 'Angry Birds' sempre teve uma história e personagens fortes. E é uma história bem estranha. O que é preciso então, é identificar esses personagens e quem eles são e transformá-los em personagens de carne e osso, deixar que andem e falem e contem suas histórias".
"Você pode - e deve - fazer isso em um jogo, mas pode fazer muito mais num filme. Ao levar esses personagens para uma tela de cinema, você tem a experiência completa e esses personagens ganham vida", explica o entusiasmado escritor sênior.
Para dar vida aos personagens, além de ótimos animadores e do elenco hollywoodiano, a Rovio trouxe para o time o roteirista Jon Vitti, responsável por muitos dos episódios clássicos de "Os Simpsons" e que trabalhou em animações para o cinema como "Alvin e os Esquilos" e no próprio filme dos "Simpsons".
"No fim das contas, narrativa é narrativa. Não importa se é uma história que você ouviu no bar, um épico grego da Antiguidade, um game para celular ou algo que você simplesmente imaginou. Nós somos humanos, contar histórias é o que fazemos".
Trazer talentos de fora mas manter a produção do filme dentro da Rovio foi uma decisão importante para a empresa finlandesa. Knowles compara essa opção com a que foi feita pela Marvel ao tomar para si as rédeas do seu próprio universo cinematográfico. "Você pode terceirizar a produção do filme ou entregar os direitos para outro estúdio, mas ninguém entende seus fãs como você. E o resultado nunca será o que eles esperam. No fim do dia, os fãs vão estar bravos com você pelo resultado".
"Entendemos que ninguém conhece nossos fãs melhor do que nós", afirma Knowles. "E é por isso que nós mesmos precisávamos fazer o filme - e fizemos".
Parque temático nos EUA?
Curiosamente, não há nenhuma atração dedicada a "Angry Birds" na meca dos parques temáticos, a ensolarada Flórida. Questionado sobre uma possível parceria com a Universal Studios ou outra operadora na região, Knowles responde com uma risada reveladora: "Nós não temos nenhuma parceria na América ainda, quem sabe depois do filme?".
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