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Com mobile saturado e pirataria no PC, estúdios brasileiros miram consoles

Criado no motor gráfico Unreal 4, "Shiny" é jogo de ação estrelado pelo robô Kramer - Divulgação
Criado no motor gráfico Unreal 4, "Shiny" é jogo de ação estrelado pelo robô Kramer Imagem: Divulgação

Théo Azevedo

Do UOL, em San Francisco

17/03/2016 15h52

Estimativas da indústria apontam que há cerca de 60 milhões de videogames da atual geração no mercado, levando-se em conta PlayStation 4 e Xbox One. É um número respeitável, mas que não chega nem perto da base instalada de smartphones e computadores pessoais, na casa das centenas de milhões de unidades. Porém, com a saturação de jogos nos dispositivos móveis – em média, 500 títulos são lançados apenas para iOS todos os dias – e a pirataria, problema crônico no PC, há produtoras brasileiras que estão mais interessadas em levar seus jogos direto para os videogames.

“O jogo [quando lançado nos consoles] passa a ter mais visibilidade, fica mais conhecido pelo público no mundo todo e isso contribui muito para o sucesso futuro”, explica Daniel Monastero, um dos sócios da Garage 227, estúdio de sete funcionários que fica em São Paulo e se prepara para lançar “Shiny”, jogo de plataforma estrelado por um robozinho, no Xbox One.

A Garage 227 está entre as 26 empresas brasileiras nacionais presentes na Game Developers Conference (GDC), evento que reúne produtores de jogos de todo o mundo em San Francisco, nos EUA. Além de assistir a palestras com grandes nomes do mercado, os brazucas aproveitam para se reunir com representantes de Sony e Microsoft e tentar emplacar suas produções no PlayStation e Xbox, respectivamente.

Como o espaço para produções independentes é cada vez maior nos videogames, nunca houve tantas oportunidades para jogos brasileiros em um mercado que, até anos atrás, seria considerado inatingível. Não existem números precisos, mas hoje há pelo menos oito jogos tupiniquins em produção para videogames.

“Sony e Microsoft perceberam como é barato ter ‘indies’ de sucesso em seus consoles e como isso alavanca vendas. É uma oportunidade para todo mundo”, teoriza Saulo Camarotti, sócio da Behold Studios. A empresa de Brasília lançou “Chroma Squad” no PC em 2015 e agora vai levar o jogo aos consoles. “‘Chroma Squad’ vendeu 100 mil cópias no PC, o que é um grande sucesso pra nós. São mais de R$ 5 milhões para um jogo independente feito por um estúdio com doze pessoas”, comemora.

 

Opção ao mercado mobile

A Bad Minions, estúdio independente que também fica em Brasília, começou sua trajetória apostando nos jogos mobile nos idos de 2012, quando a empresa foi fundada. Na época, os jogos para celulares eram vistos como “a galinha dos ovos de ouro”, pois a concorrência era pouca e as chances de retorno financeiro maiores. Este cenário rapidamente mudou: “Lançamos dois jogos, mas não tivemos sucesso. As lojas estavam saturadas, especialmente de clones de jogos do momento”, conta Leonardo Batelli, um dos sócios da Bad Minions.

“Alkymia”, principal projeto da Bad Minions no momento, será lançado para PC, PlayStation 4 e Xbox One. “Colocar jogos nos consoles é fundamental, não só por alcançar vários jogadores mais facilmente, mas porque eles têm diversas iniciativas, como presença em eventos e ajuda na divulgação”, diz Batelli.

Embora sejam desenvolvidos no Brasil, os games claramente miram o público no exterior, já que um consenso sobre o mercado nacional não ser capaz de sustentar a operação dos estúdios. “Apesar de termos milhões de jogadores, um jogo independente não tem tanto apreço no mercado interno. Nós fizemos o jogo em português, nós lançamos por aqui, mas mais de 90% das nossas vendas é no exterior”, lamenta Camarotti, referindo-se a “Chroma Squad”.

Equipe Bad Minions - Divulgação - Divulgação
Equipe do estúdio Bad Minions aposta em "Alkymia", game para PC, PS4 e Xbox One
Imagem: Divulgação

Para Batelli, o Brasil até poderia sustentar a produção de "Alkymia", por exemplo, uma vez que há milhões de jogadores por aqui. O problema, no caso do PC, é lidar com a pirataria: "As pessoas pagam R$ 20 ou R$30 numa entrada de cinema, que dura duas horas, mas se recusam a pagar o mesmo valor por um jogo, que proporciona um tempo maior de diversão e você ainda vai poder guardá-lo", lamenta.

Resta saber se a empreitada dos brasileiros no PlayStation 4 e Xbox One vai render resultados práticos. O UOL Jogos procurou a Duaik Entertainment, de “Aritana e a Pena da Hárpia” (PC, Xbox One) e a Swordtales, de “Toren” (PC, PS4), mas ambas preferiram não falar sobre números.