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Novo "Homefront" tem conceito interessante, mas traz fórmula manjada

Victor Ferreira

Do UOL, em Londres*

30/03/2016 12h00

“O plano era fazer um ‘Half-Life 2’ em mundo aberto”.

A declaração, do diretor Hasit Zala, define muito da estética de “Homefront: The Revolution”. Ao jogar o novo shooter da Dambuster Studios (antiga Free Radical Games e Crytek UK), é difícil não traçar paralelos entre a cidade de Filadélfia conquistada por forças coreanas e a City 17 dominada pelo Combine.

É possível dizer, porém, que é improvável que o novo “Homefront” tenha o mesmo impacto que o shooter da Valve teve no mundo dos games em 2004 - o que, sendo justo, não é uma tarefa fácil de forma alguma.

Ainda assim, mesmo com uma proposta interessante (se um tanto risível) e depois de uma produção conturbada de 5 anos, “The Revolution” é melhor que o primeiro “Homefront”, mas não inova muito na fórmula em relação a outros games de mundo aberto, como “Far Cry” e “Dying Light”.

À convite da publisher Deep Silver, UOL Jogos teve a chance de jogar boa parte do seu novo shooter.

Homefront - Foto 1 - Divulgação - Divulgação
Americanos lutam por sua liberdade em "Homefront: The Revolution"
Imagem: Divulgação

Amanhecer Violento

Para quem não se lembra do primeiro jogo, em “Homefront” os EUA foram invadidos e conquistados pelo exército da Coreia do Norte. Uma premissa que é, para dizer o mínimo, implausível.

(Sério, faz mais sentido que alienígenas conquistarem o planeta do que isso acontecer).

Por isso, a Dambuster criou uma realidade alternativa, que altera eventos desde os anos 1950 até a década de 2020, quando os EUA são traídos e conquistados pelo governo coreano (que não tem nada a ver com Kim il-Sung e seus descendentes), estabelecendo uma base de operações na Filadélfia.

“De uma perspectiva narrativa, achamos muito legal e simbólico que esta força invasora tenha instalado este governo no berço da Independência Americana”, explicou o designer Ras Salim.

“A história alternativa foi algo evoluiu com o tempo”, continuou. “Levamos bastante tempo para acertar como tudo deveria ser e como ela se relaciona com eventos do mundo real”.

De acordo com Salim, há um universo maior explicando porque o mundo chegou a este estado, incluindo razões políticas, econômicas e tecnológicas. Tendo jogado boa parte do jogo, porém, é difícil ver muitos destes elementos refletidos no mundo, além de alguns itens colecionáveis.

Mais do que isso, ao que parece os desenvolvedores não “brincaram” muito com a ideia de uma história alternativa, ao contrário de ideias vistas em “Wolfenstein: The New Order”, por exemplo, que trazia desde pequenas referências como os Beatles cantando músicas subversivas em alemão ou a possibilidade de Jimi Hendrix ser um companheiro revolucionário.

Tudo isso acaba enfraquecendo a personalidade do game, que parece um apanhado geral de ideias implementadas por outros estúdios - ainda que de forma competente.

Homefront - Foto 2 - Divulgação - Divulgação
O jogador terá diversas frentes de batalha na região da Filadélfia
Imagem: Divulgação

Vermelho, amarelo, verde

Em “The Revolution”, o jogador controla Ethan Brady, um protagonista mudo nos moldes de Gordon Freeman que se envolve com os rebeldes na Filadélfia, procurando formas de desestabilizar o governo coreano local.

Para isso, é preciso realizar uma série de tarefas e missões, desde sabotagem até tomada de pontos de interesse no mapa, semelhante a jogos como “Far Cry”.

Mas, pelo menos neste quesito, o novo “Homefront” se diferencia de jogos similares ao dividir partes da cidade em sessões diferentes, cada uma com um estilo de jogabilidade relativamente diferenciado.

As áreas “vermelhas”, por exemplo, foram completamente desabitadas, e portanto servem de campo de guerra aberto entre os rebeldes e as forças coreanas. Nelas, Brady se envolve diretamente nos conflitos, sendo possível atacar e recuar - ao estilo próprio dos guerrilheiros - com mais facilidade. O jogador também é capaz de atravessar grande parte do terreno mais rapidamente com motocicletas espalhadas pelo mapa.

Já o território “amarelo” é habitado por civis, mas vive em um constante estado de sítio. Sendo assim, o jogador deve ser bem mais cauteloso ao explorar a região, evitando os olhares de soldados e drones enquanto tenta levar a população a se revoltar contra invasores. Ao fazer isso, a área se torna bem mais caótica, com pessoas xingando abertamente os coreanos e guerrilheiros entrando em conflito aberto.

A área “verde”, totalmente dominada pelos invasores, acabou sendo pouco explorada durante o teste, mas é provável que funcione de forma semelhante ao que é encontrado nas regiões amarelas.

Isso convida um pensamento mais estratégico do jogador dependendo de sua posição no mapa, mas pode causar frustração, em especial por algumas mecânicas pouco intuitivas e não muito bem implementadas dentro do game.

Brady acaba tendo uma movimentação lerda e as mecânicas de tiro não são muito satisfatórias, particularmente ao usar o controle. O mouse e teclado remediam parte destes problema, mas a versão de PC também implementa um dos piores minigames de hack que joguei nos últimos tempos - ao ponto de ter de trocar para o controle de Xbox 360 só para jogar aquelas partes.

Ao fim do teste, a impressão final é de que “Homefront: The Revolution” é um jogo com bom conceito e potencial, mas problemas em termos de jogabilidade e personalidade dão uma sensação de mais do mesmo.

Caso tivesse saído em um período mais tranquilo do ano, seria possível vê-lo como um sucesso inesperado. Saindo em maio, porém, é difícil vê-lo disputando com pesos pesados como “Uncharted 4”, “Doom” e “Overwatch”.

Ainda assim, há uma ideia central interessante no jogo ao retratar táticas de guerrilha e lutar com forças melhores e mais bem armadas do que você e seus companheiros, então espero que o jogo tenha um desempenho bom o suficiente para que o Dambuster Studios tenha chance de refinar o conceito.

“Homefront: The Revolution” sai em 17 de maio para PC, PS4 e Xbox One.

* O jornalista viajou à convite da Deep Silver