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"Mirror's Edge Catalyst" traz jogabilidade excelente, mas peca na narrativa

Victor Ferreira

Do Gamehall, em São Paulo

07/06/2016 11h19

Lançado em 2008, o primeiro “Mirror’s Edge” foi aclamado pela crítica por sua movimentação rápida e fluída e visuais deslumbrantes. Infelizmente, as boas avaliações não se transformaram em um sucesso de público, e por anos fãs aguardaram ansiosamente por uma sequência.

Agora, quase dez anos depois, os jogadores finalmente terão uma nova chance de se aventurar pelos telhados da Cidade de Glass com a heroína Faith Connors em “Mirror’s Edge Catalyst”, que traz a ação e o parkour da série para um mundo aberto.

Mirror's Edge: Catalyst - Nota - Montagem/UOL - Montagem/UOL
Imagem: Montagem/UOL

Em grande parte, a produtora DICE conseguiu encontrar formas de expandir as mecânicas do game original para um ambiente maior. “Mirror’s Edge Catalyst”, porém, sofre com problemas em sua narrativa, e aplica conceitos típicos de mundo aberto de forma pouco inspirada.

“Mirror’s Edge Catalyst” retrabalha as origens de Faith e sua família, além de sua relação com a gangue de “corredores” - contrabandistas que fazem entregas ao atravessar os telhados da cidade.

Na hora de contar a história, entretanto, o game tropeça. A progressão de eventos é mal elaborada e as missões acabam tendo sua estrutura um tanto repetitivas. Além disso, a história não é concluída de forma satisfatória: ela para subitamente, deixando diversas pontas soltas.

Mirror's Edge Catalyst - Reprodução - Reprodução
História de novo "Mirror's Edge" dá foco em Faith e sua família
Imagem: Reprodução

Além disso, na expansão para um mundo aberto, a DICE acabou implementando vários elementos comuns deste tipo de jogo, principalmente em termos de colecionáveis. Mas a aplicação destes objetos acaba sendo pouco inspirada e desinteressante.

Não há razão clara, por exemplo, para o jogador ter que percorrer a cidade em busca de chips de sistemas. O mesmo vale para gravações feitas pelos pais de Faith há décadas. Como um item desses foi parar em um pátio de uma das regiões mais luxuosas da cidade?

A nova árvore de habilidades, que poderia dar um toque de profundidade ao jogo, também acaba sendo supérflua, podendo ser facilmente trocada por itens que você recebe durante a campanha.

Mirror's Edge Catalyst - Reprodução - Reprodução
Movimentação e fluidez continuam sendo os pontos altos de "Mirror's Edge"
Imagem: Reprodução

Enquanto tudo isso é um pouco desencorajador, a DICE conseguiu aperfeiçoar a movimentação de Faith pelo ambiente, e a sensação de escalar, saltar e se balançar pelos prédios continua incrível para fãs da série.

Os já citados equipamentos extras que a heroína recebe durante sua aventura também ajudam na travessia, embora às vezes os controles acabam se confundindo, e ao segurar o botão de pulo por muito tempo pode ativar o arpéu, por exemplo. Vale observar que a versão testada foi a do Xbox One, o que não nos dá certeza se esses problemas se aplicariam a quem for jogar no PC utilizando mouse e teclado.

Mesmo com inimigos sendo controlados por uma inteligência artificial fraca, o combate é divertido. Há variação nesse quesito devido aos diversos tipos de combos e estratégias diferentes que podem ser utilizados dependendo do posicionamento do jogador.

O verdadeiro ponto forte do jogo, contudo, são as diferentes corridas espalhadas pelo mapa, cada uma com um caminho "básico", mas nunca o mais rápido. Para bater os recordes e superar seus amigos, o jogador deve explorar o ambiente em busca de rotas alternativas e mais eficientes.

Não só isso, a possibilidade dos próprios jogadores criarem seus próprios percursos dá chance para infinitas variações de corridas em locais diferentes.

Além disso, missões que desativam a visão especial de Faith (que torna objetos importantes vermelhos), em particular as dos GridNotes, são divertidas justamente por fazer o jogador a estudar o ambiente antes de fazer suas manobras, precisando tanto de habilidade dedutiva quanto timing.

Mirror's Edge - Glass - Divulgação - Divulgação
A cidade de "Mirror's Edge" mantém o mesmo visual icônico em mundo aberto
Imagem: Divulgação

A cidade de Glass em si ainda mantém muito da estética do “Mirror’s Edge” original - o visual clean, com prédios brancos, porções generosas cobertas por vidros espelhados e cores primárias esparsas pelos ambientes estão lá. Mesmo assim, a DICE conseguiu criar regiões com visuais ligeiramente diferentes umas das outras por meio de mudanças nas estruturas dos prédios e a inclusão de itens nos cenários como árvores, guindastes etc.

Já em termos de som, a DICE não desaponta, aplicando diversos tipos de áudio, desde passos com intensidade diferente até variações no som do impacto de Faith ao aterrisar de forma suave ou mais brusca, tudo pontuado com uma trilha sonora atmosférica.

Há algumas falhas ocasionais na versão do Xbox, em especial relacionadas a texturas e aliasing. Infelizmente, não foi possível testar o jogo no PC ou PS4 como base de comparação.

 

No fim, “Mirror’s Edge Catalyst” é uma evolução em relação a seu predecessor em vários aspectos, mas acaba tendo seus tropeços. O game deve agradar aos fãs, mas dificilmente cumprirá a função de agradar quem não já não havia se empolgado com a série.

Ainda assim, já é interessante o fato de que “Mirror’s Edge” tenha recebido uma sequência. De qualquer maneira, só o tempo dirá se veremos mais alguma iteração do game no futuro próximo.

"Mirror's Edge Catalyst" está disponível para PC, PS4 e Xbox One.