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"No Man's Sky" promete exploração infinita, mas limita ação com burocracia

Previsível? Realidade de "No Man"s Sky" fica aquém das promessas do game - Divulgação
Previsível? Realidade de "No Man's Sky" fica aquém das promessas do game Imagem: Divulgação

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

23/08/2016 11h00

Deixar a órbita de um planeta e navegar pelo espaço em velocidade de dobra, apenas para pousar em outro corpo celeste do lado oposto da galáxia sem ter que lidar com qualquer tela de carregamento é impressionante.

É uma pena, então, que "No Man's Sky" tente a todo momento impedir o jogador de simplesmente descobrir o universo gerado processualmente ao seu redor. As limitações são inúmeras: é preciso recarregar as energias do traje protetor, da multiferramenta, do scanner, do sensor, abastacer o combustível da nave, do motor de pulso...

Entre o marcante anúncio do game no fim de 2013 e o lançamento no início de agosto, aspirantes a fãs inundaram a internet com um único questionamento: "mas o que você faz em 'No Man's Sky'?" Afinal, os trailers mostravam o protagonista explorando planetas a esmo, sem destruir nem construir nada. "Isso não é um videogame".

Mera especulação minha, claro: mas é possível que, para agradar esse público fazendo de "No Man's Sky" um game mais palpável, com mecânicas familiares e objetivos tangíveis, a Hello Games transformou um divertido simulador de espaço em um entediante jogo de gerenciamento de almoxarifado.

Jogadores de "No Man's Sky" passam mais tempo caçando míseros recursos nas superfícies dos planetas e movendo itens de um lado para outro no inventário do que realmente explorando o universo.

O ritmo do game fica mais ágil quando o jogador passa a acumular melhorias e consegue mais espaço no inventário. Mas até lá há grandes chances de que o charme da experiência escorra por entre os dedos.

Nota de No Man's Sky - Montagem/UOL - Montagem/UOL
Game foi testado no PlayStation 4
Imagem: Montagem/UOL

"No Man's Sky" tem, sim, sistemas divertidos que vão além da mera exploração. Aumentar seu vocabulário para conseguir interagir com alienígenas, por exemplo, é uma tarefa divertida e recompensante. Dar nomes a criaturas, plantas e planetas, também. Mas antes do jogador conseguir avançar em qualquer uma dessas 'sidequests', ele precisa dedicar horas à nada inventiva coleta de carbono, ferro e plutônio.

Há quem diga que não há variedade suficiente aos planetas do game, e que até mesmo seu aspecto de exploração é fraco. Discordo: a falta de variedade é uma ilusão criada pelo terrivelmente lento ritmo do jogo. A diversidade está lá fora, mas você passará tempo demais longe dela por causa das limitações da sua nave.

O que há no centro da galáxia?

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Exatamente como a maioria dos jogos de sobrevivência à la "DayZ", "Terraria" e "Subnautica", "No Man's Sky" foi lançado com uma base sólida, mas que por ora oferece muito mais promessas do que feitos concretos. Talvez, também como a maioria dos jogos de sobrevivência, "No Man's Sky" nunca transforme suas promessas em realidade.

Para que o jogo deixe de ser divisivo, ele precisa maneirar o aspecto de gerenciamento de inventário, ou então empilhar outros sistemas que distraiam o jogador. Que tal dar ao protagonista controle sobre uma frota de naves de comércio? Ou então permitir que ele construa bases, como em "Minecraft"?

Tudo isso parece possível dada a engenhosidade da tecnologia por trás de "No Man's Sky", que vai muito além de "Spore" e semelhantes na tentativa de criar um universo virtual. Com sorte, a Hello Games não deixará que suas promessas morram na praia.