Quase injogável sem volante, "Assetto Corsa" afasta jogadores comuns
Visual belo, uma seleção interessante de carros e pistas e possivelmente a melhor física já utilizada em um game de corrida para consoles - próxima dos simuladores mais elogiados para PC. Essas são as credenciais de "Assetto Corsa", game já disponível há algum tempo para PC e que agora chega aos consoles.
Se há - inegáveis, aliás - pontos positivos, o jogo falha em um aspecto crucial: o alto nível de simulação vem acompanhado de uma grande exigência: quem decidir se aventurar pelas curvas do game utilizando um joystick comum terá uma experiência frustrante. Nem mesmo os auxílios de pilotagem presentes no game salvam nesse quesito, como veremos adiante.
Apresentação asséptica
"Assetto Corsa" se poupa do trabalho de apresentar ao jogador as opções do game. É algo que causa uma certa estranheza, em tempos de longas apresentações como a vista em "Forza 6", e dá pistas de um dos principais defeitos do game: a apresentação. Os menus passam a impressão de estar ali por mera obrigação e há poucas opções de personalização nesse sentido.
Em poucas palavras: se a apresentação de "Forza 6" ou algum "Gran Turismo" fosse comparada a passear por uma galeria de obras de arte, a de "Assetto Corsa" seria o equivalente à admirar a decoração de um ambiente hospitalar.
Considerando os modos de jogo, todos parecem pouco inspirados. Tomemos por base o modo Carreira: nele, o jogador passa por diversas provas pré-definidas - o que inclui alguns tipos de desafio, como corridas, drift ou provas contra o relógio - que se apresentam em nível de dificuldade ascendente. O senso de recompensa, nesse modo, é praticamente nulo: salvo o fato de vitórias abrirem novas provas, o jogador não recebe carros ou dinheiro para adquirir outros veículos.
Os demais modos seguem essa tendência: os chamados Eventos Especiais colocam o jogador em determinadas situações temáticas, como testar uma Ferrari F40 no circuito de Mugello, pista de propriedade da própria marca localizada na Itália. Já a opção Pilotar conta com outros modos de jogo, indo desde treinos, disputas de pontuação em provas de drift ou corridas online - na ocasião da avaliação do game, os servidores do jogo ainda não estavam ativos.
Em todos os casos, a sensação é que esses modos poderiam ser substituídos por uma ou duas opções que o resultado seria o mesmo.
Caso o intuito do jogador seja progredir no game e, eventualmente, receber recompensas pelo esforço, "Assetto Corsa" certamente irá frustrar as expectativas.
Perfeccionismo técnico
A decepção na apresentação, porém, vem acompanhado de um apuro técnico muito interessante. Uma vez na pista, é notável o trabalho da produtora italiana Kunos Simulazioni no quesito simulação. Não há um grande número de pistas no jogo, porém as presentes são extremamente fiéis à realidade - em alguns casos, os circuitos foram escaneados por laser, o que ajuda o game a reproduzir características como ondulações, altura das zebras e inclinação com um grau de perfeição invejável.
Em termos gráficos, o game fica atrás de títulos como "Forza Motorsport 6", "F1 2016" e "Project Cars", porém está longe de ser feio. Os modelos dos carros são bem feitos, inclusive com diversos detalhes do seu interior, sendo que o mesmo vale para efeitos como luzes de freios e backfire - labaredas que saem do escapamento de carros de alto desempenho ao desacelerar. O mesmo vale para o aspecto das pistas. A iluminação funciona bem, apesar de não transmitir uma sensação dramática como visto nos games citados.
Fica claro, porém, que gráficos não foram a prioridade na hora de se produzir o título.
A maior qualidade de "Assetto Corsa", porém, está nos efeitos sonoros. O ronco dos carros é extremamente convincente e irá agradar o mais exigente dos entusiastas. Uma Ferrari soa como uma Ferrari, sendo que o mesmo vale para modelos BMW, Porsche, Mercedes-Benz, entre outros. Isso também significa que o jogador - caso ele seja um fanático por carros - tenda a passar um bom tempo vendo replays de partida.
O mesmo vale para quem curte passar um bom tempo mexendo em acertos do carro e testando os resultados das mudanças - "Assetto Corsa" é bastante abrangente e complexo nesse sentido.
A grande derrapada
E, finalmente, chega a hora de falar dos controles. Caso você seja o dono de um conjunto de pedais e volante para PlayStation 4 ou Xbox One, parabéns: você terá a possibilidade de aproveitar tudo que "Assetto Corsa" tem a oferecer. Dependendo do seu grau de habilidade, é possível pilotar com as assistências desligadas e ter uma experiência bastante condizente com a realidade - e superior à encontrada em títulos concorrentes.
O mesmo, porém, não ocorre com quem utiliza um joystick padrão para jogar. E é aí que "Assetto Corsa" sai da pista: enquanto títulos das séries "Forza" e "Gran Turismo", além do recente "F1 2016" - elogiado justamente por isso - trazem um compromisso interessante entre o fator simulação e a possibilidade de se jogar em um controle convencional.
E isso tem a ver com diversos aspectos, seja a calibragem dos controles adotado pelas produtoras - como o esterçamento progressivo da direção - ou auxílios de pilotagem dinâmicos. Em "Assetto Corsa", isso não ocorre: a impressão que fica é que o game não passou por ajustes considerando que a maioria dos jogadores utilizariam esse meio de controle.
Há, sim, auxílios para a pilotagem, como freios automáticos, controles de estabilidade e tração e linha de traçado. Ativá-los, porém, torna a pilotagem extremamente artificial e limitada - é quase impossível virar um bom tempo de volta com o jogo cortando a aceleração do carro o tempo todo, por exemplo. A sensibilidade dos analógicos e dos gatilhos dos joysticks de PS4 e Xbox One não é suficiente para permitir uma pilotagem suave - como visto no vídeo no início desse texto - e, para piorar, o jogo não permite personalizar cada botão individualmente.
Público limitado
Da forma que está, "Assetto Corsa" acaba limitando sua audiência nos consoles a jogadores abastados que podem utilizar um volante. E um acessório do tipo muitas vezes custa o mesmo que um console novo - com o agravante que modelos para PC que funcionavam com, por exemplo, com o PlayStation 3, não são compatíveis com os videogames mais recentes.
Investir em um volante para ser usado em consoles, porém, coloca o jogador em uma situação delicada: à exceção de poucos games do tipo exclusivos para essas plataformas, a maior parte dos simuladores - e jogos de corrida como o próprio "Assetto Corsa" - também são encontrados para PC.
Considerando isso - e por mais que seja interessante que os consoles tenham um jogo como "Assetto Corsa", capaz de atingir um ótimo nível de simulação e superar os concorrentes nesse ponto -, quem for fanático por simuladores de corrida e quiser se divertir com games do gênero ainda tem nos PCs a melhor opção. E isso vale tanto na hora de adquirir um volante - a quantidade de dispositivos compatíveis, incluindo modelos de geração anterior capazes de unir o "bom" e o "barato", é muito maior - quanto em relação à vasta oferta de títulos.
Fosse dotado de uma interface mais elaborada, modos de jogo mais profundos e um suporte melhor a controles padrão, é bem provável que "Assetto Corsa" pudesse encarar, até mesmo com vantagem, as referências do estilo no PlayStation 4 e Xbox One. Como isso não ocorre, ele acaba sendo um jogo capaz de encantar um público bastante seleto.
"Assetto Corsa" está disponível para PC, PlayStation 4 e Xbox One.
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