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Por que brasileiros são sempre estereótipos nos games?

Christie não foi a primeira e não será a última capoeirista brasileira nos games - Divulgação
Christie não foi a primeira e não será a última capoeirista brasileira nos games Imagem: Divulgação

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

06/09/2016 14h30

Personagens brasileiros em games não são novidade: o país é usado para dar fundo histórico a dezenas de heróis e vilões desde os tempos de Blanka. Mas avatares que fogem dos estereótipos mais comuns associados ao Brasil ainda são raridade.

Exemplo em foco: os diferentes lutadores russos da série "Tekken" têm personalidades, estilos de luta e origens diferentes, do robô Jack ao agente da Spetsnaz Dragunov. O mesmo vale para outras nacionalidades que costumam ser representadas com mais frequência do que brasileiros nos games.

Já os brasileiros Eddy Gordo e Christie Monteiro são descritos sempre como extrovertidos lutadores de capoeira, e retratados com poucas roupas. A iniciante de "Tekken 7" Katarina Alves repete essas mesmas características, mas troca a capoeira pelo savate.

"Laura representa uma visão exagerada da mulher brasileira", revelou o produtor de "Street Fighter V" Yoshinori Ono ao UOL Jogos ao descrever a extrovertida lutadora de capoeira que usa poucas roupas de sua série.

Para a maior parte do público desses jogos, ter um brasileiro genérico na lista de personagens basta. Eles não precisam fugir do esperado. "Decidimos criar Laura trabalhando com a visão fantasiosa que os japoneses têm da mulher brasileira", explica Ono.

Lúcio em Overwatch - Divulgação/Blizzard Entertainment - Divulgação/Blizzard Entertainment
Lúcio é o representante brasileiro em "Overwatch" - mas só em nome
Imagem: Divulgação/Blizzard Entertainment

Em outros casos, como no do Lúcio de "Overwatch", o título de brasileiro parece ter sido inventado de última hora.

Lúcio cresceu em uma favela carioca, mas não usa ritmos brasileiros nas músicas que toca com sua aparelhagem de DJ. Ele anda com patins e tem skins que fazem alusão ao hóquei, um esporte nada popular por aqui. Na versão em inglês do game, diferente da russa Zarya e da britânica Tracer, Lúcio não tem sotaque de quem cresceu no Brasil, mas sim de um nova-iorquino. Ele também não tem falas de efeito em português como Mercy tem em alemão.

A inclusão de personagens assim nos games não machuca ninguém. Mas ter personagens que fazem mais do que apenas vestir os estereótipos é melhor para todo mundo - tanto para os japoneses e americanos, que podem conhecer personagens mais interessantes, quanto para os brasileiros, que sentem-se melhor representados.

O diretor de "The King of Fighers XIV" orgulha-se do trabalho feito com Bandeiras Hattori, um dos dois brasileiros que debutaram na série com o game. "O nome original dele era Banderas, mas acrescentamos o 'i' depois de fãs brasileiros provarem que essa era a grafia correta no país", diz.

Bandeiras é um ninja brasileiro. Fascinado por ninjutsu desde sua infância, o jovem cresceu e fundou sua própria escola marcial: "Brazilian Ninja Arts". Seus golpes misturam técnicas de MMA ao ninjutsu tradicional. Além de fugir do lugar-comum, o personagem ainda tem como ponto positivo a clara alusão à enorme influência da cultura japonesa no Brasil, que tem a maior colônia de japoneses no mundo.

Um país grande como o Brasil não só merece ser representado por personagens mais bem pensados assim, como tem material suficiente para inspirar centenas deles. Basta que os produtores tenham vontade de aproveitar essas oportunidades.

Bandeiras em KoFXIV - Divulgação/SNK - Divulgação/SNK
Bandeiras é ótimo exemplo de personagem brasileiro que foge do lugar-comum
Imagem: Divulgação/SNK