Carisma e humor fazem de "Watch Dogs 2" o melhor mundo aberto da Ubisoft
Os enormes números de venda do primeiro "Watch Dogs" escondem sua péssima reputação. Reações ao 'downgrade' gráfico do game tornaram o público mais crítico em relação a apresentações preliminares, e comparações do produto final ao contemporâneo "Grand Theft Auto V" colocaram a jornada de Aiden Pearce em uma posição bem desfavorável.
"Watch Dogs 2" quer convencer os 10 milhões de compradores do original de que a série merece uma segunda chance.
Spoiler: ela merece.
O ápice da fórmula de jogos de mundo aberto da Ubisoft, "Watch Dogs 2" é aquilo que seu predecessor deveria ter sido. O novo protagonista Marcus Holloway é o ícone da mudança: ele é jovem, despretensioso, engraçado e amável. Praticamente a antítese do genérico e desinteressante Aiden Pearce.
A narrativa do game ainda tem como foco o 'hacktivismo' contra um sistema opressor, mas desta vez trata o tema da maneira certa: com ironia e leveza.
"Watch Dogs 2" troca a estéril metrópole de Chicago pela animada San Francisco - uma das mais interessantes cidades dos EUA, que muda dia após dia por conta da poderosa influência do Vale do Silício.
A diversidade da versão real da cidade serviu como motivação para a equipe de desenvolvimento criar um mundo virtual 'vivo', no qual personagens controlados pelo computador são mais do que meros figurantes. Os habitantes de San Francisco interagem de maneira espontânea com Marcus, sendo até mesmo capazes de 'photobombear' as selfies do protagonista.
A San Francisco virtual é tão divertida que a Ubisoft até teve coragem de descartar o uso de 'UbiTowers'. Ao invés de desbloquear pontos de referência automaticamente no mapa após escalar uma torre, jogadores devem explorar o mundo para encontrar coletáveis e atividades opcionais - que, aliás, são muito diversas. Assim, completar objetivos opcionais no game passa a ser mais interessante do que simplesmente marcar pontos em uma 'checklist'.
O maior mérito de San Francisco como palco para "Watch Dogs 2", porém, é o fato da cidade ser um prato cheio de nuances e dilemas que o jogo pode satirizar.
A essência de "Watch Dogs 2" está naquela missão de "Grand Theft Auto V" em que Michael invade o escritório da LifeInvader, empresa fictícia que satiriza o Facebook. "Watch Dogs 2" não perde uma oportunidade de debochar de todos os aspectos do mundo tecnológico que gira em torno de San Francisco.
O jogo tem suas próprias versões de empresas e serviços como Google, Facebook, Foursquare e Uber - todas devidamente retratadas de maneira exagerada para fins cômicos. Logo de cara, uma indireta para a Apple critica empresas que tornam hardware obsoletos ao forçar uma mudança de padrão de portas.
Uma das primeiras missões de "Watch Dogs 2" chega ao ponto absurdo de fazer o jogador resgatar uma versão do Tom Cruise das instalações secretas de um culto que lembra a cientologia.
Problemas sérios e bem reais como a discriminação e a gentrificação também são temas em "Watch Dogs 2". Mas o game nunca abandona o humor, e por isso consegue fazer o jogador pensar em questões sociais sem deixar a diversão de lado.
Como parte do bando hacker DedSec, Marcus e seus carismático companheiros fazem de tudo por 'likes'. A missão dos hackers é fazer com que o maior número possível de pessoas baixem seu app. O DedSec aproveita o poder de processamento dos celulares e computadores de seus seguidores para lutar contra o ctOS 2.0, que firmou um sistema Orwelliano de controle da população.
Por mais diversos que sejam os objetivos das operações, a maior parte delas acaba com Marcus invadindo fisicamente uma zona restrita para hackear um ou mais objetivos. Para tal, ele conta com o apoio de dois 'drones', um saltador e um voador. No controle dos robôs, Marcus consegue realizar certas tarefas sem arriscar a própria pele.
Consideradas um ponto negativo no primeiro jogo, as atividades multiplayer dão a "Watch Dogs 2" mais variedade. Marcus pode ajudar a polícia na caçada de outros jogadores que passaram dos limites, hackear membros de um grupo rival e até cooperar com outras pessoas em missões específicas. Parte dessas atividades acontece de maneira espontânea, de repente, mas em um ritmo muito menos frequente do que no "Watch Dogs" original.
Uma ressalva: no PlayStation 4, ao menos antes do lançamento oficial do game, o modo multiplayer causou em mais de uma ocasião sérios problemas de performance.
Em uma campanha perfeita, Marcus demonstra o poderio de mestre hacker que as cutscenes o concedem, sem nunca sequer ser avistado pelos inimigos.
Mas nem todo jogador tem a habilidade ou a paciência necessárias para estar sempre no modo espião secreto - e quando essa barreira é rompida, "Watch Dogs 2" mostra um de seus piores lados.
Adam é um pacato guarda de segurança, casado e com dois filhos. Marcus descobriu essas informações momentos antes ao verificar seu perfil. De repente, Adam está disparando tiros de submetralhadora e lançando granadas contra Marcus, que ousou pisar em uma propriedade privada.
"Watch Dogs 2" não busca o realismo nu e cru, mas essa dicotomia temática é um pouco bizarra. O mesmo vale para missões que dão errado e acabam com Marcus cometendo uma verdadeira chacina, para momentos depois discursar como o defensor das massas que nunca pecou.
Em um mundo pós-"Grand Theft Auto V", "Watch Dogs 2" é um game de mundo aberto com personalidade forte o suficiente para evitar que os jogadores pensem, "Eu podia estar jogando 'Grand Theft Auto V'".
Pode parecer deboche, mas não é: ficar de pé firme e forte ao ser comparado com um dos games mais vendidos da história é um grande mérito.
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