Causou polêmica no passado: "Resident Evil" já foi racista?
Em 2007, "Resident Evil" se encontrava em um ótimo momento, graças principalmente ao sucesso de "RE4", que não só revitalizou a franquia, mas também serviu como um dos pilares para a popularização e revolução dos shooters em terceira pessoa.
Animada, a Capcom decidiu ir além com "Resident Evil 5": além da campanha em modo cooperativo, na qual dois jogadores controlariam os protagonistas da história, ousou ao situar o game em um novo continente: a África.
Na E3 daquele ano, a empresa revelou o primeiro trailer de "RE5", em que o herói Chris Redfield enfrenta hordas de humanos infectados em uma região fictícia do continente, conhecida como Kijuju.
A reação ao trailer, porém, não foi aquela que a Capcom esperava.
"Nossa, claramente nenhum negro trabalhou neste jogo", disse o crítico americano N'Gai Croal, na época da revista Newsweek, em conversa com a MTV News.
"A questão não é que você não pode ter zumbis negros", explicou. "Havia coisas no trailer antes mesmo da multidão virar zumbi. Eles estavam sendo, em um coloquialismo mais pós-moderno, tratado como 'outros'. Escondidos em sombras, você mal pode ver seus olhos, e a perspectiva do trailer nem é de alguém que vem ajudar pessoas."
A declaração de Croal provocou uma discussão entre outros membros da comunidade profissional de jogos. Stephen Totilo, na época editor da seção de games da MTV, também se sentiu desconfortável com o trailer, enquanto outros críticos não viram nada de mais nas imagens dos trailers.
Já o site Videogamer chegou a procurar um especialista acadêmico sobre o assunto, entrevistando o antropólogo Glenn Bowman, da Universidade de Kent, no Reino Unido, para dar sua opinião.
"É sobre usar a África como uma ameaça, mas eles tem que usar um lugar como uma ameaça, e até onde eu sei pelo que você mencionou o último jogo usou a Espanha rural", disse. "Basicamente se você quiser fazer um cenário assustador você pega quaisquer características daquele ambiente que são salientes e os deturpa. Então você tem espanhóis correndo com o que suspeito serem facas ou coisas do tipo. Aqui temos africanos infectados."
"Acho bobo chamar de racista".
A questão ficou um pouco mais complicada, porém, ao se descobrir que Bowman é um especialista de povos na região da Palestina e antiga Iugoslávia, e não necessariamente em relações raciais.
Com o passar do tempo, a controvérsia começou a baixar, especialmente após a divulgação de novos detalhes da parceira de Chris no jogo, Sheva Alomar, uma heroína africana e que cresceu na mesma região em que o jogo se passa. Outro personagem negro, Josh Stone, é um dos principais aliados da dupla durante a aventura
Em 2009, quando o jogo finalmente foi lançado, a questão de representação racial ainda se mostrou divisiva. Por um lado, as hordas inimigas não eram compostas totalmente por pessoas negras, trazendo uma diversidade maior aos inimigos.
Por outro lado, além das críticas à representação da África moderna, em certo momento do jogo, Chris e Sheva se encontram em uma vila nos pântanos de Kijuju, enfrentando uma série de inimigos com roupas tribais, e que usam lanças e flechas como armas.
"É algo que estou francamente surpreso de ver em 2009", disse Dan Whitehead, do site Eurogamer.
Os desenvolvedores, por sua vez, declararam diversas vezes estarem surpresos com a controvérsia, e nunca fizeram comentários mais elaborados com o assunto.
"Não podemos agradar todo mundo", disse o produtor Masachika Kawata. "Estamos na indústria de entretenimento - não estamos aqui para dizer nossa opinião política ou nada do tipo. É uma pena que certas pessoas pensem desta maneira".
De qualquer forma, mesmo com as acusações de racismo, "Resident Evil 5" ainda foi aclamado pela crítica e público, chegando a receber nota 9 da redação de UOL Jogos na época.
Desde então, porém, a série deixou o continente africano para traz, com "Resident Evil 6" acontecendo em diversos pontos do mundo, e "RE7" se passando na região rural do Estado da Louisiana, nos EUA.
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