Ousadia e desapego: como "Resident Evil 7" revitalizou a série de terror
Uma das mais tradicionais franquias do mundo dos games, "Resident Evil" experimentou o céu e o inferno de ter o seu nome no hall dos títulos mais lembrados pelos gamers. De franquia precursora do gênero survival horror na década de 1990, passando por toda a revolução que "Resident Evil 4" causou no mercado de games em meados dos anos 2000, ao quase ostracismo e repetitividade vivida no final da década de 2000 até o meio da década de 2010.
"Resident Evil" foi de precursora e fonte de inspiração para replicadora de fórmulas cansadas e sem inspiração. Esse declínio fez a franquia não apenas perder prestígio entre o público, mas também levantou um sinal amarelo, fazendo com que todos os fãs, imprensa e até mesmo a própria Capcom ficassem com o pé atrás com os próximos passos da franquia.
Eis que "Resident Evil 7" se apresenta como o sopro de qualidade e novidade que a franquia precisava. Mesmo tão pouco tempo após o seu lançamento, mesmo com parte dos fãs torcendo o nariz para o jogo (boa parcela sem ao menos ter jogado), já dá pra cravar que o título traz de volta parte do prestígio que há muito a franquia não gozava. Mas para falar dessa retomada, é preciso relembrar um pouco o passado de "Resident Evil".
Após três jogos de extremo sucesso no fim dos anos 90, utilizando a fórmula de câmera fixa, exploração de cenários, puzzles e forte foco no survival horror, "Resident Evil" perdeu um pouco de fôlego em seu quarto jogo da série principal ("RE CODE Veronica").
Os produtores, encabeçados por Shinji Mikami, viram a necessidade de apresentar novidades para manter a franquia relevante. Isso levou a um dos mais longos processos de criação da franquia, resultando em "Resident Evil 4", um divisor de águas na série que apresentou ao mundo mecânicas que até hoje servem de inspiração para grandes jogos.
A partir dessas mudanças e com a saída de Shinji Mikami da Capcom, "Resident Evil" entrou em um caminho de pouca criatividade, deixando de ser uma franquia de vanguarda. De fonte de inspiração, passou a se inspirar em fórmulas de sucesso presentes em outros jogos. O resultado disso - embora positivo no aspecto comercial com "Resident Evil 5" e "Resident Evil 6" figurando como os dois jogos mais vendidos da história da Capcom - trouxe à franquia críticas nunca antes experimentadas em seus jogos numerados.
Da mal falada linearidade de "Resident Evil 5" até à falta de identidade e história melodramática de "Resident Evil 6", a Capcom viu ruir a reputação da franquia, o que levou a um enorme hiato de jogos numerados e o lançamento de uma série de spin-offs e remasterizações, que serviram como uma espécie de teste para entender a vontade dos fãs e as necessidades da franquia.
Chegamos então a "Resident Evil 7", jogo que causou bastante polêmica pela mudança de perspectiva da câmera e que trouxe novamente os elementos de survival horror como grande foco. "Resident Evil 7" não era exatamente o que os fãs esperavam, mas é a sacudida que a franquia tanto precisava.
Através da volta dos elementos clássicos aliada à nova perspectiva e o início de um novo arco na franquia, "Resident Evil" voltou a ser o que era. O nome da série voltou a figurar como notícia de forma positiva, e trazendo novamente elogios à franquia. Embora o jogo não traga nenhuma grande novidade em relação às mecânicas, executa com maestria aquilo que se propõe a fazer, mostra que a Capcom ainda sabe o que é um "Resident Evil" e que a franquia não depende exclusivamente de seus protagonistas históricos.
É obvio que, em uma base de fãs tão grande e tão dividida quanto a de "Resident Evil", muita gente iria torcer o nariz para um jogo tão diferente de seus predecessores, principalmente sob o argumento de que "Resident Evil 7" não é um representante da franquia por não ter personagens clássicos, a câmera em terceira pessoa ou, ainda, uma história fortemente ligada aos acontecimentos do passado. Mas foi justamente por se desvencilhar destes três aspectos que "Resident Evil 7" traz uma importante revitalização para a série.
O título introduz novas mecânicas, traz de volta o survival horror (uma marca registrada de "Resident Evil"), propõe interessantes mesclas e inicia um novo arco narrativo que pode e deve ser o core de uma nova fase na franquia. Continuar apostando na fórmula introduzida por "Resident Evil 4", mesmo que se aproveitando de elementos de survival horror, faria com que a franquia afundasse cada vez mais no ostracismo, com jogos pouco relevantes lotados de 'fan services' mal colocados.
Em determinados momentos, franquias que se perpetuam por tantos anos carecem de mudanças, revoluções e novidades que chacoalhem suas próprias estruturas. Sair da zona de conforto é fundamental para evoluir e, ao buscar uma nova reinvenção, a Capcom mostrou que entende essas necessidades e que "Resident Evil" ainda pode ser relevante, figurando entre os grandes jogos do mercado.
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