Eles sabem de tudo antes: como é o trabalho de quem legenda anime no Brasil
Rodrigo Lara
Do Gamehall
07/04/2017 10h00
Processo envolve acordo de confidencialidade e trabalho intenso
Quem acompanha animes por serviços de streaming já deve ter se perguntado em algum momento como é possível os episódios surgirem legendados em diversas línguas uma hora após eles serem transmitidos no Japão.
Trata-se do serviço conhecido por "Simulcast" que, no Brasil, é oferecido para assinantes do Crunchyroll. Por meio dele, séries que estão indo ao ar do outro lado do mundo podem ser acompanhadas quase que em tempo real por aqui - algo bastante diferente do que ocorria há alguns anos, quando o único acesso possível a esse tipo de conteúdo envolvia baixar arquivos de vídeo e, para quem não domina a língua japonesa, procurar legendas pela Internet.
Qual seria, então, a "mágica" para isso acontecer?
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Na verdade, o trabalho de legendar um episódio começa antes de ele ir ao ar do outro lado do mundo. "As legendas já estão prontas quando o episódio vai ao ar no Japão", conta Yuri Petnys, gerente do mercado de língua portuguesa do Crunchyroll. "Recebemos o material com antecedência e ela depende do ritmo de produção do anime no Japão, podendo variar de 24 a 48 horas".
Esse material recebido com antecedência varia, podendo ser desde um roteiro a um episódio inacabado. "Às vezes também recebemos materiais de etapas intermediárias do anime", explica. E isso tende a funcionar, a não ser em situações mais insólitas como um míssil lançado pela Coreia do Norte.
Ser fã ajuda
Com essa prévia em mãos, a equipe de tradução entra em ação. "Cada grupo de tradução conta com três pessoas. Há diversas equipes e elas cuidam exclusivamente de determinadas série. Com isso, garantimos a coerência e a consistência entre a legenda". Ou seja: para traduzir um anime é preciso estar por dentro do que ocorre na trama.
Cada episódio de cerca de 25 minutos demanda um trabalho de cerca de oito horas para ser concluído. Essa antecedência, portanto, é fundamental e envolve uma boa dose de confidencialidade. Para evitar o vazamento de spoilers ou de episódios, os colaboradores precisam assinar documentos com peso legal. "Eles também recebem esses materiais com identificação pessoal, assim evitamos problemas".
Encontrar pessoas para esse tipo de trabalho também é um desafio, segundo Petnys. "Não é simples encontrar profissionais competentes que consigam entregar um trabalho rápido e de qualidade e tenham disponibilidade para trabalhar em horários incomuns". Ele conta que é o responsável por selecionar os tradutores e que o processo inclui testes de domínio das línguas portuguesa e japonesa".
Nesse sentido, a comunidade de entusiastas que fazem legendas extra-oficiais - as chamadas "fansubs" - é um importante celeiro para profissionais do tipo.
Mercado em expansão
Fato é que disponibilizar animes que estão sendo transmitidos no Japão por esse sistema de Simulcast tem se provado uma boa decisão do Crunchyroll.
"A nossa estratégia de mercado é tentar trazer todos os títulos possíveis da temporada para o maior número de regiões. Na última temporada, foram 60 títulos em simulcast no Brasil".
A empresa não divulga dados exatos sobre isso, porém Petnys dá uma ideia de quais animes vão melhor por aqui. "Os mais populares no Brasil são os mais famosos do gênero 'shounen': 'One Piece', 'Naruto Shippuuden' e 'Dragon Ball Super'".
O Crunchyroll está no Brasil desde outubro de 2012 e, somente no último ano, o número de assinantes nas versões de língua portuguesa da plataforma (que compreende Brasil e Portugal) dobrou. De acordo com Petnys, nosso idioma é o terceiro em audiência no mundo, perdendo somente para as versões em inglês e espanhol da plataforma.