Por que os protagonistas japoneses são quase sempre adolescentes?
Se a narrativa é japonesa, é bem provável que o protagonista seja adolescente.
Da mais simples história de aventura e superação, como "Pokémon" ou "Naruto", até tramas que envolvem política e temas macabros como "Persona 5" e "Death Note", quase toda a ficção pop japonesa costuma ser retratada através dos olhos de crianças ou jovens. Heróis adultos como os de "Nioh" ou "Dragon Ball Z" são exceções.
No Ocidente, o inverso é mais comum. "Call of Duty", "Assassin's Creed", os filmes da Marvel e DC e "The Walking Dead" - todos estes são estrelados por adultos. Os livros "A Song of Ice and Fire" começam com Jon e Daenerys aos 14 e 13 anos, respectivamente, mas a (mais popular) adaptação "Game of Thrones" os retrata como adultos.
Voltados principalmente para crianças, 'cartoons' como "Hora da Aventura" são a exceção no Ocidente, e reforçam a tese de que o público-alvo mais novo incentiva heróis igualmente novos. Mas, no caso do Japão, a questão é mais complicada do que isso.
Afinal, além dos já citados "Persona" e "Death Note", "Neon Genesis Evangelion", "Code Geass", "Eden" e inúmeras outras obras japonesas aclamadas têm protagonistas jovens que lidam com assuntos que crianças sequer têm a capacidade de compreender. São produções voltadas unicamente para adultos.
Mas então qual é a explicação para este fenômeno?
Estudiosos explicam como a sociedade japonesa é organizada com base nas idades dos indivíduos - muito mais do que qualquer outro país. Japoneses mais velhos monopolizam as posições de liderança, enquanto jovens adultos ocupam cargos mais baixos. Exceções são raríssimas.
Alie isto ao fato de que a maior parte dos japoneses só trabalha em uma única empresa durante toda a vida, e o resultado é uma sociedade de adultos nada aventureiros.
Homens e mulheres ocidentais são muito mais propensos a mudarem de empregos ou deixarem relacionamentos sérios para trás. São muito mais livres.
É muito difícil criar uma história convincente com um japonês adulto como protagonista. De acordo com o estereótipo, eles são inflexíveis, e não seriam moldados pelos eventos ao seu redor como deve fazer um bom herói. Eles já abandonaram sonhos e desejos de mudar o mundo, e se resignam a apenas cumprir suas obrigações diárias.
O adolescente japonês, por sua vez, é o protagonista ideal: ainda livre das algemas do mundo adulto, mas velho o suficiente para almejar ser um agente de mudança. Suficientemente convicto, mas ainda aberto a novas ideias.
No Japão, um protagonista jovem serve bem a todas as idades: como inspiração para o público jovem, e como escapismo para o adulto (ou até mesmo para o colegial preso ao impiedoso sistema educacional de lá).
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