Por sugestão de aluno, escola troca aula de Educação Física por "LoL"
Aluno do 8º ano sugeriu a novidade por não gostar de Educação Física
O sinal toca. Aos poucos, alunos do sexto ao nono ano do Ensino Fundamental entram na sala e enchem o ambiente com conversas animadas. O professor cumprimenta e chama cada um pelo nome. Todos se sentam.
Eu até poderia estar presenciando uma aula comum, mas a auxiliar do professor escreve na lousa "Objetivos: matar 80 tropas" e é neste momento que me lembro que estou em uma classe de "League of Legends".
O Colégio CPV oferece uma grade de horário semi-integral às turmas do 6º ao 9º ano, das 8h às 16h30 todos os dias, que traz desde programação até quatro aulas de Educação Física por semana. Destes quatro horários, um pode ser substituído pelos ensinamentos de "LoL", que ocorrem toda segunda-feira na sala de informática da escola.
A novidade, recém implementada pela instituição de ensino, foi ideia de um dos alunos. Erik Bonn tem 14 anos, está no 8º ano e "não é muito chegado" em esportes, como ele mesmo diz.
"Eu nem acreditei que aceitaram isso", diz Erik enquanto joga na aula, sem tirar os olhos do computador. "Eu desisti de esportes porque não gosto muito e comecei a jogar 'World of Warcraft" muito, e quando ficava sem grana eu ia jogar 'LoL'. Não sonho em virar pro player nem nada, é só um hobbie mesmo."
Enquanto o menino já está matando em uma partida, alguns outros alunos ainda estão perdidos na aula, que é opcional e recebe desde novatos até os mais experientes no game.
"Todo mundo sabe em qual trilha vai?", pergunta em voz alta o professor de Informática Arthur Costa enquanto caminha pela sala cheia de computadores e monitores. "Eles trabalham o raciocínio lógico, coordenação motora, são muitas habilidades envolvidas", me explica Arthur.
No começo, todos os alunos recebem um tutorial e um treinamento básico pelos professores, para depois começarem a jogar entre si em partidas arranjadas. Nicole Santana, que é plantonista de Química no colégio, ajuda em algumas aulas justamente por jogar "LoL" há mais de um ano.
"Este tipo de atividade ajuda a entender o trabalho em equipe e isso é bom não só na vida acadêmica, mas também na profissional", diz Nicole. "Auxilia eles a ouvir a opinião do outro, a parte de fazer as chamadas para completar um objetivo como matar um dragão faz com que o aluno tenha um espírito de liderança e também montar uma estratégia."
"Alguém vai na trilha do topo para me ajudar?", alguém grita de um lado da sala. Os comentários dos alunos variam desde "Sou eu que carrego, para de matar e deixa pra mim!" até "Eu morri e não entendi o por quê."
A aula é bem variada e os professores estão constantemente auxiliando os pré adolescentes no jogo, seja indo diretamente cadeira por cadeira explicando o que é dar o golpe final em cada unidade de tropa ou andando pela sala e lembrando que todos precisam comprar itens e não acumular muito ouro.
Os alunos são verdadeiras peças. Há casos como das amigas Maria Fernanda Basílio e Mariana Domingues, ambas com 11 anos. "Eu e a Maria somos amigas porque somos da sala do 6º ano e a gente queria experimentar mesmo sem saber jogar", diz Mariana enquanto escolhe qual item vai comprar para sua Lux, uma das campeãs do game.
As duas estão jogando juntas na trilha de baixo, uma como suporte e a outra como carregadora. Maria começou "LoL" nas aulas, mas diz orgulhosa que agora está jogando em casa também. "Tem um jeito de teletransportar para a base, vai lá, se cura e volta!", explica ela a um colega ainda meio perdido no jogo.
Mas há também casos como o de Eric Segawa, 11, do 7º ano. Ao contrário de Maria, ele só consegue jogar na aula: "O computador que tem em casa é do meu pai, eu não tenho e aí jogo aqui", me diz enquanto persegue um campeão oponente com seu colega de sala.
Ao matar o campeão inimigo, Caio Ávila - o par de Eric - grita do outro canto do local: "Matei o cara, você viu? BIRL! Vou levar a torre inimiga também!". O menino de 12 anos, também do 7º ano, é energético e já adora "LoL. "Eu comecei a jogar por causa da aula, mas agora não estou jogando em casa porque estou de castigo... Menti que fui bem na prova e não fui."
Letícia Oliveira, 14, começou a jogar e convenceu sua irmã gêmea a frequentar a aula por um motivo parecido ao de Erik, o idealizador do projeto. "Pensamos em entrar na aula juntas por que não gosto muito de esportes", me fala rindo. "Mas é legal jogar com todo mundo junto."
A procura pela aula foi tão grande que já conta com dois horários. Para Erik, o mais legal é ver seus colegas unidos pelo mesmo propósito: "Eu acho sensacional uma classe dessas jogando junto. São pessoas que você convive sempre, que são seus amigos e aí você junta todo mundo para jogar e trabalhar em equipe."
Ao sair da sala de Informática, conversei com o professor de Educação Física, Lyns Cardenuto, que acha a proposta mais do que válida. "Hoje em dia os eSports lotam estádios para competições, isso é diferenciado. [O jogo] Vale muito para raciocínio e isso é importante para os alunos", explica. "Já tentei jogar em casa, mas é bem difícil. Requer muita inteligência."
"Mas para mim isso não é esporte, é um jogo de computador. Tem que diferenciar o esporte da atividade física e o eSport de computador que o aluno fica sentado ali."
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