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Legado dividido: o que é a Atari hoje em dia?

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Victor Ferreira

Do Gamehall, em São Paulo

02/06/2017 13h59

Do início dos anos 1970 até meados dos anos 1980, a Atari foi possivelmente a companhia mais reconhecida e popular em todo o mundo, graças a verdadeiros ícones da cultura pop como “Pong” e o Atari 2600.

E então veio 1983.

Graças ao infame “crash” do mercado de games naquele ano - causado em parte pelo excesso de seus produtos -, combinado com o fracasso do Atari 5200, a empresa nunca mais foi a mesma, perdendo US$ 500 milhões durante o ano.

Em 1984 sua companhia-mãe, a Warner, dividiu e vendeu a Atari para outras empresas para tentar estancar a sangria.

É desta divisão que surgiram duas empresas diferentes: A Atari Corporation e a Atari Games, que tiveram trajetórias bem diferentes - mas que envolveram várias trocas de mãos pelas décadas.

E processos com a Nintendo.

Tengen - Reprodução - Reprodução
Propaganda da Tengen, divisão de games da Atari que conseguiu burlar as restrições do Nintendinho
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Atari Games

Antiga divisão de arcades, a Atari Games foi vendida para a Namco em 1985, mas se tornou independente no ano seguinte após a publisher japonesa perder interesse em uma subsidiária americana.

Nos anos seguintes, a empresa continuou fabricando arcades, mas seu grande “trunfo” foi a subsidiária Tengen, que conseguiu burlar a tecnologia da Nintendo e vender seus próprios cartuchos para o Nintendinho, incluindo “Tetris”. A batalha legal entre as duas companhias só terminaria em 1994, com parecer favorável à publisher japonesa.

Em 1993, a Warner readquiriu a Atari Games, agora parte do selo Time Warner Interactive. A união durou por 3 anos, quando a divisão foi vendida para a Midway Games, de “Mortal Kombat” e “NBA Jam”.

(Curiosamente, o fundador da Atari, Nolan Bushnell, tentou comprar a companhia, sem sucesso).

Em 1998, a Atari Games foi renomeada para Midway Games West, para não competir com a outra Atari no mercado de games. Em 2003, o estúdio acabou sendo finalmente dissolvido.

Em uma última virada do destino, em 2009 a Midway declarou falência, e acabou sendo incorporada por ninguém menos do que a Warner Interactive, reunindo mais uma vez o que restou desta parte da Atari à sua empresa-mãe.

Atari Jaguar - Reprodução - Reprodução
Atari Jaguar, o último suspiro da empresa no mercado de consoles
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Atari Corporation

A parte mais custosa - e maior fonte de prejuízo - da Atari era sua divisão de hardware e jogos domésticos, que em 1984 foi adquirida por um homem chamado Jack Tramiel.

Tramiel havia feito fortuna na Europa com sua empresa de computadores Commodore (que por aquelas bandas é reverenciada da mesma forma que o NES e o Master System são por aqui), e agora queria competir com os fabricantes de computadores e consoles do Japão, que já começavam a dominar os EUA.

Em 1985, a empresa começou oficialmente sua nova era com o computador Atari ST, que encontrou sucesso no mercado europeu (ainda ficando atrás do Commodore Amiga), mas foi pouco procurado pelo público americano.

Um ano depois, a divisão de consoles tentou se reerguer com o Atari 7800, que ao contrário de seu predecessor era capaz de utilizar cartuchos do 2600. A este ponto, porém, o mercado já era completamente dominado pelo Nintendinho, e o videogame acabou sendo pouco procurado pelo público.

Ainda assim, a empresa conseguiu se manter viva, e em 1988 chegou até a um lucro de US$ 452 milhões. No ano seguinte, lançou o Atari Lynx, sua aposta no mercado portátil, que apesar de oferecer uma tela colorida foi varrido pelo Game Boy “tijolão”, que oferecia mais tempo de bateria e estava disponível em mais partes do mundo.

Em resposta, a Atari tentou processar a Nintendo por monopólio, mas perdeu a causa por US$ 250 milhões.

A última tentativa da empresa de se estabelecer no mercado de consoles veio em 1993, com o Jaguar. Apesar de ser o primeiro videogame 64-bit - contra os 16-bit Super Nintendo e Mega Drive -, o preço alto e falta de jogos foi o beijo da morte da plataforma, que vendeu menos de 250 mil unidades.

Atari Jaguar - controle - Reprodução - Reprodução
O controle esquisito certamente não ajudou as coisas.
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Com a presença na área de consoles acabada, e a popularização dos computadores com sistema operacional Windows e processador Intel, a Atari Corporation foi vendida para a Hasbro Interactive em 1996 por apenas US$ 5 milhões.

Infogrames - Reprodução - Reprodução
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De Infogrames à falência

Em 2001, graças à crise das “ponto-coms”, a Hasbro Interactive - incluindo a Atari - foi totalmente vendida para a companhia de games francesa Infogrames.

Sabendo o valor histórico por trás do nome da antiga companhia de games, a Infogrames começou a lentamente se vender como a “nova” Atari, começando a usar o nome e logo para jogos como “Neverwinter Nights”, “Driv3r”, “Alone in the Dark”, “Enter the Matrix”, “Civilization III”, entre outros.

Isso acabou culminando em 2009, quando a diretoria da Infogrames decidiu renomear a companhia oficialmente para Atari, SA.

Mesmo com o nome famoso, a empresa sofreu com uma série de prejuízos e apostas erradas durante os anos - novamente, “Driv3r” e “Enter the Matrix” -, o que resultou em uma série de estúdios fechados e marcas vendidas para outras empresas.

Em 2013, após tanto prejuízo, a Atari, SA declarou falência.

Atari Flashback 7 - Reprodução - Reprodução
Atari Flashback 7, console retrô lançado no início do ano no Brasil
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... Mas a história não termina aqui.

Ao contrário de outras companhias de games, como a THQ e a Midway, a Atari conseguiu se manter viva no mercado graças a um extenso processo de reestruturação.

Nos últimos anos, a empresa tem se dedicado ao mercado mobile, lançando desde versões para celular de “Rollercoaster Tycoon” até games de nicho como “Pridefest”, em que o jogador pode criar sua própria Parada Gay.

A empresa também tem tentado apelar pela nostalgia, lançado o Atari Flashback 7, nova versão do 2600 com vários jogos clássicos na sua memória interna. No Brasil, este videogame foi lançado pela TecToy no início do ano por R$ 500 (embora ele não talvez não seja a melhor escolha para fãs nostálgicos).

Talvez a iniciativa mais bizarra desta Atari tenha sido a de criar programas de TV inspirados por seus jogos clássicos na África do Sul.

Enfim, esta é a Atari de hoje em dia: uma empresa decadente que veste a carcaça de uma predecessora histórica, tentando o máximo para se manter viva no mercado. Ainda assim, ela continua de pé, e quem sabe até 2049 consiga um logo gigante como no novo “Blade Runner”?