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Compartilhando a magia: o homem que manteve a Disney nos trilhos

Roy O. Disney ao lado de um quadro do falecido Walt, em 1967 - Reprodução
Roy O. Disney ao lado de um quadro do falecido Walt, em 1967 Imagem: Reprodução

Victor Ferreira

Do Gamehall, em São Paulo

17/09/2017 11h27

Pouco conhecido pelo público, Roy Disney foi fundamental para o sucesso dos estúdios do irmão

Caso você tenha visitado o Walt Disney World, certamente viu (e fotografou) a estátua “Partners”, que mostra Walt Disney ao lado de sua maior criação, Mickey Mouse.

Não muito longe, em um banco, há uma outra estátua, mostrando um senhor sentado e de mãos dadas com Minnie Mouse. Intitulada “Sharing the Magic” (ou “Compartilhando a Magia”), ela serve para homenagear uma figura mais discreta, mas não menos importante, na história da companhia: Roy O. Disney, irmão de Walt e um dos principais responsáveis pela criação deste império de entretenimento.

Sharing the Magic - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Nascido em 24 de junho de 1893, Roy Oliver Disney foi o terceiro filho do casal Elias e Flora, sendo 8 anos mais velho do que Walt.

Apesar da relativa diferença de idade entre os dois, os irmãos eram extremamente próximos, e mesmo em sua juventude criaram uma parceria de sucesso, entregando centenas de cópias do jornal Kansas City Star em uma rota organizada pelo pai.

Os caminhos dos irmãos se separaram brevemente quando Roy deixou a família para tentar a sorte no mundo sem a influência de seu pai, chegando a trabalhar em bancos e servir durante a Primeira Guerra Mundial, onde sofreu com a tuberculose.

A parceria só voltaria em 1923, quando por sugestão de Walt a dupla criou o Disney Brothers Studio -- mais tarde renomeado, a pedido de Roy, de Walt Disney Studio. Não só isso, ele vendeu quase todas as suas ações para o irmão mais novo e passou a servir como CEO não-oficial da empresa.

De certa forma, isso define perfeitamente a relação de trabalho dos irmãos: Walt, à frente, contagiava o mundo com seus sonhos, criatividade intensa; por trás das cenas, Roy utilizava de seu excelente conhecimento administrativo para garantir que as ambições do caçula virassem realidade -- com um sacrifício ou outro à visão inicial dele.

Foi graças a ele, por exemplo, que o estúdio conseguiu financiamento suficiente (e olhe lá) para completar “Branca de Neve e Os Sete Anões”, no fim dos anos 1930. Apesar de não ter total confiança no projeto -- um longa-metragem animado era quase impensável naquela época, graças aos custos de produção elevados -- ele seguiu em frente, mesmo com o risco de levar o estúdio à falência.

Branca de Neve - Reprodução - Reprodução
Como você pode supôr, o filme não foi um fracasso
Imagem: Reprodução

Não que tudo fosse fácil -- o jeito de pensar diferente dos irmãos gerou várias discussões e brigas sérias durante os anos, sendo até preciso de literalmente um cachimbo da paz para resolver um conflito --, mas pelas décadas seguintes, Roy era quase uma arma secreta do Walt Disney Studio, pouco visto e reconhecido até dentro da empresa, mas sempre essencial para o funcionamento do seu dia a dia.

Tanto que outubro de 1966, enquanto Walt fazia seus primeiros planos envolvendo o Disney World, um dos investidores perguntou o que aconteceria com a empresa caso ele fosse atropelado por um caminhão depois do almoço de negócios em que estavam. O artista respondeu: “Absolutamente nada. Meu irmão Roy cuida desta companhia. Eu só fico de bobeira”.

Esta frase se concretizou de forma trágica dois meses depois, quando Walt Disney morreu de câncer pulmonar. Roy, em resposta, abandonou seus planos de aposentadoria e assumiu o projeto para realizar o último sonho do irmão.

“Vamos terminar este parque [na Flórida], e vamos fazê-lo exatamente como Walt queria”, disse na semana seguinte à morte do irmão para executivos e artistas da empresa. “Não se esqueçam jamais disso. Eu quero que cada um de vocês faça exatamente o que ia fazer quando Walt estava vivo.”

Levou cinco anos e US$ 400 milhões para transformar aquele terreno pantanoso em um mundo de magia e túneis secretos, mas em 1971 o projeto finalmente foi concluído. A única grande mudança da visão original veio por parte do próprio Roy: ao invés de ser chamado simplesmente de “Disney World”, ele era agora “Walt Disney World”.

Roy e Mickey - Reprodução - Reprodução
Roy O. Disney e Mickey Mouse na abertura do Walt Disney World
Imagem: Reprodução

“Sem Roy, [Walt Disney World] nunca teria acontecido”, disse o então diretor de marketing Jack Lindquist. “Todo mundo era tão maravilhado por Walt que não pensariam em tomar seu lugar. Foi preciso de um Disney para isso, e este foi Roy.”

O Walt Disney World foi aberto para o público em outubro de 1971, mas como sempre Roy preferiu ficar longe das câmeras após o início das festividades, dizendo: “Hoje é dia do meu irmão”.

Roy O. Disney faleceu em 20 de dezembro de 1971, poucos meses após a inauguração do parque, aos 78 anos. Para celebrar suas contribuições, em 1999 a Disney pediu ao lendário escultor Blaine Gibson -- responsável por várias atrações icônicas dos parques, de “Piratas do Caribe” a “It’s A Small World” e a estátua animatrônica de Abraham Lincoln -- criasse uma estátua em homenagem ao cofundador, para servir como uma obra irmã para “Partners”.

“Roy está reclinado no banco, indicando que estava lá primeiro e a Minnie foi até ele, e não que ele foi lá perguntar porque ela estava sentada e não trabalhando”, brincou o escultor. “Ele também está segurando a mão dela por baixo, então ele está a apoiando, assim como ele apoiou os sonhos de Walt.”

No fim, era assim que Roy gostaria de ser lembrado. Como disse a repórteres na abertura do Walt Disney World: “Meu trabalho sempre foi ajudar Walt nas coisas que ele queria fazer. Ele sonhava. Eu construía.”

Walt e Roy - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução