Por que milhares de cartuchos de Atari foram enterrados no deserto dos EUA?
Em 26 de setembro de 1983, na calada da noite, entre 10 e 20 caminhões seguiram para um aterro nos arredores da cidade de Alamogordo, no Novo México.
Foi lá que se realizou um dos momentos mais infames da história da indústria de videogames, e essencialmente marcando o fim de uma era: o grande enterro de cartuchos da Atari.
Considerado por muito tempo uma lenda urbana da internet, o “tesouro” acabou sendo desenterrado em 2014, como parte do documentário “Atari: Game Over”, provando que a história, apesar de bizarra, era (essencialmente) verdade.
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Mas o que levou a Atari a enterrar estes cartuchos no deserto? Como uma das maiores empresas do mundo na época teve um fim tão indigno?
Bom, como muitas das grandes histórias, ela começa com “Pac-Man”.
Pés de barro
Em 1982, a Atari era possivelmente a maior companhia do mundo. Após ser adquirida pela Warner Communications por US$ 28 milhões, ela continuou a crescer e crescer até chegar a um valor estimado de US$ 2 bilhões, e isso parecia ser só o começo de um grande império corporativo.
Internamente, porém, a empresa sofria com problemas sérios, desde a saída de designers de games para outras empresas, como a Activison, até o fato de que novos consoles mais poderosos, como o ColecoVision, estarem começando a tomarem seu espaço no mercado.
E foi aí que “Pac-Man” chegou ao Atari 2600.
Tentando capitalizar com a “Febre Pac-Man” que tomou o mundo no início dos anos 1980, a Atari adaptou o game dos fliperamas para seu próprio console. Não só isso, ela fabricou 12 milhões de cartuchos, sendo que a este ponto era estimado que 10 milhões de unidades do Atari 2600 haviam sido vendidas ao público a este ponto, acreditando que as vendas de um ajudariam com as vendas do outro.
O problema: “Pac-Man” para o Atari 2600 era péssimo - uma versão porca, feia, e sem o menor charme do original. O game acabou sendo um sucesso, vendendo cerca de 7 milhões de cópias, mas deixou grande parte do público desiludido com a qualidade dos jogos da empresa, com muitos entusiastas preferindo esperar por opiniões da mídia especializada ou de amigos próximos.
Sem falar que, mesmo com o sucesso de vendas, ainda havia 5 milhões de cartuchos de “Pac-Man” encalhados.
Enquanto isso, a Atari trabalhava em um novo projeto que poderia ser a solução para seus problemas: uma adaptação do popular filme “E.T. - O Extraterreste”, de Steven Spielberg, com direito a participação direta do icônico diretor.
Fundo do poço
Desenvolvido em menos de seis semanas para chegar às prateleiras no período do Natal, “E.T. the Extra-Terrestrial” tornou-se um marco na história dos games por todos os motivos errados.
Bugado, com jogabilidade terrível e cansativa, e gráficos ruins até para os padrões do Atari 2600, o game foi massacrado pela crítica e pelo público, e apenas 1,5 milhão dos 5 milhões de cartuchos foram vendidos - com boa parte delas sendo devolvida às lojas por consumidores insatisfeitos.
Como se já não fosse ruim o suficiente para a Atari, em 1981 a companhia, no alto de sua prepotência, pediu para seus distribuidores que fizessem todas as ordens de produtos para 1982 de uma vez.
Não é preciso dizer, o tiro saiu pela culatra de forma espetacular, com armazéns repletos de caixas fechadas de cartuchos de Atari sem qualquer perspectiva de serem vendidos para o público.
Em 1983, a Atari teve um prejuízo de US$ 536 milhões, causando o Grande Crash de Videogames e colocando a mídia em risco até a Nintendo lançar o NES, dois anos depois.
O enterro
Em uma medida desesperada para diminuir seu próprio estoque, a Atari acabou criando uma operação para se livrar de centenas de milhares de cartuchos na fábrica da cidade de El Paso, no Texas.
Dependendo da fonte, 10, 14 ou até 20 caminhões foram usado para levar os produtos da fábrica até o aterro de Alamogordo. O “evento” foi noticiado por jornais locais, e chegou até a ser matéria do New York Times.
A ação causou controvérsia no governo municipal de Alamogordo, com o gerente do aterro proibindo a empresa de usá-lo para jogar os cartuchos fora por medo do perigo ambiental que eles poderiam causar no futuro.
Em 29 de setembro de 1983, a área foi coberta por concreto, e assim ficou por mais de 30 anos. No ano seguinte, a Warner Communications repartiu e vendeu a Atari - mas isto é outra história.
O mito
Com o passar dos anos, a história do enterro dos cartuchos de Atari começou a ganhar contornos cada vez maiores, e atingiu o patamar de lenda urbana com a popularização da internet.
Apesar de ter sido noticiado na época, a falta de informações sobre o que realmente aconteceu logo fez o público aumentar ainda mais a história, com o consenso geral sendo de que era em Alamogordo que estavam as 3,5 milhões de cópias de “E.T.” que não foram vendidas ao público.
Na realidade, como visto no documentário “Atari: Game Over”, o aterro contém cerca de 700 mil cópias de vários cartuchos do Atari 2600, incluindo “Centipede”, “Pac-Man” e, sim, “E.T. - The Extraterrestrial”.
Mas, há um adendo curioso nesta história: de acordo com o livro “Atari, Inc.: Business is Fun” (ou “Atari, Inc.: Negócio é Diversão”, em tradução livre), de Marty Goldberg e Curt Vendel, a Atari realmente enterrou milhões de jogos que não conseguiu vender.
Este enterro, porém, aconteceu na Califórnia, próximo ao QG da companhia.
Isso quer dizer que, possivelmente, não há apenas um, mas dois locais onde a Atari enterrou seu legado como maior empresa do mundo dos videogames.
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