Matadora de franquias: por que a Konami abandona seus jogos mais famosos?
Uma notícia da semana passada ligou o sinal de alerta para os fãs da série "Pro Evolution Soccer": a Konami não renovou o contrato com a Liga dos Campeões da Europa e o torneio não será representado oficialmente no game a partir de "PES 2019".
Há dez anos, o licenciamento da Liga dos Campeões vem sendo um dos principais argumentos de venda de "PES" em relação à franquia rival "FIFA". Um dos maiores receios dos fãs mais pessimistas é que isso acabe gerando um interesse menor sobre a série e ela acabe sendo abandonada pela Konami.
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Ainda que soe exagerado e improvável, esse cenário catastrófico não seria inédito. Afinal, poucas produtoras são tão "especializadas" em colocar franquias famosas em hibernação profunda - ou debaixo de sete palmos de terra - quanto a Konami.
Para termos uma ideia, se considerarmos a atual geração de consoles de mesa (PlayStation 4, Switch e Xbox One), apenas cinco games foram lançados pela empresa sem ser as versões anuais de PES: "Metal Gear Solid V: Ground Zeroes", "Metal Gear Solid V: The Phantom Pain", "Metal Gear Survive", "Super Bomberman R" e "Yu-Gi-Oh! Legacy of the Duelist".
É pouco, considerando que se trata de uma produtora com franquias famosas como "Castlevania", "Silent Hill" e "Contra". A questão é: vale a pena para a empresa investir nestes games?
Jogos já não dão tanto dinheiro
Considerando o cenário atual da indústria de games, temos duas grandes divisões: os jogos chamados "AAA" (também conhecidos como "Triple A"), como "God of War", "The Legend of Zelda: Breath of the Wild" e "Forza Horizon 3", e games desenvolvido por produtoras menores, os chamados indies, caso de "Shovel Knight", "Hellblade: Senua's Sacrifice" e "Stardew Valley", entre outros.
A primeira categoria exige orçamento milionário e longos períodos de produção, o que resulta em um risco financeiro maior. Já a segunda, em geral, envolve valores menores de produção, games mais simples - o que passa longe de significar piores - e meios alternativos para bancar projetos, como financiamentos coletivos.
É de se esperar que uma empresa com a tradição e representatividade da Konami brigue na primeira categoria. E não é errado entender que ela faz isso ao lançar, ano a ano, uma nova edição de "PES". É um game com uma base de fãs fiel (ainda que difícil de determinar precisamente seu tamanho), o que gera um mercado seguro e diminui o risco que falamos aqui em cima.
E quanto às outras franquias? Bem, aí a coisa muda de figura.
Arriscar para quê?
Excetuando games mais simples, como "Super Bomberman R" e "Yu-Gi-Oh! Legacy of the Duelist", apenas jogos da série "Metal Gear" foram os "AAA" lançados pela empresa além de "PES" na atual geração. E aqui, consideremos "Metal Gear Solid V: The Phantom Pain", de 2015.
O game superou a marca de seis milhões de unidades enviadas às lojas, um sucesso, porém gerou diversos problemas envolvendo o seu criador, Hideo Kojima, e a própria Konami.
Um dos principais dizia respeito aos custos de produção: o jornal japonês Nikkei estimou que foram gastos US$ 80 milhões em sua produção. Isso significou que, assim que foi lançado, seria necessário vender algo entre 5 ou 6 milhões de cópias para que "Metal Gear Solid V: The Phantom Pain" não desse prejuízo à produtora. Ou seja, a produtora mal conseguiu equilibrar a conta.
Novas aventuras por franquias consagradas como "Castlevania" ou "Contra" exigiriam uma boa dose de inovação, afinal são games com mecânicas não tão populares hoje em dia - ainda que nosso lado saudosista insista em dizer o contrário. E aí, temos mais riscos: a Konami já tentou, por exemplo, reinventar "Castlevania" nesta década com "Lords of Shadow". O resultado: enquanto o game de 2010 foi bem recebido e superou a marca de 1,5 milhão de unidades vendidas pelo mundo, a sequência, de 2014, foi muito criticada e vendeu muito menos do que o seu antecessor.
Resultado: não vimos mais a franquia desde então.
E nem o "PES" parece estar rendendo tanto assim. A Konami não divulga números de vendas por título há algum tempo. Uma das últimas vezes que as vendas de jogos da série foram assunto foi em 2016, quando o conceituado analista Daniel Ahmad, da Niko Partners, afirmou que, em sua primeira semana de vendas, "PES 2017" havia vendido cerca de 40 vezes menos cópias do que "FIFA 17" vendeu em sua semana de estreia.
Considerando que tal desempenho não tenha mudado completamente em pouco mais de um ano, é de se imaginar que "PES" ajuda a divisão de games da Konami em seu faturamento, mas deve ficar longe de ser uma galinha de ovos de ouro.
A confusão com grandes jogos tomou proporções ainda maiores depois da já citada disputa entre Hideo Kojima e Konami. O cancelamento do projeto "P.T.", game de terror que reuniria, além do produtor, o cineasta Guillermo del Toro e o ator Norman Reedus, e a consequente dissolução da Kojima Productions e a saída do produtor da empresa jogou o público contra a Konami. Foi um episódio sem vencedores, mas do qual a empresa saiu como perdedora se considerarmos a opinião de muitos fãs.
Depois de todos esses cancelamentos, ainda em 2015 houve rumores de que a empresa deixaria de produzir games "AAA" além de "PES", algo que acabou sendo desmentido pela companhia dias depois.
Outros negócios
Mesmo "comprometida" com o assunto, um balanço divulgado no final de janeiro de 2018 referente aos nove últimos meses de 2017 não é exatamente uma boa notícia para os jogadores que esperam uma produção mais intensa de jogos da produtora em formato tradicional.
Isso porque, apesar de a empresa estar bem financeiramente falando, ela deixou claro no documento que a maior parte do lucro de sua divisão de jogos vem de games mobile e cartas colecionáveis, além de torneios de eSport e, claro, da franquia "PES". A maioria destes games, porém, não chega ao mercado ocidental, deixando uma boa parcela de fãs carentes da marca.
Além disso, a Konami também possui outras áreas de atuação, indo de entretenimento eletrônico, como as famosas máquinas de pachinko (lembram vagamente máquinas caça-níqueis), além de academias e brinquedos eletrônicos. Todas essas divisões também têm obtido resultados sólidos, capazes de colocar a Konami como um belo exemplo de empresa que soube diversificar os negócios.
Essa excelência nos negócios, por outro lado, significa que estamos bem longe de vermos franquias queridas sendo lançadas de maneira convencional. Ou ainda, veremos criações controversas, como "Metal Gear Survive" ou, ainda, franquias famosas sendo lançadas em outras plataformas, caso do game mobile de "Castlevania".
Com games cada vez mais caros de serem produzidos e fontes de rendimentos cada vez mais diversas, é seguro dizer que dificilmente teremos de volta a Konami que os jogadores se acostumaram a ver e a admirar há algumas décadas.
Por onde anda?
CASTLEVANIA
Último jogo: Castlevania: Lords of Shadows 2
Plataformas: PS3, Xbox 360 e PC
Ano: 2014
CONTRA
Último jogo: Hard Corps: Uprising
Plataformas: PS3 e Xbox 360
Ano: 2011
SILENT HILL
Último Jogo: Silent Hill: Book of Memories
Plataforma: PS Vita
Ano: 2012
ZONE OF THE ENDERS
Último Jogo: Zone of the Enders HD Collection (coletânea)
Plataforma: PS3 e Xbox 360
Ano: 2012
SUIKODEN
Último jogo: Suikoden V
Plataforma: PS2
Ano: 2006
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