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Com mundo hostil e desafiador, "Metro Exodus" é um excelente jogo de tiro

Daniel Esdras

Do GameHall

18/02/2019 04h00

A série "Metro" sempre passou fora do radar da maioria dos jogadores, que mesmo que tenham ouvido o nome do jogo em algum lugar, normalmente só sabem esta é uma franquia de tiro em primeira pessoa. Com a popularidade crescente a 4A Games, desenvolvedora ucraniana da série, se viu em condição de lançar seu projeto mais ambicioso, "Metro Exodus".

A franquia é baseada no livro "Metro 2033", do russo de nome difícil Dmitriy Glukhovskiy. Em resumo, a história conta a trajetória de Artyon, que vive em uma Moscou pós-apocalíptica devastada pela guerra nuclear. Como a cidade foi varrida do mapa e a radiação tomou conta da superfície, os sobreviventes foram obrigados a sobreviver nas linhas do metrô - daí o nome da saga.

"Exodus" é o terceiro jogo da série e expande os eventos do livro, mas pode perfeitamente ser jogado por quem não aproveitou os games anteriores. O protagonista Artyon é um membro dos espartanos, um grupo de elite do exército local. Ele nunca se conformou com a vida subterrânea e sempre procurou algum sinal de sobreviventes na superfície ou, pelo menos, um local habitável para montar uma colônia e retirar seu povo da escuridão. "Metro Exodus" é exatamente sobre essa busca que levará ele e seus companheiros em uma expedição inesquecível por todo o país, dessa vez na superfície.

Comparado aos jogos de tiro em primeira pessoa mais populares da indústria, "Metro" está bem mais para "Fallout" do que para um "Call of Duty". Isso porque o jogo dosa as partes de ação frenética e reserva diversos momentos para a exploração e o suspense. E em "Exodus" isso fica ainda mais evidente.

Uma viagem memorável

Logo de cara você percebe a ambição do projeto, com gráficos de cair o queixo e até inesperados para um estúdio que ainda não está nem perto do tamanho de colossos como a Rockstar ou a Ubisoft. Mesmo no PS4, que tem configurações bem mais modestas do que as recomendadas para jogar no PC, o visual é impressionante e a taxa de quadros se mantém constante em quase todos os momentos.

Os gráficos são de perder o fôlego quando a viagem realmente começa dentro de um trem. Com ele, você atravessa diversas áreas que dão a sensação de um mundo aberto pequeno, mas bem-criado.

Cada um destes locais conta com uma ambientação diferente e competente. Em Volga o cenário é de um inverno cruel e frio, habitado por monstruosidades mutantes que parecem realmente ter se adaptado após o desastre para sobreviver naquele ambiente hostil. Tempos depois é a vez de encarar um deserto enorme que um dia foi um mar e investigar carcaças de navios enterrados na areia, tentando sobreviver contra criaturas igualmente bem adaptadas e perigosas.

Metro Exodus Foto gráficos - Reprodução - Reprodução
Os cenários são bem construídos e tem gráficos impressionantes
Imagem: Reprodução

Com a alternância desses locais e um ritmo de narrativa que somente um escritor de alto calibre como Dmitriy - ele assina o roteiro do jogo - pode proporcionar, o jogo não fica cansativo. Em vários momentos me peguei sorrindo por ser surpreendido, às vezes pela história, mas muito mais pelas mudanças bruscas na forma como jogar.

Em determinado momento estava investigando casas destruídas, concentrado na exploração do recompensador "mundo aberto". Quando parecia me cansar, fui levado para uma sequência alucinante de combates em uma torre para salvar um membro raptado da minha equipe.

Em outra ocasião memorável, fui encarregado de procurar um mapa em uma antiga instalação subterrânea abandonada pelo exército russo. Para minha surpresa, o jogo pareceu se transformar em um survivor horror, pois não havia suprimentos suficientes para manter meu oxigênio, nenhuma luz e a minha vida dependia de manter minha lanterna ligada para espantar aranhas mutantes que vinham de tudo que é direção e se machucavam com luz.

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Poucos jogos conseguem proporcionar experiências diferentes assim com uma premissa que dá tamanha liberdade para o jogador e menos ainda entregam com a qualidade que encontrei em "Metro Exodus".

Os personagens são cativantes como poucas vezes vi em jogos com esse escopo, especialmente por se tratar de um FPS. A mulher de Artyon, Anna, é tão amável e carismática que em determinados momentos do jogo me senti realmente preocupado com seu bem-estar. Já o pai dela é o seu comandante. Embora rabugento e com trejeitos típicos de um veterano militar, ele consegue demonstrar diversas facetas e acaba te conquistando no decorrer do game. É assim com boa parte dos personagens, que contam histórias e se envolvem de formas interessantes na narrativa.

Metro Exodus personagens - Reprodução - Reprodução
Os personagens são carismáticos e tem profundidade
Imagem: Reprodução

O mesmo se aplica para os vilões de cada região. Longe de ter aquele fetiche clássico de conquistar o mundo, cada um deles tem uma relação própria com o seu local e se envolvem com os poucos sobreviventes de alguma forma única. Eles podem dominar a sua área com extremismo religioso que abomina e culpa a tecnologia pelo caos, serem canibais cruéis que atraem viajantes para ser o jantar em uma área onde a fome domina desde o desastre, ou mesmo serem escravagistas que solidificam o seu poder vendendo a rara e valiosa mão de obra subjugada nesse mundo desolador.

Tiroteio competente e liberdade total

Tudo isso só é interessante porque a jogabilidade também segue o padrão de alto nível. O combate é bem executado e variado, fornecendo diversas alternativas para cada invasão ou missão. O jogo também te trata como um ser humano como outro qualquer, que seria frágil nas circunstâncias de um mundo pós-apocalíptico. "Metro Exodus" é desafiador e não deixa você se sentir seguro em qualquer canto do mapa. O mapa, inclusive, é essencial para navegação, porque não existe uma interface no estilo GPS que te guia para o local das missões.

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Tudo isso funciona porque a progressão do personagem é constante e o mapa por ser separado em áreas isoladas, permite construções detalhadas e uma distância de renderização longa, que te ajuda muito a se guiar seguindo pontos de interesse da área, sejam eles torres, navios enormes ou igrejas pré-guerra. Já o desafio não é fruto de uma deficiência do jogo, mas pensado para instigar o jogador a melhorar seja seus equipamentos ou habilidades.

É possível carregar sempre três armas que são totalmente customizáveis e seguem um padrão parecido com o de "Fallout 4", onde a arma é uma base que pode ser modificada de diversas formas. Só que a aplicação aqui é bem mais prática e rápida. Você pode conseguir melhorias como miras, coronhas, bocais e novas armas explorando o mapa ou saqueando inimigos, e editar tudo em tempo real acessando a mochila. Algumas mesas especiais trazem opções adicionais à edição, como a limpeza das armas que você vai levar para o combate e criação de munições especiais. Armas sujas perdem não só atributos como também podem travar e te deixar na mão no meio do combate.

Toda essa customização se estende também para os seus equipamentos. Você pode trocar o seu capacete por um com mais armadura, ou um que tenha uma proteção reforçada para sua máscara de oxigênio, já que os inimigos podem quebrar sua máscara.

Metro Exodus Armas - Reprodução - Reprodução
Modificar as armas muda completamente a forma de jogar
Imagem: Reprodução

Em "Metro Exodus", escolher bem os equipamentos é mais essencial do que em outros jogos, pois eles podem ativar funções como a visão noturna. Usando isso, as perigosas noites do jogo ficam um pouco menos assustadoras, te ajudando a operar na escuridão.

A interface também se destaca, porque apresenta ícones de forma orgânica, sem que sua tela fique poluída. O tempo até o oxigênio acabar em locais com radiação? É mostrado em um relógio de pulso do seu personagem. Quantidade de ar na sua arma pneumática? Aparece no próprio cilindro da arma. Até mesmo o mapa e a mochila são pegos diretamente pelo seu personagem em tempo real e guardados rapidamente, sem pausa na ação. A imersão é total.

Metro Exodus Interface - Reprodução - Reprodução
A interface é inserida no personagem e não polui a tela
Imagem: Reprodução

Para alegria dos jogadores brasileiros, o estúdio ainda teve o cuidado de adicionar legendas em português ao jogo. Durante todo o tempo jogando, não consegui encontrar erros grosseiros na tradução, o que mostra que o serviço foi bem feito pela desenvolvedora.

Inteligência Artificial não convence

Enchemos "Metro Exodus" de elogios, mas nem tudo são flores. Embora os monstros tenham uma boa inteligência artificial e ataquem em bandos de forma competente, os humanos sofrem com problemas graves. Eles parecem te escutar só quando você corre, pois quase não há diferença entre andar agachado ou em pé. Várias execuções silenciosas são vistas e ignoradas pelos NPCs, que também ficam perdidos na hora de tiroteios, com reações lentas mesmo nos modos mais difíceis. Existe um sistema de tensão psicológica que atinge somente os humanos e que pode ser a causa desse problema - quem sabe a 4A Games melhora isso em atualizações.

Em alguns momentos também fica evidente a diferença de orçamento entre "Metro Exodus" e jogos "Call of Duty" ou "Fallout". Certas animações são malfeitas e ficam feias e esquisitas, alguns efeitos sonoros são bizarramente amadores, como a coronhada com algumas armas e os passos em algumas superfícies. Ainda notamos alguns bugs que incomodam, como inimigos atravessando paredes ou elementos do cenário flutuando, mas não é nada que quebre o jogo.

Em uma época onde jogos estão com um custo de produção cada vez mais astronômico e estúdios medianos têm dificuldades de acompanhar as grandes corporações, "Metro Exodus" parece até um milagre pela sua ótima execução. Como todo jogo e especialmente com esse nível de orçamento, alguns probleminhas ficam evidentes, mas não tiram o brilho da história bem contada, dos personagens carismáticos e de uma jogabilidade e customização memoráveis. Pode não ser o "The Witcher 3" da 4A ainda, mas com certeza coloca o estúdio em um novo patamar e a série "Metro" em pé de igualdade com muita franquia badalada da indústria.

Nota: 9

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