Com conteúdo de sobra, "The Division 2" tem diversão para centenas de horas
Sete meses após a pandemia devastadora que varreu Nova York e destruiu os conceitos de civilização ao redor do mundo, "The Divison 2" te coloca em um resgate à capital Washington DC. Seu papel é mais uma vez o de agente tático de apoio da Divisão, que tem como objetivo restabelecer a ordem local e proteger os cidadãos dos grupos extremistas que dominam o local.
A premissa é exatamente a mesma do primeiro "The Division" e a pergunta que você deve estar se fazendo enquanto lê este parágrafo é: "Existem mudanças suficientes para justificar esse segundo jogo?". Guarde isso em mente, mas saiba que a resposta curta mais correta é: depende do quanto você gosta do estilo e qual a sua impressão do primeiro jogo da franquia.
Washington D.C. é impressionante...
A ambientação foi um ponto forte já no game, que impressionou com uma Nova York bem realista e que trazia todos os elementos de um mundo mergulhado nos problemas do fim da sociedade. Em "The Division 2" o resultado é ainda melhor. Washington D.C. foi reconstruída em uma escala de 1:1 no jogo e é visualmente impressionante.
Todos os principais monumentos históricos, que você talvez conheça pelos filmes de ação que passam direto TV aberta, estão presentes de forma fiel. A Casa Branca, o Capitólio, o Museu Nacional do Ar e do Espaço, o Lincoln Memorial e muito, muito mais. Se você nunca visitou a cidade se sentirá por vezes como um turista e se já foi ficará impressionado com a fidelidade dos detalhes.
Todo esse arsenal de locais disponíveis para os designers pensarem nas missões gerou um efeito raro em jogos desse tipo - agora classificados como "looter-shooters": o de um frescor a cada missão que deixa em segundo plano a sensação de repetição constante das mecânicas.
Em determinado momento combati os inimigos em uma exposição detalhada da guerra do Vietnã, em outra dentro de um planetário, atirando nos membros das gangues enquanto o fundo mostrava uma galáxia distante. Mesmo com conceitos sempre parecidos, de enviar ondas de inimigos para o jogador fuzilar enquanto se esconde atrás de uma cobertura, esses ambientes variados fazem tudo parecer novo e fica sempre a expectativa para ver como vão se superar na próxima missão.
Até a forma como Washington foi originalmente planejada contribui de alguma forma, nesse caso para uma jogabilidade mais variada em relação ao que acontecia em Nova York. No primeiro jogo o ambiente é quase claustrofóbico, com corredores de arranha-céus que fazem das ruas e interiores dos prédios quase que os únicos campos de batalha possíveis. Em "The Division 2" isso é só uma das partes, já que, além de tudo que o jogo anterior ofereceu, Washington ainda conta com diversas praças enormes, bairros residenciais e áreas abertas a perder de vista.
... Já o enredo deixa a desejar
Se tem algo que poderia acabar na próxima geração são os protagonistas mudos. Por melhor que seja a história, um protagonista mudo sempre vai deixar um gostinho amargo de que poderia ser melhor. "The Division 2" é um game que sofre com isso, mas esse é o menor dos problemas do enredo, que definitivamente é o ponto mais baixo do jogo.
Washington está dominada por três facções, os Exilados, os Hienas e os Herdeiros, todos com um pano de fundo bem interessante. Os exilados, por exemplo, são parte da população que foi colocada em quarentena forçada após os problemas com o vírus e se rebelaram contra o sistema e a sociedade, se tornando paranoicos e vingativos.
Cada uma dessas facções têm toda uma construção detalhada por trás e líderes que de alguma forma são responsáveis por tudo que está acontecendo, mas nenhuma delas é bem desenvolvida durante a campanha. Os líderes mesmo não têm sequer uma face e quando enfrentados são apenas um nome em cima de um modelo de chefe genérico que já teve outros nomes em outras missões.
A própria Divisão sofre com a falta de cuidado da história, com personagens e agentes sem nenhum carisma e que se apegam apenas nos arquétipos militares clichê, com os diálogos típicos das literaturas de Tom Clancy que inspiram o jogo. Se isso acontece com a agência, que é o principal ícone do jogo, você já deve imaginar como foi feito com os outros personagens secundários.
A campanha obviamente sofre com tudo isso, pois não há um ritmo na narrativa, que não traz nenhuma daquelas viradas de enredo que fazem você se prender nas consequências das missões. "The Division 2" até tem momentos marcantes de história, mas estes são raros.
Gameplay soberbo
Agora é a hora de responder em detalhes aquela pergunta lá do segundo parágrafo. "The Division 2" traz muitas mudanças em relação ao primeiro jogo, mas todas bem tímidas para modificar de fato a forma de se jogar. Se você teve contato com o primeiro título e largou ele de lado por conta do gameplay, "The Division 2" não será o jogo para você. Agora, se o problema foi achar o primeiro muito repetitivo, com pouco conteúdo mas com boa jogabilidade, você deve dar uma segunda chance a "The Division 2".
A principal mudança na jogabilidade talvez seja o sistema de melhoria das armas, que agora são feitas exclusivamente por crafting e têm sempre um ponto positivo e outro negativo para cada acessório. Um silenciador pode melhorar a precisão da arma e diminuir o dano crítico, já um pente pode aumentar o número de balas, mas aumentar o tempo de recarga. Eu pessoalmente não gostei de ter de fazer essas escolhas e acho que elas tiraram muito da verossimilhança do primeiro jogo, mas reconheço que o sistema abre um leque interessante no "endgame" para a criação de builds.
No mais o combate continua bem executado e desafiador. A inteligência artificial é uma surpresa positiva, principalmente por ser uma falha recorrente em jogos da Ubisoft. Especialmente se você estiver jogando sozinho, os inimigos vão dar muito trabalho. Eles sabem flanquear, suprimir sua posição com fogo constante e te obrigam a tomar decisões difíceis para não morrer. Tudo isso é elevado ainda mais com a variedade deles, que dependendo do tipo podem te causar problemas com lança-chamas, robôs e até bombas amarradas no próprio corpo.
Já as novas habilidades deixam o planejamento para cada combate dinâmico e recompensador. Drones podem ser usados para tirar snipers de cobertura, granadas podem seguir os inimigos mais distantes e algumas habilidades mais excêntricas, como a colmeia, podem usar microrrobôs para infernizar os inimigos. Cada uma dessas habilidades tem até três variações e, assim como armas e equipamentos em geral, podem receber melhorias diversas.
Quanto ao mundo, a maior mudança positiva na jogabilidade foi em relação às colônias e os seus projetos. A base da agência é a Casa Branca, que pode ser melhorada à medida que novos especialistas são enviados para lá.
Diferente do que ocorria no game anterior, liberar esses especialistas depende do desenvolvimento das chamadas colônias. Washington conta com duas delas, locais onde a população tentava se reerguer, mas que acabaram devastados pelas facções e agora necessitam de ajuda. Ao concluir as missões principais desses locais, você desbloqueia, além de especialistas, projetos para melhorias do seu equipamento e outras missões secundárias dadas por moradores.
Cada projeto tem suas requisições e ao serem concluídos, liberam a melhoria para ser construída na sua base principal e dão uma boa quantidade de experiência.
Tudo isso tornou "The Division 2", em termos de jogabilidade, uma evolução natural do primeiro jogo e uma pedida quase que obrigatória para quem é amante desse tipo de combate.
Conteúdo de sobra
Em termos de conteúdo no lançamento e estabilidade nos servidores, "The Division 2" é tranquilamente o melhor "Game as Service" lançado até o momento. É coisa para fazer que não acaba mais. Dominar bases, coletar tecnologia, melhorar o equipamento e as habilidades, caçar alvos da Division, PVP, seja na Dark Zone - que está bem melhor que no jogo anterior - seja nos modos de combate, e um conteúdo endgame que mostra que a Massive Entertainment aprendeu muito com as falhas do passado.
Após completar a campanha e chegar ao nível 30, é possível escolher uma especialização para o seu agente, que garante novas habilidades e uma arma especial. Além disso, uma nova facção chega na cidade para dificultar a sua vida, com robôs, drones e armamento pesadíssimo. Eles invadem as fortalezas e aproveitam a fraqueza das outras gangues para dominar tudo que for possível. Com isso começa a busca eterna por pontos de equipamento.
A dificuldade vai sempre aumentando à medida que você completa as missões da Pata Negra, que acontecem nos locais das missões da campanha, e equipamentos melhores e mais raros vão surgindo. Tudo que você acumular pode ser usado depois na Dark Zone, que após o nível 30 não normaliza mais os atributos e premia quem tem equipamentos melhores e também para dominar novamente as fortalezas, que fazem o seu mundo avançar de "Tier" e ficar ainda mais difícil.
Em entrevista ao UOL Jogos, o produtor Nicholas "Nick" Scurr confirmou mais conteúdos para esse ano, focados na nova facção Pata Negra. Isso mostra o comprometimento da Massive e da Ubisoft com a comunidade e aponta para um futuro longo para o jogo.
"The Division 2" traz muitas melhorias em relação ao seu antecessor, com pequenos detalhes que fazem a campanha e o caminho até o nível máximo mais prazerosos, mesmo com uma história descartável.
A Massive mostra que aprendeu com os erros do passado e entrega um título que é fruto do que queriam os fãs do primeiro game da franquia. A jogabilidade refinada continua e a grande quantidade de conteúdo, além de mudanças pontuais nos sistemas, fazem de "The Divison 2" um título recomendável para todos os fãs do gênero.
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