Análise - "Rage 2": desligue o cérebro e aperte o gatilho
Sabe aquele tipo de jogo profundo, como "Hellblade", que faz você refletir sobra a vida? Ou um "Red Dead Redemption 2", que traz novidades que vão ser discutidas até anos depois do lançamento? Bem, "Rage 2" (PC, PS4 e Xbox One) sabe que não é nenhum desses jogos, e esse é o seu maior mérito.
O game desenvolvido em conjunto pela Avalanche Studios (de "Just Cause" e "Mad Max) e a lendária id Software (de "Doom" e "Quake") deixa claro desde o início que sua missão é divertir o jogador. É aquele tipo de jogo que você vai ligar para desestressar, atirar em barris vermelhos explosivos e fazer coisas absurdas sem se importar com as consequências.
Para cumprir seu compromisso, "Rage 2" lança mão de alguns truques, e falaremos deles adiante. Ao mesmo tempo em que o jogo reúne as principais qualidades das duas desenvolvedoras (explosões e jogabilidade precisa), ele também carrega algumas limitações dessa parceria.
Mad Max, é você?
"Rage 2" tem traços de "Mad Max", e eles não são poucos: a ação se passa em um mundo pós-apocalíptico, com batalhas motorizadas são frequentes e em que inimigos são, digamos, estranhos. E a violência reina.
Você tem a opção de escolher o sexo do seu personagem logo de cara e, em questão de minutos, já estão com armas em mãos. O "tutorial" é uma batalha de grandes proporções que já dá a tônica do que virá nas horas seguintes.
Independentemente da escolha que você fizer no início, os acontecimentos são os mesmos: você é Walker, que acaba se tornando um "ranger", espécie de soldado que utiliza um traje especial que garante superpoderes, como pulos duplos e movimentos especiais.
A ideia é que você destrua uma organização chamada Autoridade, cujo caráter opressor é simbolizado pelo general Martin Cross, que já era a antagonista no primeiro game da franquia. Para isso, cabe a Walker entrar em contato com personagens-chave que participaram do confronto anterior e, com isso, encontrar meios de deter a Autoridade. Não, não é uma história cativante ou com momentos épicos: tem horas que ela parece estar ali apenas para cumprir tabela.
Por falar nisso, fique tranquilo: é possível cair de paraquedas em "Rage 2" e não ficar boiando na história, mas fizemos um pequeno resumo para facilitar a sua vida.
Mundão velho sem porteira
Como "Rage 2" é um jogo de mundo aberto, você tem uma certa dose de liberdade para escolher a ordem das atividades paralelas a serem cumpridas. Então pode ir se acostumando com a ideia de ter um mapa recheado de pontos de interesse. Não chega a ser um exagero de atividades a ponto de tirar o seu foco, mas o suficiente para afastar o tédio.
Em geral, são atividades que você já cumpriu antes em outros jogos: liberar um determinado espaço da presença de inimigos, destruir certas estruturas ou explodir comboios de veículos inimigos. Há uma ou outra atividade diferente, mas que são repetitivas.
Para circular pelo mapa, você pode usar uma boa variedade de veículos. Além do modelo principal, chamado Fênix e que pode ser aprimorado, há outros tipos de veículos com características bem distintas. Uns são mais rápidos, outros são mais resistentes e com armas potentes.
Esses passeios tinham tudo para serem chatos, porém a impressão é que sempre tem algo acontecendo: você vai cruzar com outros carros a fim de disputar uma corrida, com inimigos que podem estar no acostamento ou bloqueando a estrada e assim por diante. São situações que ajudam a quebrar a monotonia, ainda que elas se repitam com frequência.
O mundo é aquilo que se espera dele: um cenário desolado, com construções caindo aos pedaços e cidades que são mais um aglomerado de pessoas do que, necessariamente, um lugar aconchegante. A sensação de desolação é algo que "Rage 2" transmite bem.
Jogabilidade: onde mora a diversão
Alguns dos defeitos citados acima, como atividades repetitivas e história genérica acabam sendo compensados pela jogabilidade de "Rage 2".
Há uma variedade decente de armas, cada uma com árvore de habilidades própria. O mais importante é que cada uma se mostra útil em situações distintas, e elas acabam mudando sua forma de jogar.
A parte mais bacana de "Rage 2" é que ele incorpora a ação vista no "Doom" de 2016 - mesmo não usando a mesma engine, mas sim o motor gráfico de mundo aberto da Avalanche, o Apex. Abordagens táticas ou furtivas até podem ajudar em poucos momentos, mas a ideia principal aqui é partir para cima e com vontade de atirar em tudo.
Há opções de armas para distâncias médias e longas, mas eu, particularmente, prefiro encarar as situações do jogo com uma abordagem mais, digamos, próxima. Nessa hora, as habilidades entram em cena e ajudam a controlar multidões.
O Wingstick, uma espécie de bumerangue de três pontas, é arma característica da série, e bastante importante. Quando você o combina com granadas, habilidades e, claro, as armas convencionais, é sinal de que está falando a língua de "Rage 2".
A vantagem desse sistema de combate é permitir que os jogadores encontrem meios diferentes de superar os mesmos desafios. Há ainda uma espécie de "super", chamada Overdrive (Sobremarcha, em português). Uma vez ativado, ele muda algumas características das armas - normalmente, aumentando o poder de devastação.
Seja de maneira agressiva e com ou sem o Overdrive ativo, o combate de "Rage 2" é extremamente satisfatório.
Bom, mas poderia ir além
"Rage 2" não é, exatamente, um primor técnico. Sim, o visual é bonito e o som é competente (inclusive com uma boa dublagem em português do Brasil), mas ele não será o game mais bonito que você já viu.
As ações, por sua vez, ocorrem de maneira fluida, com exceção do menu do jogo, que é bem lento. A inteligência artificial dos inimigos não os salva de cometerem atos suicidas, assim como a física deixa passar um ou outro bug. Nada que comprometa o resultado final.
"Rage 2" é um game que diverte - e bastante! -, mas a impressão que fica é que faltou um pouco de ousadia para a dupla Avalanche e id Software. Uma vez que o game se apoia em jogabilidade e não em história ou novas mecânicas, seria interessante contar com mais momentos grandiosos.
Sim, há chefes a serem enfrentados e inimigos que fogem do padrão, mas eles são raros. Em um jogo cuja principal qualidade é possibilitar ao jogador ser uma espécie de "destruição personificada", é natural que você queira cada vez mais destruir coisas maiores, melhores e mais numerosas -- e que fique frustrado em algum momento.
"Rage 2"
Nota: 8/10
Desenvolvimento: Avalanche Studios
Publicação: Bethesda Softworks
Lançamento: 14/05/2019 (PC, PS4, Xbox One)
Preço sugerido: R$ 199,00 (edição padrão), R$ 269,00 (Deluxe Edition)
Idioma: Texto e dublagem em português brasileiro
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