WhiteLotus: Ansiedade e medo de um "hermano" jogando LoL no Brasil
O argentino Matías "WhiteLotus" Musso foi campeão brasileiro de "League of Legends" com a INTZ, na Primeira Etapa do CBLoL 2019, e, atualmente, está brigando pelas primeiras posições com o time da Redemption na Segunda Etapa do torneio.
São feitos admiráveis para quem está no país há poucos meses. Porém, se hoje o atirador é só sorrisos e Quadra Kills, no começo ele passou por um período tenso por não conseguir se comunicar direito com quem estava ao seu redor.
Eu ficava muito mal, sentia ansiedade, algo que não tinha sentido nunca na minha vida, uma coisa estranha no peito. Se alguém me falava alguma coisa, eu não entendia.
WhiteLotus
O argentino se afastou da família e do filho, de apenas dois anos, para jogar "League of Legends" no Brasil. Ele quase foi embora, mas resolveu ficar e, hoje, vive um ótimo momento por aqui.
No entiendo!
WhiteLotus queria jogar no Brasil há bastante tempo. O amor pelo país começou quando ele vestia a camisa da antiga Lyon Gaming, do México, e sentiu o calor da torcida brasileira em sua participação no International Wildcard Qualifier 2016, que rolou em Curitiba.
"Eu via como as pessoas torciam para o meu time, não sei bem por quê", diz. Ele não sabe, mas a gente sim: WhiteLotus joga pra caramba e foi considerado o melhor atirador do torneio, realizando jogadas como essas:
É claro que times brasileiros se interessariam por ele, mas o que o impedia de jogar por aqui era justamente a barreira da língua. Até que, no final de 2018, o argentino venceu o medo e aceitou o convite para ser o atirador na INTZ.
Logo quando chegou, porém, a situação se mostrou pior do que ele pensava. "Esse começo foi bem difícil, porque não conseguia falar e transmitir o que queria fazer no jogo e fora também, porque é chato conviver com pessoas que não falam sua língua."
As dificuldades de comunicação com o time pesaram no desempenho dos jogos. WhiteLotus até começou como titular no CBLoL 2019, mas perdeu o lugar para Guilherme "Mills" Conti e passou a ser pouco usado nas rodadas. Das sete vezes em que Whitelotus jogou pela INTZ, o time perdeu em cinco.
Quem já tentou trocar um papo com nativos na língua espanhola sabe o quão difícil (e até estressante) é tentar se comunicar, mesmo com os idiomas tão parecidos. Imagina, então, existir essa barreira em um jogo em equipe como é "League of Legends". Draft errado, uma call mal-entendida, cinco pessoas tentando se coordenar sob pressão. Tudo pode ser prejudicado por causa da comunicação.
A psicóloga Airini Bruna, que trabalha com a Redemption, conta como, nesses casos, o trabalho do time com um atleta estrangeiro é importante. "Com o grupo, é preciso trabalhar a questão do respeito e a compreensão de uma cultura diferente, com o objetivo de fazer com que o jogador de fora se sinta acolhido e compreendido".
Foi isso o que a INTZ fez. Ou pelo menos tentou. Para melhorar o entrosamento com Whitelotus, os jogadores e comissão técnica passaram a só se comunicar em inglês, mas não deu certo. Com o argentino como o único estrangeiro na equipe, era melhor eles arriscarem no "portunhol".
Sem conseguir se comunicar direito, e sozinho em um país que não conhecia, não foi à toa que ele pensou em ir embora.
Se tivessem me dado a chance de voltar (a jogar em time da Latam) nesse período eu teria aceitado
WhiteLotus
Segundo a psicóloga da INTZ, Natália Zakalski, que conversou bastante com Whitelotus nesses momentos ruins, jogadores estrangeiros exigem um cuidado psicológico maior, por causa das dificuldades de adaptação, seja com costumes ou com a língua.
"Seria ideal que o acompanhamento psicológico fosse mais próximo, principalmente em sua chegada e início dos trabalhos", conta a psicóloga. "É um momento de adaptação de todos, então é importante alguém para mediar e elaborar as questões que ocorrem neste momento. Estar fora da sua zona de conforto pode ser bastante estressante, então é necessário atenção nesses casos".
Aos poucos, WhiteLotus foi aprendendo a falar e entender português com o convívio do dia-a-dia, mas o seu lugar na INTZ já estava comprometido. Em entrevistas, ele não faz segredo de que não se sentia mais confortável com a equipe.
Mesmo sendo campeão brasileiro com o time, ele sentia que podia fazer mais. Foi por isso que ele decidiu continuar no Brasil para a Segunda Etapa do CBLoL 2019, agora pela Redemption.
Logo no primeiro jogo, o argentino enfrentou justamente a INTZ e a "lei do ex" foi posta em prática. WhiteLotus não só ganhou como foi escolhido o melhor da partida, com oito abates, só uma morte e sete assistências.
Agora em boa fase, o atirador só continua com saudades de casa. Nas férias entre as duas etapas do CBLoL, ele conseguiu dar um pulo até sua cidade, Córdoba, para comer um churrasco com a família e rever o filho pequeno. Quando pergunto se ele se arrepende de ter ficado no Brasil, a resposta vem sem hesitar:
"Eu decidi continuar no Brasil porque não queria ir embora e deixar essa minha imagem ruim. Eu quase não joguei na INTZ e quis dar uma chance mais para me provar aqui no Brasil", conclui em português claro.
Atualmente, a Redemption divide a liderança do CBLoL com Flamengo, KaBuM e paiN Gaming, todos com 3 vitórias e 1 derrota. Neste final de semana, WhiteLotus e os companheiros vão enfrentar paiN e CNB, e você pode acompanhar as partidas a partir do site oficial do CBLoL.
Lost in Translation
WhiteLotus não está sozinho ao sentir dificuldade em se comunicar. Outros jogadores estrangeiros também sentem a barreira do idioma. É aquele primeiro baque que deixa todos confusos.
O coreano Eui-seok Choi, o "Wiser", que joga na KaBuM, fala que acostumar-se com o português está sendo mais difícil do que esperava. "Não chega a me deixar desconfortável, e com um pouco mais de prática deve ficar mais fácil (de entender), mas está sendo mais difícil se adaptar a isso do que à cultura diferente".
Já o sérvio Dusan "Ryuzaki" Petkovic, da Team One, que está poucos mais de um mês no Brasil, tomou um susto com a nossa língua. "Eu esperava que algumas pessoas pelo menos falassem e entendessem mais inglês por aqui", diz o caçador.
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