A presença maldita (e invisível) de A Bruxa de Blair nos games
O filme A Bruxa de Blair foi um fenômeno de proporções únicas em 1999. O primeiro viral, nos primórdios da internet, chocou uma geração inteira, seja pela maneira como se autopromoveu, colocando seus personagens como pessoas reais e desaparecidas, seja no formato do filme em si. O gênero "found footage", ou "material encontrado", já havia sido usado antes (como no seminal e extremo "Holocausto Canibal"), mas não da forma acessível, rústica e "gente como a gente" do filme de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez.
E é claro que a influência do filme se estendeu também aos videogames, de forma direta ou velada. Na lista a seguir, separamos alguns jogos que, de alguma forma, mantém o espírito subversivo e maldito de A Bruxa de Blair vivo.
Mas antes, um aviso: não se tratam de jogos assumidamente inspirados pelo filme (com exceção de alguns mais evidentes) por parte de seus criadores, mas sim que, em nossa opinião, evocam os sentimentos de medo e desespero trazidos pelo seminal filme de terror. Apague as luzes e vamos em frente!
OUTLAST
Lançamento: 2013 (PC, PS4, Xbox One, Switch)
Desenvolvimento: Red Barrels
Como começar essa lista de outra forma? "Outlast" é, sem dúvida nenhuma, o jogo de terror mais popular dos últimos anos. Apesar de sua continuação não atingir os mesmos tons de desespero do original, a jornada infernal do jornalista Miles Upshur no sanatório Mount Massive foi algo traumático para muita gente. Com câmera na mão e a melhor das intenções, expor os absurdos cometidos naquele pedaço de inferno na terra deixa de ser importante quando sua vida está em perigo a cada passo. Richard Trager e Chris Walker já têm posição de respeito no bestiário dos games. Aguardamos ansiosos pelo novo projeto dos desvairados da Red Barrel.
SLENDER: EIGHT PAGES
Lançamento: 2012 (PC)
Desenvolvimento: Parsec Productions
Na era da creepypasta, Slenderman segue como uma das figuras mais famigeradas e proeminentes. Gosto de pensar na importância de A Bruxa de Blair para a explosão da creepypasta enquanto formato e alcance. Recomendo enormemente aquele documentário da HBO, Cuidado com o Slenderman, só para ter uma ideia da dimensão da coisa. "Slender: Eight Pages" surgiu como um "free-to-play" para PC em 2012 e, assim como o monstro criado na internet, assustou um sem fim de jogadores. "Eight Pages" deu origem a "The Arrival", criado numa parceria entre o game designer Mark J. Hadley (o mesmo de "Eight Pages") e Eric Knudsen, o criador da creepypasta. Trata-se de um jogo mais robusto, com trama e diferentes estágios. Do fórum Something Awful para o (sub)mundo.
SEPTEMBER 1999
Lançamento: 2018 (PC)
Desenvolvimento: 98DEMAKE
Cinco minutos e 30 segundos do seu tempo, é tudo que peço. "September 1999" é o mais "found footage" desta lista, e também um dos mais interpretativos e polarizados. Cria do Youtuber 98DEMAKE, famoso por suas versões velhas de jogos novos, "September 1999" assume o quadro de handcam da época e nos coloca, sem qualquer tipo de explicação aparente, trancafiados num apartamento. É grátis, então sugiro que você experimente ao menos uma vez: pode ser que surta efeitos dos mais variados.
BLAIR WITCH VOLUME I: RUSTIN PARR/VOLUME II: THE LEGEND OF COFFIN ROCK/VOLUME III: THE ELLY KEDWARD TALE
Lançamento: 2000 (PC)
Desenvolvimento: Terminal Reality/Human Head Studio/Ritual Entertainment
Por muitos anos, A Bruxa de Blair foi o maior custo-benefício do cinema: US$ 60 mil de custo para mais de US$ 248 milhões de renda. É claro que houve uma continuação na forma do horrendo O Livro das Sombras, no ano seguinte. Junto, o mundo multimidiático: HQs, livros, documentários e, claro, jogos. Uma trilogia um tanto quanto obscura foi lançada para PC, e cada segmento era criado por uma desenvolvedora distinta.
Os games seguem a linha das cópias nada inspiradas de "Resident Evil" e "Alone in the Dark" do final dos anos 90, só que cumpre seu papel em explorar mais do folclore criado por Eduardo Sánchez e Daniel Myrick, os idealizadores do filme original. Quem foi Rustin Parr? O que aconteceu em Burkittsville nos anos 1940? Quem foi de verdade Elly Kedward, a dita Bruxa de Blair?
THE POWER DRILL MASSACRE
Lançamento: 2015 (PC)
Desenvolvimento: Puppet Combo
Há vida além do Steam, Epic Store, Origin ou seja lá qual for sua loja virtual preferida no PC. Conhece a itch.io? Tem muita coisa de terror por aqueles lados, como "The Power Drill Massacre". É o terror de VHS na mais pura essência, remetendo diretamente a velharias do primeiro PlayStation, especialidade do desenvolvedor Puppet Combo. Cada aspecto é contemplado: carro que quebra na estrada à noite, cabana fétida no meio da mata, assassino demente portando ferramenta ameaçadora. Ele é bem inspirado em slashers oitentistas, e aí eu pergunto: o que você acha que Eduardo Sánchez e Daniel Myrick assistiam quando moleques? É o eterno ouroboros.
ANATOMY
Lançamento: 2016 (PC)
Desenvolvimento: Kitty Horrorshow
Na mesma linha de Puppet Combo, Kitty Horrorshow segue na marginalidade dos jogos de horror, e sua obra-prima atende pelo nome de "Anatomy". Quando joguei pela primeira vez, associei imediatamente aos momentos finais de A Bruxa de Blair, com Heather e Mike naquela casa horrorosa no meio do mato. "Anatomy" é mais suburbano, mas a desgraceira caminha de mãos dadas.
DREADOUT
Lançamento: 2014 (PC)
Desenvolvimento: Digital Happiness
Horror oriental é um terreno bastante particular, e cada país aprofunda ainda mais as peculiaridades. "DreadOut" (que, inclusive, recebeu adaptação cinematográfica recentemente) vem da Indonésia e coloca um grupo de estudantes vivendo maus bocados, perdidos durante uma excursão aos confins da cidade. A handcam dá lugar à câmera do celular e a bruxa, a entidades folclóricas locais (sabe o que é um Pocong? Não recomendo pesquisar madrugada adentro). A inspiração máxima aqui é "Fatal Frame", e a conexão é mais espiritual mesmo, meio que literalmente.
RESIDENT EVIL 7: BIOHAZARD
Lançamento: 2017 (PC, Xbox One, PS4, Switch)
Desenvolvimento: Capcom
Caso você tenha experimentado a primeira hora de "Resident Evil 7 Biohazard" e não tenha associado, imediatamente, com A Bruxa de Blair, então temos um problema bem sério. A mudança na perspectiva segregou, mais uma vez, os fãs da franquia. Independentemente disso, algo é incontestável: o cenário onde o jogo se passa é nada além de espetacular. O design da casa dos Bakers é primoroso, uma obra-prima do terror mesmo. "Resident Evil" tem ligações fortes com o terror de VHS, ou melhor, de tinta de fita, e essa parte sete fez jus a tais origens.
CRY OF FEAR
Lançamento: 2012 (PC)
Desenvolvimento: Team Psykskallar
Nascido como um mod da engine do primeiro "Half-Life", "Cry of Fear" é horror de sobrevivência de qualidade, cortesia do Team Psykskallar. Apesar de o cenário ser urbano, composto, essencialmente, de becos escuros habitados por gente degenerada, são as sequências de pesadelo que trazem todo fator psicológico à tona. E uma questão muito debatida acerca de A Bruxa de Blair diz respeito à influência da mata de Burkittsville sobre os três documentaristas. Tudo aquilo é mesmo real?
LAYERS OF FEAR
Lançamento: 2016 (PC, Xbox One, Switch, PS4)
Desenvolvimento: Bloober Team
Ansioso por "Blair Witch"? O novo jogo da Bloober Team chega dia 30 de agosto e se passa em 1996, dois anos após os fatídicos eventos do filme. Como preparação a esse pesadelo, "Layers of Fear" parece ideal, tanto para mostrar do que esses desenvolvedores poloneses malucos são capazes, quanto para já ir se adaptando à ideia do terror de modificação dos cenários. É a loucura tão concreta quanto o chão que você pisa. Burkittsville, Maryland, nunca esteve tão próxima e nunca antes pôde ser explorada de forma tão íntima e pessoal. Será a Bruxa de Blair tão real quanto eu ou você?
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