O horror de Lovecraft nos games
Quando existe uma tag dedicada a um autor de horror, temos, sim, uma premonição do fim dos tempos. O gênero "Lovecraftiano" é realidade no Steam, mas a verdade é que os tentáculos ardilosos do escritor Howard Phillips Lovecraft atingiram os videogames de forma absolutamente irreversível já há algum tempo.
Seja de forma tacanha, seja de forma explícita, a influência de seus mitos, insanidades e criaturas inomináveis impregnou o mundo multimidiático. Contribui o fato de Lovecraft ter se tornado domínio público há uns anos - aquele Call of Ktulu do Metallica, que o diga. Sim, vivemos a banalização de Lovecraft e para coroar tal constatação, criamos uma ardilosa lista com dez daqueles que consideramos as experiências definitivas dedicadas ao autor, em videogames.
CALL OF CTHULHU: DARK CORNERS OF THE EARTH
Lançamento: 2005 (PC, Xbox)
Desenvolvimento: Bethesda Softworks
Tão traumatizante quanto os pesadelos de Lovecraft, foi a concepção de um dos mais simbólicos jogos da lista. Foram vários adiamentos, mudanças de distribuidora e até o cancelamento da versão de PS2. Fazendo uso, já no título, de um dos mais populares contos do escritor, "Dark Corners of the Earth" leva seu protagonista, o detetive Jack Walter, à loucura. Literalmente. O sistema de sanidade presente criou uma revolução tímida na época. Encarar o inenarrável não vem sem custo. Porque o abismo encara de volta. Sempre.
LOVECRAFT'S UNTOLD STORIES
Lançamento: 2019 (PC, Switch, Xbox One, PS4)
Desenvolvimento: Blini Games
O mais recente dos jogos da lista vem diretamente da Rússia e é também o título de estreia do estúdio Blini Games, o que o torna ainda mais admirável. São vários personagens controláveis, indo de bruxas a ladras e até uma aberração na forma de ghoul, e diversos cenários presentes nas obras de Lovecraft, como Innsmouth, a decrépita cidade portuária em Massachusetts. Encarar os Seres Ancestrais é o objetivo central. Tenha muito, muito medo de Nyarlathotep, o Caos Rastejante. O gameplay, à primeira vista, pode lembrar um desses twin-stick shooters com geração procedural de cenários, mas não se engane! Há muita profundidade e demência em "Lovecraft's Untold Stories".
CONARIUM
Lançamento: 2017 (PC, PS4, Xbox One)
Desenvolvimento: Zoetrope Interactive
"Conarium" não quer homenagear Lovecraft, mas sim dar continuidade ao conto Nas Montanhas da Loucura. No famigerado formato FPX, nosso protagonista com amnésia explora uma base científica na Antártida, isso depois de a equipe do geólogo William Dyer ter sido obliterada pelos alienígenas shoggots. Aqui é uma boa hora para apontar o quanto Lovecraft era mecanicista em suas histórias, com zero espaço para superstição. Aliás, o estúdio turco Zoetrope Interactive talvez seja o mais apaixonado pelo escritor, pois dedicam todos os seus jogos a ele, de uma forma ou de outra.
BLOODBORNE
Lançamento: 2015 (PS4)
Desenvolvimento: FromSoftware
Hidetaka Miyazaki, o lendário game designer criador de "Dark Souls", deve gostar muito de terror. Ou de uma fantasia medieval bem puxada para a desgraça. "Bloodborne" avança alguns séculos e traz o cósmico e o industrial aos seus fundamentos. O sangue como cura, o divino como espacial - é horror gótico em essência, mas com o toque indizível de Lovecraft. Amygdala já pode ser considerada uma cria de Cthulhu? Sem dúvida nenhuma.
THE LAST DOOR
Lançamento: 2013 (PC, iOS, Android, Xbox One, PS4, Switch)
Desenvolvimento: The Game Kitchen
"The Last Door" foi concebido de forma muito curiosa, em que cada capítulo só aconteceu graças a doações ofertadas no capítulo anterior, via Kickstarter. E foram duas temporadas, com quatro episódios cada. É o jogo da produtora espanhola The Game Kitchen que resgata o point 'n click, a pixel art e o terror ritualístico, de pactos e seitas. É gótico nos seus cenários, personagens e romantização de suas condições hediondas. E sempre bom lembrar: Ph'nglui mglw'nafh Cthulhu R'lyeh wgah'nagl fhtagn!
AMNESIA: THE DARK DESCENT
Lançamento: 2010 (PC, Xbox One, PS4)
Desenvolvimento: Frictional Games
Eis aqui o grande responsável pela revitalização do horror nos anos 2010. "Amnesia: The Dark Descent" trouxe a ideia do protagonista indefeso à tona, concebida anos antes, no clássico obscuro "Clock Tower", de Hifumi Kono. Não há como confrontar a odiosidade que nos persegue pelos corredores frios e escuros do castelo onde o jogo se passa, e a mera visão de tal vil criatura já é suficiente para abraçar a insanidade.
"The Dark Descent" deu início à era do gameplay cheio de gritos e desespero, Youtube afora. Isso sem contrar cada cena incrível ocasionada pelas Custom Stories, com código do jogo aberto a quem quisesse criar sua própria versão de "Dark Descent". Qual será o próximo jogo da Frictional Games? Não vejo a hora.
ALONE IN THE DARK
Lançamento: 1992 (PC, 3DO)
Desenvolvimento: Infogrames
O primogênito. "Alone in the Dark" não é, essencialmente, o primeiro jogo de horror, mas é, sem dúvida nenhuma, aquele que colocou o gênero como foco, tanto do gameplay, quanto da trama. "Resident Evil" cunhou o termo "horror de sobrevivência" e popularizou o terror como gênero concreto de videogame, mas tudo isso graças ao caminho pavimentado por "Alone in the Dark", e que é, assumidamente, inspirado em Lovecraft. Saudades Infogrames, saudades Frédérick Raynal no terror. Se bem que Raynal encabeçou "2Dark", lançado há alguns anos, com temáticas bem pesadas, tipo contrabando de crianças?
THE LURKING HORROR
Lançamento: 1987
Desenvolvimento: Infocom
Adventures de texto podem ser assustadores, e "The Lurking Horror" é a prova. Escrito pelo veterano Dave Lebling, da trilogia "Zork", ele foi assumidamente inspirado não só nos Mitos de Cthulhu, mas também em Stephen King, afinal, ninguém pôde escapar do mestre anos 80. Ficou para sempre marcado no vasto catálogo de ficção interativa da lendária desenvolvedora Infocom, pois foi seu único terror lançado. E o efeito é tão poderoso para quem mergulha nessa história quanto para o incauto estudante na G.U.E. Tech, tarde da noite naquele maldito campus.
DARKWOOD
Lançamento: 2017 (PC, Switch, Xbox One, PS4)
Desenvolvimento: Acid Wizard Studio
Respeite a floresta. Essa é a conversa dos três suecos da Acid Wizard Studio, criadores de "Darkwood", com quem se atrever a adentrar seus domínios. Terror em videogame está muito atrelado ao quanto valorizamos a vida de nosso personagem, ao quanto tememos as adversidades daquele mundo. "Darkwood" é um jogo de sobrevivência e rotina, onde o dia é mera preparação da noite destruidora, onde pesadelos tomam forma e a luz do lampião é seu único refúgio. É a forma mais primordial de medo, o medo do desconhecido. E isso é tão Lovecraft que chega a doer minhas vísceras.
ETERNAL DARKNESS: SANITY'S REQUIEM
Lançamento: 2002 (GCN)
Desenvolvimento: Silicon Knights
A Nintendo e seus consoles nunca foram lá muito conhecidos por seus jogos de terror, daí que "Eternal Darkness" como exclusivo de GameCube e ainda com produção da própria criadora do Mario em parceria com a Silicon Knights foi nada além de surpreendente. O jogo começa citando Edgar Allan Poe, uma das maiores inspirações de Lovecraft. "Eternal Darkness" foi muito ambicioso para a época, com suas loucuras incorporadas no gameplay (tipo quando abaixava o volume da TV), diversos protagonistas e cenários, como a Pérsia antiga, uma catedral na França e um templo no Camboja.
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