Control: colisão de mundos em uma viagem fantástica
Resumo da notícia
- Jogo é a nova criação da Remedy, mesmo estúdio de "Max Payne", "Quantum Break" e "Alan Wake"
- A heroína Jesse Faden acaba se aventurando no Departamento Federal de Controle para investigar o desaparecimento do irmão
- Jogo sabe dosar muito bem combate, exploração e desenvolvimento de enredo
- Textos traduzidos para o português ajudam o jogador a se aprofundar na trama
Quando a produtora finlandesa Remedy surge com uma nova propriedade intelectual, é hora de prestar atenção. No caso de "Control", sci-fi de ação para Xbox One, PS4 e PC, atenção redobrada, pois o ambicioso título marca um novo estágio para o estúdio de "Max Payne", "Alan Wake" e "Quantum Break".
Nessa fase avassaladora de super-heróis nos cinemas que vivemos de uns anos para cá, "Control" se prova ainda mais relevante, com muito a dizer e, em especial, com estrutura de jogo bastante correspondente à proposta, algo um tanto quanto difícil de se fazer, ainda mais no saturado gênero do tiro em terceira pessoa.
Antiga Casa, Novas Responsabilidades
"Control" abraça o surreal logo nos primeiros minutos. Nossa protagonista, Jesse Faden (com voz e mocap da atriz Courtney Hope), chega até a sede do Departamento Federal de Controle seguindo ordens de uma entidade que existe dentro dela. Foi consentido, a relação entre ambas as partes é saudável e rola até um sentimento de prosa entre personagem e quem joga, mas não. A busca incessante de Jesse por Dylan, seu irmão, é tudo o que importa.
Acontece que a sede, com arquitetura marcante no estilo brutalista, repleta de arestas e ângulos de 90 graus, está em colapso. Tem vontade própria e está descontrolada, no coração de Nova York. Uma outra realidade colide com a nossa, e do atrito entre planos surge o dito "Ruído", a ameaça em "Control". É a entidade inexplicável que forçou o diretor (até então vigente) a tirar sua própria vida e que colocou Jesse nessa posição de poder, de súbito. E ela está tão perdida nisso tudo quanto você.
"Control" mistura muitas formas de se contar uma história em videogame - vai das batidas cutscenes, até uma quantidade absurda de documentos espalhados pelos cenários e sequências em FMV projetadas nas paredes ou transmitidas em TVs antigas. Marca da Remedy: expandir seu universo dentro de si mesmo, oferecendo muito conteúdo a quem estiver disposto a procurar, e sem custo extra no processo.
Aliás, o departamento parece estacionado nos anos 1970 e isso não vem sem motivo, pois o choque entre períodos históricos também acrescenta a atmosfera estranha que embala a jornada de Jesse desde o primeiro minuto. É quase subliminar. É uma forma de controle de audiência, o que é genial dentro da proposta do jogo, que sabe dosar muito bem combate, exploração e desenvolvimento de enredo.
Jesse Faden, a sua verdade está lá dentro
Caso Jesse não fosse uma personagem interessante e instigante, "Control" teria um sério problema. Felizmente, a realidade é o total oposto e temos na recém-condecorada diretora do Departamento de Controle uma personalidade marcante, que esconde um passado sombrio e sabe revelar o que é preciso, a quem é preciso. Dylan é seu ponto fraco e sua motivação é a pura revolta contra o Departamento que agora ela precisa salvar da total aniquilação. Qualquer semelhança com a trilogia Comando Sul, de Jeff Vandermeer, não é mera coincidência, como a própria roteirista do jogo contou em entrevista ao START.
De sua sala, Jesse herda sua nova Arma de Serviço, que também é um objeto de poder, ou seja, um canal entre este e o outro "lado". "Control" é didático dentro de suas estranhezas, que são mais galgadas em realidade do que você pode imaginar. A arma básica de Jesse, e que só ela pode utilizar, transforma-se quando em harmonia com partes do Ruído adquiridas dos confrontos. A força sobrenatural possui o inanimado, mas também organismos vivos. O RPG aqui é bem-vindo, e segue a progressão natural da narrativa e dos poderes adquiridos por Jesse, que a tornam uma máquina de combate, uma super-heroína num curto espaço de tempo. Com poucas horas de jogo, você arremessará concreto armado contra seus adversários, levitará pelos cenários e controlará a mente daqueles dominados pelo Ruído, forçando-os a lutar ao seu lado. É uma sinfonia superpoderosa, e a Antiga Casa é o palco ideal para a destruição controlada e o caos contido. Como havia dito antes, ela tem vontade própria e pode curar a si mesma.
Com poucas horas de jogo, você arremessará concreto armado contra seus adversários, levitará pelos cenários e controlará a mente daqueles dominados pelo Ruído
No entanto, "Control" tem sérios problemas de desempenho, como eu soube por relatos de amigos. Joguei no Xbox One X e foram raras as quedas de frame, bugs ou demais problemas, mas aconteceu, algo mais comum no PS4 e Xbox One bases. Não à toa, pois tudo, ou quase tudo, é passível de interação. Jesse pode arremessar cadeiras, mesas, computadores, extintores de incêndio e tudo mais que estiver ao alcance de sua força telecinética. Evidentemente, tudo passivo de evolução na já habitual árvore de poderes, no ponto de controle mais próximo.
A destruição, e seus efeitos, como fumaça, partículas e detritos, é impressionante visualmente. "Control" é um jogo muito bonito e a Antiga Casa oferece muitas variáveis a essa beleza arquitetônica. Visitar o Plano Astral a fim de adquirir novos poderes através de provações e objetos de poder, tipo uma TV de tubo ou uma geladeira, é uma bem-vinda quebra na estrutura de jogo, que vai na contramão de títulos antigos da Remedy e abraça as idas e vindas pelas diversas alas do Departamento. A navegação é ligeira, via pontos de controle, o que torna a experiência ágil e recompensadora, pois são diversos os objetivos extras atendidos de sobreviventes do Departamento. Até porque tais pontos são recobrados - tomados a força - do Ruído, como se estivéssemos colocando tudo em ordem. "Essa casa está limpa", diria aquela médium de "Poltergeist".
Jesse pode arremessar cadeiras, mesas, computadores, extintores de incêndio e tudo mais que estiver ao alcance de sua força telecinética
Aquele medo/fascínio pelo desconhecido
Há muito de aterrorizante pelos corredores e galerias da Casa Antiga. A presença do Ruído coloca as pessoas sob efeitos catatônicos e visualmente deslumbrantes, num verdadeiro "vocês todos vão flutuar aqui embaixo". O murmúrio é do lugar - a Antiga Casa conversa com Jesse, tipo num ritual de fanáticos religiosos. E o vermelho forte, vivo, embala o clima de terror. "Control" faz uso de cores fortes para guiar Jesse, mas também para enganá-la. "Não acredite em ninguém", já diria Fox Mulder. Especialmente naquele zelador que fala coisas estranhas, como em enigmas. Ou seria ele o único ponto racional daquele lugar? David Lynch saberia a resposta. E as referências são por minuto.
A Remedy conseguiu criar um universo com um forte poder de engajamento, tanto em concepção quanto em execução. Você vai entender os motivos da existência do Departamento Federal de Controle, quem diabos é a entidade que reside em Jesse e o que houve com Dylan. Vai viajar por outras realidades, assimilar ao seu vocabulário termos como "astralnauta", e vai aproveitar cada minuto disso, especialmente a já badalada sequência do corredor. É um tanto mais focado em ação do que eu gostaria no final das contas, até porque temos um ou outro quebra-cabeça aqui e ali, e eles são bons, e a exploração pela Antiga Casa, seja em qual realidade for, é uma das mais marcantes do ano.
Control
"Control" propõe uma história de herói combinada com elementos sobrenaturais e que escapam às explicações lógicas. Apesar de usar elementos já batidos para contar a história, ele ganha força com a protagonista Jesse Faden, a arquitetura envolvente e alguns momentos que já estão entre os mais marcantes do ano.
Lançamento: 27/08/2019
Plataformas: PC, Xbox One, PlayStation 4
Preço sugerido: R$ 114 (PC), R$ 240 (Xbox One), R$ 249,90 (PS4)
Desenvolvimento: Remedy Entertainment
Produtora: 505 Games
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