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Roteirista de "The Executioner" fala sobre tortura e liberdade nos games

Elena Sivakova, a roteirista em "The Executioner", jogo onde encarnamos um carrasco - Divulgação
Elena Sivakova, a roteirista em "The Executioner", jogo onde encarnamos um carrasco Imagem: Divulgação

Makson Lima

Colaboração para o START

27/09/2019 04h00

Tomar decisões nos games é algo que existe desde os primeiros adventures em texto, que tinham comandos escritos como "Abrir a porta" e "acender a vela". Às vezes, essa mecânica ressurge em algo explosivo, como na primeira temporada de "The Walking Dead", da Telltale, ou em "Life is Strange". E em outras vezes, ela pode dar um nó na sua cabeça.

"The Executioner", um jogo indie do estúdio russo Lesser Evil, tem uma proposta tão excêntrica quanto barra-pesada: você é um torturador num sombrio período da história da humanidade. Já imaginou o que vem por aí?

START entrou em contato com Elena Sivakova, a roteirista do jogo, para entender como foi escrever sobre um tema tão difícil.

START: "The Executioner" tem uma premissa tão pesada e original. Como surgiu a ideia?

Elena Sivakova: O projeto é muito querido para nós: é o primeiro jogo que faço com meu amigo Fuad. A ideia era dele. Veio do pensamento de pessoas que, no mundo moderno, têm que trabalhar como executores. Matam pessoas regularmente porque o governo as paga por isso. Portanto, essas pessoas devem ter alguns problemas psicológicos e existem alguns métodos para combatê-los. Por exemplo, existe um método de execução no Japão que funciona assim: três executores apertam os botões ao mesmo tempo e não sabem quem realmente matou a pessoa condenada. Mas há um certo tempo, execuções e torturas eram coisas comuns... Ou não? Então, tentamos olhar a situação com os olhos do carrasco. Como era a sua vida?

Criação de jogos é uma arte, uma mensagem social e cultural. Não temos como objetivo chocar nossos jogadores, mas mostramos toda a crueldade que a mensagem pode trazer
Elena Sivakova, roteirista de "The Executioner"

START: Você, como roteirista, participou do estágio de criação do jogo estruturalmente ou começou a escrever com a proposta já estabelecida?

Elena Sivakova: Trabalhamos em conjunto com o designer narrativo desde o início. Criamos um esquema, daí criamos a primeira versão dos textos do jogo e os alteramos cerca de um bilhão de vezes durante o desenvolvimento.

The Executioner Ficha - Divulgação - Divulgação
"Ficha" do prisioneiro resume o estado de saúde e traz o histórico de tortura
Imagem: Divulgação

START: Como é a indústria de jogos na Rússia? Há muita gente produzindo, programando, escrevendo? E como você entrou nisso?

Elena Sivakova: A Rússia não é um peixe grande no mercado dos jogos. Não temos uma grande indústria de jogos por aqui, mas há muitas pessoas que amam e criam por conta própria. Temos muitos desenvolvedores independentes, e você provavelmente conhece os maiores projetos de jogos russos: "War Thunder", "Caliber"? Eu caí nesse mundo quando ainda era estudante. Eu jogava RPG de mesa e às vezes escrevia textos para meus amigos. O hobby se tornou uma profissão e comecei a escrever textos para jogos de "business". Então, quando meus velhos amigos me sugeriram criar o estúdio para desenvolvermos nossos próprios jogos de computador, decidi que isso poderia ser a coisa mais lógica a se fazer.

Executioner 03 - Reprodução - Reprodução
O inventário nada convencional de "The Executioner"
Imagem: Reprodução

START: "The Executioner" é extremamente focado em texto, mais como uma aventura em texto das antigas ou um livro-jogo. De onde vem toda essa inspiração?

Elena Sivakova: Os livros-jogos, com textos e escolhas, vêm de nossa infância. Agora eu curto jogos baseados em textos, como "Sorcery!", e também jogos de tabuleiro, tipo "Apocalypse World", "World of Darkness", "7th Sea", "Savage Worlds" e muitos outros. E eu adoro a desenvolvedora Choice of Games, de jogos como "The Hero Project". Eles são um bom exemplo de que as pessoas de hoje em dia ainda gostam de ler! Nossos amigos aqui, na Rússia, criaram "Pathologic", que tem uma narrativa muito forte. Eles nos inspiraram muito.

START: Como foi sua pesquisa sobre a história da tortura, da execução? Tão mórbido quanto eu imagino? Você ficou abalada de alguma forma?

Elena Sivakova: Não gosto da parte da pesquisa no nosso processo de desenvolvimento. É brutal. Não posso dizer que quase desidratei de tanto chorar (mas, na verdade, chorei muito mesmo), e foi difícil viver com isso. Como historiadora, entendo muito bem que é uma parte essencial do passado da civilização. Não podemos fugir do que era o mundo séculos atrás. São muitas coisas desagradáveis. A história das torturas é uma pequena parte disso tudo. Portanto, temos muitos materiais para nossos jogos futuros.

Como historiadora, entendo muito bem que é uma parte essencial do passado da civilização. Não podemos fugir do que era o mundo séculos atrás
Elena Sivakova, roteirista de "The Executioner"

Executioner 4 - Reprodução - Reprodução
"Pathologic" serviu como fonte de inspiração
Imagem: Reprodução

START: Como é lidar com temáticas tão pesadas em videogame? Você foi censurada em seu texto de alguma forma ou pôde abordar o que queria e como queria?

Elena Sivakova: Tivemos algumas discussões difíceis na nossa equipe sobre o que poderíamos dizer ou não durante o jogo. Por exemplo, estupro é uma questão muito perigosa. Mas pensamos que criação de jogos é uma arte e, ao mesmo tempo, uma mensagem social e cultural. Não temos como objetivo chocar nossos jogadores, mas mostramos toda a crueldade que a mensagem pode trazer.

Executioner 02 - Reprodução - Reprodução
Decisões difíceis a todo momento
Imagem: Reprodução

START: O papel que desempenhamos em "The Executioner" é difícil. Vindo de uma linha de torturadores e executores, o protagonista segue os passos de seu pai. Como é escrever alguém tão frio e capaz de atos tão hediondos?

Elena Sivakova: Não foi fácil. Você, como jogador, deve ter a liberdade de escolher qual tipo executor será: um sociopata de sangue frio ou um homem sensível e infeliz que nasceu em uma família incomum? Theodor tortura as pessoas porque é o que ele faz da vida. Mas ele tortura com prazer ou com uma dor no coração? Você decide.

Theodor tortura as pessoas porque é o que ele faz da vida. Mas ele tortura com prazer ou com uma dor no coração? Você decide
Elena Sivakova, roteirista de "The Executioner"

Executioner 05 - Reprodução - Reprodução
A cidade onde a trama se desenrola
Imagem: Reprodução

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