BGS: Criador de Doom, John Romero quer voltar aos seus jogos de sucesso
Resumo da notícia
- John Romero falou com o START durante a Brasil Game Show 2019, em São Paulo
- Junto de John Carmack, ele marcou história com jogos como Doom e Quake, na desenvolvedora id Software
- Nativo-americano e de família pobre, Romero hoje mora com a família na Irlanda
- Chrono Trigger, Final Fantasy VI e Half-Life 2 estão entre seus jogos preferidos
Mais de 25 anos depois de entregar "Doom" para o mundo, John Romero não se cansa de falar do jogo. Sorte nossa, porque o game de tiro que popularizou o gênero FPS foi tema constante na nossa entrevista durante a Brasil Game Show 2019, que aconteceu entre 9 e 13 de outubro, em São Paulo.
Romero não tem nenhum envolvimento com "Doom (2016)" e o futuro "Doom Eternal", que foi adiado para 2020, mas ainda quer voltar a brincar com suas antigas criações. Em especial, ele revelou que gostaria de fazer novas fases para "Doom II" e "Quake", os dois últimos jogos que fez antes de sair da id Software, nos anos 90.
Em maio de 2019, Romero lançou "Sigil", um mod do primeiro "Doom" com nove fases criadas por ele e que serviriam como um capítulo 5 extra-oficial para o jogo. Antes disso, o desenvolvedor também já tinha feito algumas fases inéditas usando o criador de mapas do jogo.
Seria, então, uma indicação de que ele estaria disposto a fazer uma sequência espiritual retrô baseada em Doom? "Não, eu não faria um jogo retrô", responde Romero.
Se eu fosse fazer alguma coisa nova seriam fases para Doom II. Para Quake também seria ótimo
John Romero, criador de Doom
"(novas fases para) Quake é algo que estou pensando, as pessoas já pedem por tudo. Querem que eu faça fases do Hexen, esse tipo de coisa. Mas, para mim, Doom II é, provavelmente, o próximo que eu faria".
Só é bom não esperar algo tão cedo assim, já que Romero atualmente está bem ocupado ajudando a esposa Brenda Romero no desenvolvimento de "Empire of Sin", um jogo tático com temática de máfia e que, segundo o próprio John, será um dos melhores jogos que já fez.
Acompanhe a entrevista completa em que falamos com Romero sobre esses e outros assuntos, como a paixão dele por "Half-Life 2" e "Final Fantasy VI", o personagem preferido dele em "Overwatch" e por que ele não acha que a série de TV adaptando a biografia dele, Masters of Doom, não será tão boa assim.
START: Você não se cansa de falar e ficar respondendo perguntas sobre Doom?
John Romero: Não, nunca (risos). Tem muitas pessoas que estão conhecendo "Doom" agora por causa dos novos jogos. Isso faz com que elas olhem para trás e perguntem: "Quais eram os outros jogos de antigamente?" Aí elas descobrem como eram os primeiros jogos.
Eu não consigo imaginar como seria perguntar para meu artista preferido sobre minha música predileta e ele não falar disso. Isso seria horrível. Então, não, eu não tenho problema nenhum em falar dos jogos que eu fiz.
START: Muita gente gosta de adaptar Doom nos equipamentos mais estranhos, de caixa eletrônico a câmera fotográfica. Qual dessas adaptações mais te fascinou?
John Romero: No osciloscópio (instrumento para medir sinais elétricos) foi bem estranho. Alguém controlando "Doom" tocando piano, com as teclas que fazem o personagem atirar ou se mover (risos) foi incomum também.
START: Qual outro jogo FPS você acha que chegou mais perto de ser tão bom ou tão importante quanto Doom?
John Romero: Fora os jogos da id, acho que "Half-Life 2" é um dos melhores jogos de tiro já feitos. A narrativa é incrível, o tiro também. Ele coloca o jogador em uma viagem de montanha-russa durante o jogo todo e também introduz novas mecânicas de jogabilidade constantemente. Ele tem quebra-cabeças físicos pela primeira vez em um jogo de tiro e é incrível tentar resolvê-los para avançar para a próxima área. Ele simplesmente tem tudo que você esperaria no melhor filme já feito, sabe?
START: Você está esperando por Half-Life 3, então?
John Romero: (risos) Seria legal, bem legal se existisse "Half-Life 3", mas eu não ouvi nada indicando que ele seja real.
Se ele quiser fazer outro jogo e existir algum meio de fazermos isso, seria bem legal, porque ele é um ótimo programador.
John Romero, sobre criar um novo jogo com o John Carmack
START: Queria falar sobre Sigil, o jogo que você fez com fases criadas no editor de mapas de Doom. Você planeja continuar fazendo esses mods ou mesmo, quem sabe, um jogo novo, do zero, bem retrô, baseado no primeiro Doom?
John Romero: Não, eu não faria um jogo retrô. Se eu fosse fazer alguma coisa seriam fases para "Doom II". Para "Quake" também seria ótimo.
START: Isso é algo que está ainda no campo das ideias ou algo que vai realmente acontecer?
John Romero: Quake é algo que estou pensando, as pessoas já pedem por tudo. Querem que eu faça fases do "Hexen", esse tipo de coisa. Mas, pra mim, "Doom II" é, provavelmente, o próximo que eu faria. Mas também leva muito tempo para fazer (esses mods). "Doom II" tem 32 fases e isso é muito. "Sigil" tem nove da campanha e mais nove de Deathmatch, mas esses não contam, porque não dá para comparar com fases single player. Então... é, "Doom II" seria legal.
START: Você gostaria de fazer um jogo com John Carmack de novo? Acha que isso pode acontecer no futuro?
John Romero: Eu moro na Irlanda agora e eu não vou voltar para o Texas (nos EUA) para fazer um jogo (risos), que é onde John mora. Ele também está trabalhando em realidade virtual agora e não sei se ele ainda se interessa por jogos, se ele joga algo, porque ele está mais focado em desafios tecnológicos e resolução de problemas. Mas se ele quiser fazer outro jogo e existir algum meio de conseguirmos isso, seria bem legal, porque ele é um ótimo programador.
START: Você é conhecido por ser o "pai dos jogos FPS", mas existe algum game que surpreenderia as pessoas em saber que você gosta?
John Romero: Eu não sei se as pessoas ficariam surpresas, porque já falei algumas vezes sobre esse jogo, mas "Chrono Trigger" foi um game extremamente importante para mim, assim como "Final Fantasy". O "FF VI" é um jogo que adoro muito e que já terminei diversas vezes.
START: O seis é seu Final Fantasy preferido?
John Romero: Bem, eu gosto do "Final Fantasy VII" bastante também (risos). Na época todo mundo estava esperando pelo jogo. Eu lembro da demo que vinha no jogo "Tobal 2".
Chrono Trigger foi um game extremamente importante para mim, assim como Final Fantasy
START: O que você acha de Fortnite e outros jogos de tiro mais recentes?
John Romero: Eu já joguei Fortnite e, sim, acho ele um bom jogo... Eu gosto bem mais de "Overwatch", eu diria.
START: Qual seu personagem favorito em Overwatch?
John Romero: Hum... Eles ficam acrescentando personagens e não sei mais qual, mas acho que o meu preferido é aquela que tem asas, que cura as pessoas...
START: Mercy.
John Romero: Isso, Mercy! Eu gosto bastante de jogar com ela. Na verdade eu não tenho um que seja super preferido, mas ela é com quem eu jogo mais. Em "World of Warcraft" eu também sou um "healer" a maioria das vezes. Eu jogo com um Sacerdote Sagrado (Holy Priest) muito bom em curar uma grande quantidade de pessoas. Em qualquer jogo procuro ser o personagem que cura ou que dá mais dano (DPS), são os que mais gosto de pegar.
START: Masters of Doom é um livro que conta com bastante detalhe boa parte da sua vida na época da criação do jogo. Agora vão fazer uma adaptação do livro para uma série de TV. Você está envolvido de alguma forma com o projeto?
John Romero: Não, não tenho nenhum envolvimento com isso. E eu posso garantir que a história não vai ser tão boa quanto a do livro, porque sei que eles já juntaram duas pessoas para formar um só personagem e deram um nome qualquer. Então, eles já estão se desviando do livro antes mesmo de começar. Eu não espero que tudo o que mostrem seja real, pode ser só uma dramatização interessante de Masters of Doom.
START: Eduardo Franco, o ator escolhido para interpretar você na série, chegou a entrar em contato para conversar, tentar entender mais quem é John Romero?
John Romero: Não, mas se ele fizer isso eu aceitaria falar. Acho ele um bom ator. O cara que pegaram para interpretar Carmack também é realmente bom e se parece bastante com ele naquela época.
START: Você ainda pensa em voltar algum dia para Daikatana? Talvez fazer um remake ou mesmo uma sequência?
John Romero: Não, porque o processo de desenvolvimento de "Daikatana" foi um dos piores que já aconteceram na indústria e eu não acho que alguém gostaria de ter uma sequência ou remake dele.
Mas ainda existe muita gente que é muito fã de "Daikatana" e lança coisas novas constantemente. Existe uma versão 1.3 que saiu recentemente, depois de quase 20 anos do lançamento do jogo. Então, tem uma atualização agora que conserta todos os erros que existem no jogo. Isso é legal e quem fez foi uma equipe que ama "Daikatana" e quer consertar tudo que há nele.
START: Qual é o maior arrependimento que tem na carreira?
John Romero: Eu me arrependo de trazer mais duas pessoas como co-fundadores da Ion Storm quando eu comecei a empresa. Eu só deveria ter trazido Tom Hall, e seria isso. Deveríamos ser só eu e Tom, e tudo seria ótimo. Mas não foi isso o que aconteceu, e a história da Ion Storm se tornou insana.
A Ion Storm foi o estúdio fundado por Romero depois que ele saiu da id Software. Além dele, Tom Hall (amigo de longa data de Romero e também ex-funcionário da id), Todd Porter e Jerry O'Flaherty foram cofundadores da companhia.
START: Depois de ter feito um dos jogos mais influentes de todos os tempos e ter vivido como um rockstar, o seu próximo jogo é "Empire of Sin", um jogo tático sobre máfia, que você está desenvolvendo com sua esposa Brenda Romero em uma pequena cidade na Irlanda. Como você avalia seu momento atual tanto como criador de jogos quanto como pessoa?
John Romero: Pelo lado de criador de jogos, "Empire of Sin" é um dos melhores jogos que já fiz. Esse é o jogo da minha esposa. A ideia e o design são dela, ela queria fazer esse jogo há vinte anos. Foi ela quem propôs a ideia, e a publisher adorou. Então, estamos trabalhando nele há dois anos e meio e é um ponto realmente alto na minha vida agora, pelo lado criativo. Estou bem feliz com isso.
Como pessoa, me mudar para a Irlanda foi uma das melhores decisões que já tomei na vida. Pena que não fizemos isso antes, porque é um país incrível, as pessoas lá são ótimas e você não precisa estar em certos lugares para fazer jogos. É só ver como começamos a id Sofwatre em uma cidade de lixo nos EUA. É horrível. Você pode começar onde quiser.
Então, também escolhemos uma ótima cidade (para viver), todo mundo quer se mudar para lá. Também já existem pessoas na Irlanda que podemos contratar (para criar games), nem precisamos sair para buscar talento. A Irlanda possui ótimas companhias de tecnologia, ótimos programadores que já fazem engine de jogos por conta própria. Então é tudo de bom, nossos filhos adoram também, é um país excelente para eles.
O processo de desenvolvimento de Daikatana foi um dos piores que já aconteceram na indústria
START: Por falar em crianças, e como vai o jogo do seu filho?
John Romero: Sim, o Donovan, meu filho. Nós já terminamos de fazer o jogo, na verdade. Donavan veio com essa ideia de jogo quando ele tinha nove anos, e ele está com quinze anos agora. O jogo saiu já há uns dois anos e passamos bastante tempo produzindo. Ele se chama "Gunman Taco Truck" e está de graça para baixar no mobile, iOS e Android.
Não fizemos publicidade nenhuma sobre ele, e a Apple o escolheu para destacar na Apple Store por uma semana e ainda fizeram uma grande entrevista com Donovan para aparecer na loja. Eles realmente gostaram do jogo, e até hoje ainda entram em contato com a gente para falar a respeito.
START: Você é o criador de jogos mais famoso que também possui uma origem nativo-americana, dos povos Yaqui e Cherokee. Gostaria de saber como você se sente sobre essa herança e se isso teve ou ainda tem influência nos jogos que você faz.
John Romero: Eu me orgulho muito de representar esses povos, de ser um nativo-americano e demostrar que todo mundo pode fazer jogos, não importa de onde você vem, porque eu também vim de família bem pobre.
O que mudou tudo para mim foi estar em um outro ambiente, em que era exposto a computadores. E só precisou disso, porque nem tinha computador em casa, muito menos sabia programar. Com 11 anos eu ia para a universidade e começava a fazer perguntas (sobre como programar) e fazia tudo lá. Depois eu ia para qualquer loja de informática que me deixava mexer em computadores, só para programar. Assim fui ficando melhor, até que, finalmente, meus pais conseguiram comprar um computador para casa e isso demorou uns dois ou três anos para acontecer.
Com 14 anos já sabia que isso seria minha carreira, fui aprendendo a escrever códigos, depois a criar jogos e foi isso. Então, quanto mais pudermos expor crianças em áreas como essa, de programação, arte, criatividade, maior a chance de elas terem uma carreira muito boa.
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