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O pro-player aposentado de Halo que virou líder de games no YouTube

Lester Chen é hoje chefe de conteúdo para games no YouTube - Divulgação
Lester Chen é hoje chefe de conteúdo para games no YouTube Imagem: Divulgação

Bruno Izidro

Do START, em São Paulo

23/10/2019 04h00

Na segunda metade dos anos 2000, Lester Chen era conhecido pelo apelido "HokuM" e disputava torneios de "Halo 2" e "Halo 3" pelos EUA na Major League Gaming (MLG). Mais de uma década depois, Chen deixou o nome HokuM para trás e, hoje, é chefe de conteúdo para games no YouTube.

Durante a BGS 2019, o START conversou com o ex-pro-player que tenta fazer da plataforma de vídeos do Google um lugar atraente para os gamers.

Vida de Pro-Player

"League of Legends"? "Fortnite"? Pode esquecer. Nos anos 2000, o domínio era dos jogos de tiro em primeira pessoa (FPS). Entre eles, "Halo" havia se tornado um fenômeno tão grande nos EUA, que uma cena competitiva cresceu rapidamente.

Lester Chen Hokum - Reprodução - Reprodução
Hokum na época em que jogava Halo profisionalmente com o time 5K
Imagem: Reprodução

Foi nesse cenário que um adolescente chamado HoKuM se tornou um pro-player jogando no Xbox. "Halo, na época, era muito o que é Fortnite hoje, mas sem o dinheiro. Todo mundo jogava, especialmente nos EUA", conta Chen.

Dos 16 aos 20 anos, ele disputou alguns dos torneios no modo 4vs4 do multiplayer de "Halo 2" e "Halo 3" junto de times como 5K e Heaven and Earth, que hoje não existem mais. "Engraçado é que transmissões ao vivo não eram algo importante naquela época. YouTube era algo supernovo", comenta. Mal sabia ele que, alguns anos depois, seria o responsável pela área de games da plataforma.

"Eu parei (de jogar Halo profissionalmente) porque fiquei muito velho e queria terminar a faculdade. O dinheiro não estava lá na época. Hoje em dia os pro-players têm salário, patrocínio... eu só nasci uns quatro anos atrasado (risos)", lamenta.

Chen não é mais pro-player, mas como responsável por todo o segmento de games do YouTube, ele diz que agora precisa entender de vários jogos, e não mais de apenas um, como na época de "Halo". Segundo ele, é preciso saber identificar qual será o próximo game do momento.

Qual vai ser o próximo "Fortnite"? O que vai vir depois dos MOBAs e Battle Royale? São perguntas que ele se faz o tempo todo. "A parte mais difícil do meu trabalho é jogar todos os jogos, o que, devo dizer, é um ótimo problema de se ter (risos)", cometa.

Eu preciso ter uma visão mais ampliada e variada, de por que um game não está popular e entender se esse jogo pode ainda existir daqui um ano ou será grande só por um mês
Lester Chen, chefe de conteúdo de games do YouTube

Um exemplo claro disso é "Free Fire". O game mobile recentemente quebrou recorde no Brasil com mais de 700 mil pessoas assistindo à transmissão das finais da Pro League no YouTube. Isso vindo de um jogo que até pouco mais de um atrás "praticamente não existia", como ele fala.

YouTube Gaming

Em 2015 foi lançado o YouTube Gaming, uma plataforma de vídeos separada em que os jogadores poderiam consumir todo o conteúdo de games, desde youtubers com seus gameplays até transmissões ao vivo. Na época, ficou claro que essa era, pelo menos em parte, uma resposta do YouTube ao crescimento do Twitch e sua plataforma de streaming.

YouTube Gaming - Divulgação - Divulgação
YouTube Gaming era um aplicativo separado voltado só para conteúdos de jogos
Imagem: Divulgação

Poderia dar muito certo. Só que, em junho deste ano, a plataforma foi oficialmente encerrada, e muitos dos recursos incorporados ao YouTube. Mas, afinal, o que deu errado?

"O problema é que descobrimos que 90% dos usuários ainda iam para o YouTube para assistir conteúdos de games", responde Chen. "Então era como se estivéssemos competindo com nós mesmos, como fizemos o aplicativo e forçamos as pessoas a irem para dois lugares diferentes para assistirem as mesmas coisas".

Ele ainda diz que nem tudo foi ruim com o YouTube Gaming, que serviu como "bom terreno de testes". Ferramentas como o Superchat e o Clube de Canais foram criadas por lá e, após o aplicativo ser encerrado, foram incorporadas aos canais no YouTube.

Quando fechamos o YouTube Gaming, não estávamos matando livestreaming nem nosso interesse em games, só transmitimos muito do que aprendemos com ele e exportamos isso para uma audiência maior no YouTube
Lester Chen, chefe de conteúdo de games no YouTube

Livestreaming, por sinal, é algo que o YouTube vê como o próximo passo para a criação de conteúdo de sucesso para games, mas essas mudanças parecem fazer com que a empresa seja cautelosa em seus próximos passos.

Segundo Chen, o trabalho agora está em dar ferramentas para ajudar canais a monetizar seus conteúdos para além da publicidade. É por isso que Superchats e Clubes de Canais, dois recursos que existem de forma similar em concorrentes como o Twitch, são o foco. Mas será o suficiente?

"Não queremos nos afobar com relação a livestreaming e estamos aos poucos, um passo de cada vez, construindo nosso relacionamento com os streamers, e ferramentas para permitir que eles se deem bem", comenta Chen.

Enquanto trabalha para tornar o YouTube uma plataforma de games mais atraente para criadores de conteúdo, Chen ainda pensa em "Halo", mas sua relação com a série definitivamente mudou.

"Agora estou em uma posição em que preciso tomar cuidado com o que eu digo", começa. "(mas) acho que os novos Halo não são tão bons quanto eram antes (...) eu acho que os primeiros Halo estavam bem à frente do seu tempo, a comunidade era mais consolidada e tinha menos competição (de outros jogos)".

Se o mundo dos eSports parece ter perdido HokuM para sempre, pelo menos Chen agora pode fazer muito mais não só por "Halo", mas pelos mais 200 milhões de pessoas que consumem conteúdo de games todos os dias no YouTube.

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