Diablo IV busca inspirações em Junji Ito e Lovecraft para ser mais terror
O anúncio de "Diablo 4" durante a Blizzcon 2019 não foi exatamente uma surpresa, já que os rumores vinham se acumulando nos últimos anos. O que chamou atenção, porém, foi o visual mais sombrio e a promessa da Blizzard de um jogo mais assustador. Matt McDaid, artista principal em "Diablo IV", diz querer retomar as raízes góticas e acinzentadas da franquia, enaltecendo o trabalho feito em "Diablo" II".
Já em entrevista ao site VG247, Jason Roberts, designer de missões de Diablo IV, citou as principais inspirações: o escritor H.P. Lovecraft, que já tem sua cota de influência nos games, e o autor de mangás Junji Ito, conhecido por obras clássicas do terror como "Uzumaki" (não o Naruto) e "Tomie". Somando tudo isso, é seguro afirmar que o próximo "Diablo" parece um promissor jogo de terror.
Adaptar tantos monstros dos Mitos de Cthulhu ao formato, não só faz sentido por causa dos tentáculos, garras e dentes afiados como elementos proeminentes do vasto bestiário do Santuário, como é nada além de um casamento já consumado. Mas e com Junji Ito?
Como traduzir o horror contemporâneo de um dos mestres do terror japonês para os elementos medievais pelos quais a franquia da Blizzard é tão conhecida? Tenho algumas ideias.
A mulher-demônio
O trailer de anúncio de "Diablo IV" deixa claro que Lilith será a grande vilã de "Diablo IV". Na mitologia da série, ela é um dos demônios mais poderosos, filha de Mephisto, um dos irmãos de Diablo, e rainha das succubus.
A união dela com o arcanjo Inarius resultou em duas verdades absolutas e que mudaram para sempre a história do universo dos jogos: a criação do Santuário, e sua prole, sem precedentes e proibida, o Nefalem, híbrido de um anjo com um demônio, e também os antepassados da raça humana.
O horror de Lilith é de sedução e a submissão ao seu poder é inevitável. Por isso, é fácil traçar um paralelo dela com Tomie, protagonista da obra de mesmo nome de Junji Ito.
Tomie é uma mulher-demônio inserida na sociedade, uma succubus, assim como Lilith, mas cuja forma física arrebata a vida e rotina de seja lá quem cruzar por seu caminho. Ela seduz, incitando violência e conduzindo ao caos. É a forma estranha nascida de trevas, do proibido, introduzida ao mundano.
Tal mistura heterogênea sempre resulta em sangue e vísceras. Lilith seria Tomie posta num altar: Adorada, endeusada e, acima de tudo, temida.
Aberrações abissais
Outra obra bastante cultuada de Junji Ito é "Gyo", com suas aberrações abissais, onde cachalotes e tubarões invadem a sua sala de estar. Essas características também podem receber um significado especial pela equipe de arte em "Diablo IV" nos ambientes já revelados do game.
No reino dos Druidas, por exemplo, a natureza cobre algo tão antigo quanto ela própria, só que profano em essência. A estátua de Pazuzu, rei dos ventos, filho de Hanbi, entidade mesopotâmica (e também o diabo em "O Exorcista"), está tão em destaque, que nos faz pensar em seu real significado na mitologia de "Diablo".
Os pântanos, em outro dos reinos revelados, são decadentes, de certo a abrigar todo tipo de criatura vil. Assim como a pacata cidade de Kurozo-cho, onde a trama de "Uzumaki" (talvez a mais famosa obra de Ito) se desenrola, se transforma em um lugar absurdamente inóspito também.
As metamorfoses pelas quais passam os personagens e a cidade em si, podem servir a essa realidade ainda mais taciturna na qual "Diablo IV" faz questão de se inserir. O famoso subgênero do horror corporal, cultuado por gênios como David Cronenberg, e que influenciam Ito, pode também espiralar até para o papel de Lilith no Santuário do novo jogo.
Por todos esses indícios, é certeza esperar muito mais horrores e terror brutal vindos de "Diablo IV". Até por isso, é sempre bom lembrar: terror é crítica social e retrato de seu tempo. A Blizzard poderia assumir seus medos reais como pueril tentativa de redenção a certos acontecimentos recentes. O terror, tal qual Lilith, lhe estende a mão em momentos como esse.
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