Há algo de "Silent Hills" e "P.T." em "Death Stranding". O que não chega a ser surpresa, já que o criador Hideo Kojima seria o responsável pela revitalização da clássica série de terror antes de sair da Konami.
Em seu novo game, lançado recentemente para PlayStation 4, o terror do corredor em L da icônica demo foi traduzido para os Estados Unidos pós-apocalíptico através de criaturas sobrenaturais chamadas EPs (acrônimo para "entidade praiana", ou BT, "beached thing", no original). É o contato mais íntimo com elas que torna "Death Stranding" tão assustador em certos momentos, e até por isso você precisa de alguns guias para não fica perdido, como um glossário geral, segredos para dominar o jogo e alguns conselhos para fazer entregas mais rapidamente.
O encontro com os EPs mostra como os sobreviventes estão vulneráveis perante entidades sobrenaturais que, quando em contato com seres humanos vivos e mortos, causam cataclismas de proporções irreversíveis.
As EPs vagam entre o mundo dos vivos e dos mortos, conectadas por um cordão umbilical às suas praias, que nada mais são que mundos particulares, consciências. O protagonista Sam (Norman Reedus), quando capturado, consegue retornar desse limbo, por assim dizer, numa experiência de pós-morte tão traumatizante quanto arrebatadora.
Ciclo de vida e morte
EPs são aterradoras, flutuando alguns metros acima da superfície, como uma nuvem de fumaça de substância quiral, perdidas e enraivecidas. Quando na condição de vigia e busca por aquilo que é vivo, apresentam forma humanoide, quase como um vulto, uma aparição.
Qualquer tipo de som emitido atrai sua atenção. Prender a respiração e esgueirar-se o mais cuidadosamente possível pode evitar o contato avassalador. Mas por quanto tempo? Por que adiar o inevitável? A asfixia voluntária é só um sinal, assim como a crença no filtro dos sonhos.
A palma de suas mãos, a marca deixada para trás neste mundo decadente, e o sussurro cheio de dor e sofrimento refletem apenas o quanto o amanhã não está em suas mãos, pois o agora é condenação.
A vegetação cresce, amadurece e morre ao redor de Sam, como pueril aviso de tudo aquilo que está por vir. Apesar de o esforço ser real, assim como as conexões criadas e mantidas, o ontem é nada e o amanhã é morte.
A praia, o verdadeiro abismo
Antes de Sam começar sua jornada para fazer dos EUA um país unidos de novo que vivenciamos no game, uma EP foi derrotada. A presença das entidades, carregadas de chuvas temporais, cujo mensageiro da morte é o arco-íris invertido, fez dos sobreviventes, reclusos, isolados em suas próprias existências, em seus próprios nós. Evitar uma EP a todo custo tornou-se a máxima desse novo mundo.
Novas síndromes passaram a surgir - o medo da reclusão é tão grande quanto o das EPs?
Sam precisa confrontar a ameaça para realizar entregas. Não há como contornar o problema. Numa dessas afrontas, a descoberta revolucionária: seu sangue é capaz de extinguir a existência de uma EP neste lado.
O sangue de alguém repatriado como Sam, que pode voltar à vida depois de "morrer", é uma arma letal para entidades que residem entre vida e morte. A razão é tão obscura quanto a presença desses seres, mas a verdade atual é absoluta: ainda há esperanças, razões para continuar.
No entanto, é só quando a entidade praiana revela sua verdadeira forma que é possível ter dimensão real da catástrofe iminente. A silhueta humanoide revela-se um ser abissal, saído diretamente das profundezas do oceano mais escuro, mais inóspito e inalcançável.
Exatamente como profetizou Lovecraft com seus Antigos, congênitos de sonhos febris, nascidos do medo da realidade inevitável, colossos com dedos de fibras quirais, lulas gigantes e quadrúpedes mascarados (caçadores, observadores e apanhadores) põem fim à natureza resistente e corajosa, obliterando toda forma de existência com o mero contato.
E apenas sangue pode acabar com esse pesadelo da nova vida, da realidade tão cruel quanto a necessidade de "curtidas", de "aceitação". Escapar por entre os dedos da morte, ser condecorado com o joinha do BB e até de um Odradek, uma coisa inanimada, faz, por ora, o sorriso doentio do Gato de Cheshire estampado no arco-íris invertido.
Esse é só mais um dia na vida de Sam Porter Bridges, e muitas entregas ainda precisam ser feitas.
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