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OPINIÃO

Life is Strange 2 é uma aventura necessária e sem medo de ser política

Assim como o primeiro jogo, Life is Strange 2 foi dividido em episódios - Divulgação
Assim como o primeiro jogo, Life is Strange 2 foi dividido em episódios
Imagem: Divulgação

Makson Lima

Colaboração para o START

08/12/2019 04h00

"Life is Strange" fez um sucesso até que inesperado em 2015, com uma narrativa cheia de momentos emblemáticos e reviravoltas. Agora, com o lançamento do quinto e último episódio de "Life is Strange 2", é bastante perceptível o quanto a continuação, infelizmente, não atingiu tanto assim o público.

E o infelizmente vem com ênfase, pois a jornada de Sean e Daniel por um Estados Unidos atual, tem discurso bem mais politizado do que aquele visto na trama de Max Caulfield, vociferando problemáticas e se preocupando em passar uma importante mensagem contra o racismo e o fanatismo religioso.

Na Natureza Selvagem

Foi no final de setembro do 2018 que conhecemos a família Diaz. Sean, um adolescente com seus 15 anos, seu irmão mais novo, Daniel e o pai, Esteban, imigrante mexicano levando a vida na honestidade, criando seus dois filhos sozinho, sem presença materna - o divórcio aconteceu pouco depois de Daniel nascer, há 8 anos.

Life is Strange 2 irmaos - Divulgação - Divulgação
Os irmãos Daniel e Sean são os protagonistas do game
Imagem: Divulgação

Apesar da atualização na engine, "Life is Strange 2" segue os passos de seu antecessor quanto a direção artística, condução de narrativa e gameplay. Trata-se de um adventure bastante simplificado, onde tomada de decisão exerce real peso no desenrolar da trama (ainda que em momentos pontuais, mas com diferentes desfechos) e gráficos expressivos, condizentes com a perspectiva de adolescentes envoltos numa situação excepcional.

E tudo vai cotidianamente bem, até que não mais, e os encontros e desencontros colocam os irmãos em fuga.

Esse é meu país, sim!

"Sai do meu país". "Sua família vai ser toda presa". Essas são algumas frases ditas pelo vizinho a Sean. Não são nem 20 minutos do primeiro episódio e o tom e densidade da narrativa já são postos à mesa.

O que tem início como uma briga de adolescentes na rua de casa, escalona para caminhos absurdamente tortuosos, onde etnia e cor de pele, ditam a forma como o indivíduo é tratado.

"Life is Strange 2" assume riscos, lados, se tornando muito mais vocal e importante ao atual momento social e político no qual o mundo se encontra, ainda mais quando consideramos a covardia de grandes produtoras de videogames e seus produtos milionários publicados em tempos de cólera.

É sempre de extrema responsabilidade reforçar valores que deveriam ser básicos, como respeito ao próximo, altruísmo e compaixão, e "Life is Strange 2" faz isso, por vezes de forma dicotômica até demais, mas a mensagem está lá.

Seja na forma como aborda fanatismo religioso, sexualidade e, em especial, racismo, o jogo se torna obrigatório às novas audiências, por vezes já condicionadas a enxergarem videogame como exercício competitivo puro e simples. Convidar ao debate, ao diálogo, a reflexão e a novas perspectivas, é sempre muitíssimo válido.

Uma matilha de dois

A relação dos irmãos Diaz parte do que já havia sido construído antes do tempo de jogo, com atitudes corroborando ou, então, ramificando para novas possibilidades. Seus poderes serão utilizados de forma altruísta, ou mais individualista? O comportamento de Sean é espelho às reações de Daniel, e isso fica mais e mais claro conforme se distanciam de casa, da sua antiga vida.

A estrada é cheia de obstáculos, de gente cruel, mas também de pessoas com coração generoso. Por vezes, não é fácil saber distinguir. Quando o destino final é turvo - retomar o contato com os avós? Ir até a cidade natal do pai, no México? Por onde anda a mãe de Daniel e Sean, pela qual o irmão mais velho aprendeu a nutrir um ódio incondicional? - os conflitos são constantes.

Foi uma decisão acertada do roteiro colocar Daniel como que controlado por uma IA oscilante, bastante mutável dado o momento, com Sean, mais experiente, a mando de quem joga. E a dublagem, absurdamente boa (e com textos traduzidos competentemente ao nosso idioma), dá ainda mais credibilidade ao roteiro que pode, sim, soar contextualizado, por vezes, com o efeito "deus ex machina" atuando, mas se provando uma real evolução ao jogo anterior.

Ainda mais quando minha maior rusga com relação ao primeiro "Life is Strange" (e, por consequência, preferindo "Before the Storm"), é todo aspecto sobrenatural do roteiro, dos poderes de seus protagonistas. Max voltava no tempo a sua vontade, já Daniel, manifesta telecinésia, controlando matéria com a força da mente.

Life is Strange 2 poderes - Divulgação - Divulgação
Os poderes de Daniel são decisivos ao roteiro
Imagem: Divulgação

Mantenho a problemática, mas aqui a coisa toda é contextualizada de uma forma melhor, funcionando como questão central entre o crescimento precoce de ambos diante mudanças drásticas e traumáticas pelas quais passam.

Ainda considero corajosa a decisão de colocar como encerrada a história de Max e Chloe, personagens imensamente populares do primeiro "Life is Strange", com outros adolescentes, em outra realidade, nos holofotes dessa vez.

Em muitos sentidos "Life is Strange 2" é uma evolução do primeiro jogo, principalmente ao abordar temáticas mais delicadas e que conversam tanto com o atual momento em que vivemos.

Life is Strange 2 box art - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Lançamento: episódio 1 - 27/09/2018; episódio 5 - 03/12/2019
Plataforma: PC (Steam), PS4, Xbox One
Preço sugerido: R$ 120 (Steam), R$124 (Xbox Marketplace), R$124,90 (PS Store)
Classificação indicativa: 18 anos - violência, drogas, conteúdo sexual
Desenvolvimento: Dontnod Entertainment
Publicação: Square Enix

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL